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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

LIMITE, DE MÁRIO PEIXOTO

A obra prima desconhecida inteirinha aqui no computador de quem se dispuser a acessar o blog.

Como muito poucos viram Limite, apresento acima o filme completo com uma hora, 56 minutos e 18 segundos. Há um pequeno defeito no início da exibição, mas basta adiantar um pouco. Falta apenas uma cena que nenhuma falta faz.
Todos, em Mangaratiba, já ouvimos falar de Mário Peixoto. Sabemos que ele realizou um filme considerado, por alguns diretores, como o melhor filme brasileiro de todos os tempos.
Não é bem assim. Na verdade, o seu “making of” é muito melhor e mais importante que o filme.
Mário Peixoto e seu fotógrafo Edgar Brazil, com sua inventividade e talento, criaram técnicas de fotografia e inventaram meios de filmagens que foram uma ousada inovação para a época. Revolucionaram a cinematografia mundial com malabarismos de câmera de uma forma artesanal sem os recursos técnicos que somente muito mais tarde foram introduzidos.
Foram invenções extraordinárias para a época, por exemplo, a grua para elevar a câmera e o carrinho para levá-la imóvel acompanhando o casal pela praia. Limite é o imaginário de Mario Peixoto transformado em filme pela criatividade de Edgard Brazil. É também uma nova linguagem cinematográfica, metafórica, que abusa do fade in e fade out.
Não é cinema para o espectador comum que precisa atingir o limite de sua capacidade de compreensão para tentar entendê-lo. É filme para os cinéfilos mais aplicados nos estudos cinematográficos. É cinema para os iniciados na sétima arte.
Como afirmou o cineasta Arnaldo Jabour: «Mário é um poeta que não se contenta com a metáfora, quer mais, mais, mais longe, quer filmar a essência, filmar o ar, e consegue: por isso o filme fica em estado de roteiro, que é quando a câmera não surgiu ainda com seus ruídos e limites e o roteiro é a metáfora da metáfora, o plano de trabalho, a antecena, a esperança da imagem, a luz sem forma. A forma limita. A forma é sonho grego. E Mário é pré-helênico, é louco, é feto, não tem nada a ver com estes praxiteles ou algo assim
Talvez Limite tenha sido o primeiro filme a mostrar as pernas de uma mulher até quase a calcinha. Mas não pense que é um filme erótico. Muito menos é um filme de amor e paixão. É um filme nostálgico com personagens angustiados e uma câmera atormentada que é a figura principal do roteiro.
A definição de Mário Peixoto para ele próprio e para o filme talvez ajude na sua compreensão: “A realidade para mim não tem importância, não me modifica, não adianta, o que hei de fazer? A imaginação sim, substitui tudo e convence. É só o que existe para mim... É questão de sentir ou não sentir... Eu sofro uma dor física, mas isso não impede que eu viva fora da realidade... O que eu quis provar em Limite é que o tempo não existe. Acho que consegui”.
Cultuado como obra se arte maravilhosa, é necessário ultrapassar o limite da compreensão para entendê-lo. Digamos que é a historia do inútil de cada um dos personagens.
Quando assistir ao filme, tente ver o seu espectro autista. Tente imaginar o que Mário Peixoto concebeu com o seu roteiro e linguagem quase incompreensíveis. Pense que aqueles angustiados personagens na canoa à deriva em alto mar estão à espera da morte inexorável e que tudo aquilo que ocorre em terra firme são lembranças de sua atormentada vida.
Saiba ainda que o homem do cemitério que está sentado no túmulo manuseando uma aliança e que mereceu a única legenda do filme é o próprio Mário Peixoto com 22 anos.
Ele diz para o outro homem que levou uma flor para o mesmo túmulo: “Você vem da casa da mulher que não é sua” – e continua, apontando para o túmulo – “supondo que ela seja minha como esta foi sua e lhe disser que ela é morfética?”

3 comentários:

leila disse...

Saudades...

Sou mais simples e menos intensa...não gosto destas dficuldades todas para se ver um filme.

E imaginação é tão particular e individual que não dá para se imaginar através de outros....

É que sou bem simples e prática... me levem a imaginar, mas não me façam imaginar a imaginação alheia!

LACERDA disse...

Leila, não é cinema para nós que não somos iniciados na sétima arte.
Já vi Limite três vezes. Tentei me sensibilizar com o filme e não consegui. Perdoem minha falta de sensibilidade.
Diz meu filho que "Limite dá sono, muito sono, mas é muito bom!!! É uma aula de fotografia, além de provocar uma nostalgia maravilhosa".
Ele é um amante da fotografia.

Fábio Ribeiro Corrêa disse...

Deve ser seu quinto comentário sobre Limite e o mais condescendente de todos, se não elogioso. Tá mudando de opinião ou passou a compreender o quê de louvável existe ali?