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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

FERNANDA MONTENEGRO e MACHADO DE ASSIS

Sempre que ouço falar de um, a minha iconoclastia me faz lembrar do outro. E vice-versa.
Basta ler duas ou três páginas de qualquer livro escrito por Machado para conhecer toda a entediante obra deste chato que é o ícone da literatura brasileira. Assim como basta assistir uma única interpretação de Fernanda Montenegro, considerada a grande dama do teatro nacional, para conhecer toda a atuação da atriz.
Neste final de ano, assisti ao especial da TV Globo – “Doce de Mãe” – com ela no papel principal. Quis assistir para tentar mudar minha opinião sobre a atriz, queria ver talento em sua interpretação.
Vi, como sempre, Fernanda Montenegro interpretando Fernanda Montenegro. Como mudar de opinião se ela própria é sempre ela mesma.
Mas, ela foi indicada para o Oscar de melhor atriz estrangeira com o filme “Central do Brasil”, diriam alguns incautos. Ora, ninguém melhor do que ela para interpretar Fernanda Montenegro com perfeição. Os críticos americanos não a conheciam e a indicaram pela interpretação perfeita.
Em “Doce de Mãe”, ela foi a mesma de “Central do Brasil”, com a mesma cara sombria, o mesmo semblante melancólico, a mesma fisionomia inexpressiva, a mesma voz e dicção sem clareza. Duvido que alguém tenha compreendido tudo o que disse o seu personagem.
Na única chance que teve para fazer uma interpretação convincente – isto é, quando ficou bêbada – ela surge desmaiada. Sabemos que ela está bêbada porque os outros dizem. A grande dama foi perfeita ao interpretar uma bêbada desmaiada. Bastou deitar e fechar os olhos.
No elenco tivemos um grande ator de fato: Matheus Natchergale. Este se transforma em inúmeros personagens como o João Grilo em “O Auto da Compadecida”. Em “Doce de Mãe”, ele interpretou um gay que finge não ser e pensa que ninguém sabe que é. Logo que aparece na trama, vi que ele era exatamente isto, não foi preciso que outros declarassem o fato.
Atriz carismática, dicção perfeita, com sensibilidade e talento para interpretar qualquer personagem é Dira Paes, 43 anos, que ainda não foi consagrada pela mídia nem pela crítica que exalta a Montenegro. Poucos sabem de quem se trata porque em cada interpretação ela é alguém diferente. A Dira Paes só existe nos “slides” de apresentação dos filmes e novelas. Dira Paes nunca interpreta Dira Paes.
Ela estreou no cinema, aos 15 anos, em um filme americano – The Emerald Forest – de John Boorman. No cinema, como atriz dramática, foi a mãe de “Os 2 Filhos de Francisco” e a Dadá de “Corisco e Dadá”, entre muitos outros; na TV, como atriz cômica, foi “A Diarista” e a tentadora Norminha – “você não vale nada, mas eu gosto de você” - na novela “Caminho das Índias”.
Além de excelente atriz, Dira Paes é uma intelectual que combina excepcional talento com notável beleza. Mas ainda não é uma queridinha da mídia - nem sei se será um dia - como a Fernanda Montenegro, o Machado de Assis e o Zeca Pagodinho.

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