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quinta-feira, 8 de maio de 2014

ATIREI O PAU NO GATO-TÔ

Mas o gato-tô não morreu-reu-reu.
Pequenininho, eu aprendi a cantar esta musiquinha infantil. Mas, nunca atirei um pau, nem pedra, nem dei porrada em nenhum gato. Aliás, aprendi a gostar de gatos. Até tive alguns. Sou humano. Meus pais - embora pobres e autodidatas que muito pouco frequentaram a escola - me educaram e impuseram limites.
Os agressores da dona de casa que morreu a pauladas, chutes e pedradas no Guarujá, porém, são desumanos bestiais oriundos da latrina virtual que é o feissibuque – a cloaca da net – que faz a apologia ao ódio contra o seu semelhante. Talvez, alguns deles até gostem de gatos. Outros atiraram muitas pedras em gatos. Agora, agridem mulheres até a morte.
Quanto mais os conheço – aqueles que reproduzem e compartilham os mais absurdos boatos e fofocas - mais admiro os que são anonimamente acusados de todas as mazelas que aqueles inventam.
“Boatos rolam na praia do Pernambuco, Maré mansa, Vila Rã e Areião, que uma mulher está raptando crianças para realizar magia negra... Se é verdade ou não devemos ficar alerta.”
Começou assim no feissibuque, o roteiro que terminou com o linchamento que durou duas horas da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, 33 anos, casada, dois filhos, católica, confundida com a suposta seqüestradora.
A mensagem e o retrato falado foram publicados na página Guarujá Alerta que tem 54 mil seguidores no feissibuque. A página arvora-se como um espaço para “fatos, acontecimentos, notícias, reclamações e sugestões de moradores e turistas do Guarujá”.
O retrato falado da seqüestradora de uma criança no Rio foi feito em agosto de 2012. Na ocasião da ocorrência, em que a criança foi recuperada, a vítima informou à polícia que “a autora era negra, forte, tinha cerca de 1,60m e aproximadamente 25 anos”. A mulher agredida, porém, era branca, magra e tinha descolorido recentemente os cabelos.
O boato se espalhou rapidamente e, de imediato, conseguiu 139 comentários e 765 compartilhamentos da escória da sociedade travestida de gente honesta e temente a Deus.
“Se vier pro Morrinhos vai tomar só rajada essa cachorra” – comentou um – “Mata essa filha da puta. Sem dó” – comentou outro.
Um agressor foi preso e disse que "Também tenho filho, achei que fosse verdade". São o tipo de imbecis que acreditam em tudo que é publicado no feissibuque. Ou na imprensa.
Quem divulga o ódio e a violência gera mais violência e reproduz o ódio em escala ainda mais elevada. Não somente o feissibuque, mas também os Datenas diariamente na TV semeiam a discórdia e insuflam a raiva e o ressentimento nas comunidades. Repetindo à exaustão as cenas de barbarismo, a TV banaliza a violência e contribui para a reprodução dos crimes e linchamentos.
Atualmente, no momento em que o tráfico tenta retomar o seu reinado na Rocinha, no Alemão e nos Macacos, os canalhas da TV – em aliança espúria e implícita com os criminosos - combatem as UPPs e as ações policiais.
Nos últimos 12 meses, a prática justiceira que se espalha pelo país fez seis vítimas de linchamentos.
Para eles, e para O Globo, a culpa é dos políticos, da Dilma e do PT.

4 comentários:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Os agressores de Fabiane, movidos pelo ódio, executaram brutalmente uma mulher mãe de família sem que ela tivesse direito a um julgamento justo com contraditório e ampla defesa. As pessoas que amarraram seus pés e a golpearam deram-lhe um torturante destino que o nosso ordenamento jurídico de modo algum admite como pena. Pois nem os piores bandidos podem sofrer castigos corporais ou serem sentenciados à morte por expressa vedação constitucional.

Sem dúvida que esses comportamentos são histericamente motivados pela mídia, sobretudo a televisiva. Os Datenas da vida! Embora nenhum jornal policial incentive diretamente a sociedade a praticar atos desse tipo, eis que a maneira como são noticiados os revoltantes crimes hediondos faz com que o cidadão não espere pelas desacreditadas instituições estatais e resolva fazer (in)justiça com as próprias mãos. E isto ainda recebe uma forte contribuição do heroísmo dos filmes onde os personagens tomam a iniciativa de perseguir bandidos por sua conta e risco. Então, com o poder de divulgação das redes sociais de internet, o problema torna-se mais ainda potencializado.

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Falando em feissibuque, dê uma lida no artigo postado hoje no blogue da Confraria dos Pensadores Fora da Gaiola:

Sobre o Abandono dos Blogs

http://cpfg.blogspot.com.br/2014/05/sobre-o-abandono-dos-blogs.html

Como é que vamos lidar com os buracos negros das redes sociais?

LACERDA disse...

Já tinha lido e não concordei com ela. Eu escrevo para mim mesmo e para pessoas como você. Não existem muitas pessoas assim. Não me importa e não é por isso que vou migrar para o feissibuque. Meu blog é de opinião, não é um blog de fofocas. Aqueles que migraram - e sinto falta deles - têm seus motivos políticos.

Eduardo,o imbecil. disse...

Onde estava o ESTADO durante as DUAS HORAS(repito :DUAS HORAS!)qua ela foi massacrada?????????? Insuportável esta ausência oficial.Não estou fazendo gênero.Isto me tocou profundamente.