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quinta-feira, 13 de junho de 2013

SEQUELAS DA POBREZA

Quem um dia foi tão pobre quanto eu fui, levará para o resto de sua vida algumas sequelas incuráveis. Não falo de sintomas de pobreza, aqueles apresentados pelo cara que quer parecer rico e que todos logo percebem. Falo das sequelas que nos perseguem mesmo depois que deixamos de ser pobres.
A pobreza, como qualquer doença grave, sempre deixa sequelas. A criatura melhora de vida, adquire novos hábitos, mas mantém aqueles adquiridos quando era pobre. São as sequelas da pobreza que somente o próprio e os mais íntimos têm conhecimento.
Por exemplo, quem nasceu em berço de ouro jamais sentirá a necessidade de se abaixar na rua pra pegar uma moeda de cinco centavos. Jamais utilizará o coador de café de papel por mais de uma vez. Não vai guardar para o jantar o guardanapo usado no almoço.
Quem nasceu rico nunca vai guardar o sabonete usado já fininho para juntar com o próximo e com o terceiro e o quarto para compor um novo sabonete.
Todas estas sequelas permaneceram comigo. Porém, há outras que não me perseguem como as seguintes.
Quem já foi pobre na vida – e não é mais - não sabe comer sem feijão. Almoça feijão até em restaurante de comida a quilo. Sai da festa de aniversário levando um pedaço de bolo e alguns docinhos. Está sempre com dinheiro no bolso. Acorda bem cedo e toma banho frio. Bebe água e cerveja em copo de requeijão. Põe fogo na ponta da esferográfica pra ver se ela volta a escrever. Põe água pra gelar em garrafa pet. Compra a prazo, pagando juros elevados, mesmo se puder pagar a vista. Está sempre estourando o cartão de crédito. É incapaz de pechinchar pois acha que pode parecer que é pobre, mas vive ligando a cobrar pelo celular.
Considero como a pior de todas as sequelas da pobreza o sujeito bem de vida convidar para a festa de seu aniversário e pedir aos amigos pra levar a cerveja.
Aqui em Muriqui, nunca fui convidado para uma festa sem que tivesse de levar a cerveja. E é por isso que nunca vou.

Um comentário:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Curioso mas alguns antigos hábitos de pobre seriam até ecológicos enquanto outros não. Saudades tenho do tempo em que o vasilhame do refrigerante era guardado debaixo do tanque para trocarmos na padaria.