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terça-feira, 3 de setembro de 2013

REMÉDIO AMARGO

Publicitário, ex-piloto da RAF, e autor também de bestsellers como Hotel e Aeroporto, Arthur Hailey escreveu Remédio Amargo, uma trama de intriga e suspense lançado no início dos anos 80.
Conta a história de uma mulher dividida entre a ética, o lucro e seus amores: o amor pelo fascinante mundo da indústria farmacêutica, com seu enorme poder para o bem e seu terrível potencial para o mal; e seu amor pelo médico gentil e resoluto que é seu igual e parceiro em todas as coisas.
Celia Jordan é uma heroína dos tempos modernos que ascende à presidência de uma gigantesca companhia farmacêutica que está prestes a lançar um novo e milagroso medicamento que combate o enjôo matutino de mulheres grávidas e promete salvar a companhia da falência.
Entretanto, as pesquisas comprovam que o remédio provoca o mesmo efeito da Talidomida, droga que nos anos 60 provocou o nascimento de bebês deformados. É aí que começa o dilema da executiva, uma mulher dividida entre a ética, o lucro e várias paixões.
Logo que foi lançado no Brasil, eu li o livro que atualmente só é encontrado nos sebos.
Naquela época, eu era gerente de marketing de um grande laboratório farmacêutico multinacional. Viajava com muitos médicos – geralmente professores e/ou formadores de opinião - para congressos e seminários nacionais e internacionais por nós patrocinados para promover novos medicamentos.
Sempre soubemos que o médico adora medicamentos novos e, porisso, vivíamos a ânsia de lançar novos produtos. Testes financiados pelo governo americano, às vezes, descobrem que remédios antigos são melhores do que os novos. A indústria nunca vai financiar esse tipo de estudo. Nem interessa aos médicos. Novos médicos preferem receitar novos remédios.
Por outro lado, promover um novo medicamento é muito mais do que divulgar seus benefícios, é também divulgar informações negativas e secundarismos dos concorrentes e dos remédios antigos.
O prof. Dr. Agostinho Betarello – um dos médicos que cuidaram de Tancredo Neves – certa vez, me disse que “Jamais serei o primeiro a aceitar o novo nem o último a abandonar o medicamento antigo”.
Lembro também de um colega de trabalho, ex-seminarista, que dizia: “No dia do juízo final, nós vamos pagar pelos pecados que cometemos promovendo remédios para quem não precisa. Metade dos doentes se curam naturalmente sem médicos e sem remédios; 30 % se curam apesar dos médicos e dos remédios; 10% deles precisam do médico, mas não dos remédios; outros 10% precisam de médicos e de remédios, mas uma parte vai partir desta para melhor mesmo com médicos e remédios. A nossa vantagem é que poucos sabem quem é quem”.
E os que sabem, sempre receitarão no mínimo três medicamentos para qualquer que seja a doença. Se não, os pacientes não ficarão satisfeitos. É o resultado do marketing dos laboratórios farmacêuticos.
A Dra. Adriane Fugh-Berman, formada pela escola de medicina da Universidade Georgetown, autora de vários livros sobre medicina alternativa e a cura natural, deu uma ótima entrevista ao blog Viomundo (AQUI) que merece ser lida pelos hipocondríacos, aqueles que eu chamo de doentios.
Na entrevista, a Dra. Adriane expõe as atuais práticas de marketing da indústria e os métodos empregados para influenciar a prescrição de medicamentos, afirmando que “Existe um número maior de pessoas saudáveis do que de pessoas doentes no mundo e é importante para a indústria fazer com que as pessoas que são totalmente saudáveis pensem que são doentes. Existem muitas maneiras de se fazer isso”.
Pelo que li, vejo que nada mudou.

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