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sábado, 16 de agosto de 2014

SETENTA E SETE ANOS

São anos pra cacete à beça e eu aqui lembrando dos meus sete aninhos. Era um tempo de espinhela caída, pulso aberto, rezadeiras. Tempo de pião e bola de gude. Tempo em que tio e tia eram irmãos dos pais.
A guerra mundial caminhava para o fim, mas ainda era tempo de blecaute. Quando a sirene soava insistente, e estridente, eu ficava alarmado. Bangu inteiro ouvia a sirene. Era a ordem para apagar todas as luzes e permanecer dentro de casa.
Diziam-me que era para que os aviões inimigos não identificassem as áreas urbanas. Eu acreditava, e sempre ficava aguardando a explosão de uma bomba sobre uma casa que não tivesse apagado as luzes.
Vivíamos uma época de terror e tremíamos só de ouvir a vinheta do Repórter Esso no rádio sempre ligado e sempre com as piores notícias. Alegria somente quando Eron Domingues anunciou o fim da guerra. Saí correndo pela rua Fonseca, gritando de felicidade como se a guerra tivesse me causado algum transtorno.
Também era tempo de carnaval. Carnaval mesmo. E aquela guerra me trouxe também a alegria de ver um bloco de carnaval entrar na minha casa. Pra mim, pequenino, era uma alegoria imensa, uma cobra que não tinha tamanho.
Quando o bloco saiu, eu fui junto cantando “Olha a cobra fumando, olha a cobra fumando, olha a cobra pessoal”Meu pai deu por falta de mim e foi atrás do bloco. Encontrou-me na Cônego Vasconcelos, atrás da igreja de São Sebastião e Santa Cecília. Ainda lembro da bronca que recebi.
Lembro também das brincadeiras com minhas primas que meus pais criavam.
Ah! Que primas... Zizi, Niete e Quiquinha era como as chamava desde que aprendi a falar. Tinham cerca de 13 a 15 anos e me introduziram em seu universo lascivo.
Meus pais não sabiam daquelas gostosas brincadeiras nas quais fui vítima de assédio sexual. Pois é! Fui molestado desde a mais tenra infância.
Ah! como eu gostava quando a Niete me dava banho. Ela abusava de mim e eu adorava aquela prima pedófila.
Minha mãe nunca desconfiou daquela criança que gostava tanto de tomar banho. Até que um dia, meu pai – talvez, sabendo do que ocorria - devolveu duas para a casa dos seus pais. Foi o dia mais infeliz da minha infância quando vi Niete partir.
Lembro ainda da mangueira carregada e do galinheiro aonde, todas as manhãs, ia procurar ovos no ninho. Lembro do meu gato Philco - como o rádio das notícias terríveis - e do meu cachorro Rex. Naquele tempo, todo cachorro era Rex.
Hoje, 70 anos depois, tenho o orgulho de ser um dos responsáveis pelo elevado IDH de Mangaratiba. O físico já não mais ajuda tanto, mas o cérebro permanece em perfeito estado. Estado da arte.
Há muito que ultrapassei o prazo de validade de um brasileiro comum, mas continuo fumando, comendo e bebendo de tudo.
Sou agora um mandrião convicto, vagabundo e preguiçoso como um Macunaíma branco, mas com algum caráter. Sou agora um elemento nocivo para as finanças do INSS. Tornei-me, também, um gozador irreverente, sarcástico e, muitas vezes, mal compreendido. Há até quem diga que sou um ser humano quase desagradável. Eu diria quase humano também.
Jamais fiz, porém, o discurso radical e negativista neste humilde blog. Aqui podem-se encontrar apenas críticas duras, implacáveis, eventualmente até injustas, talvez, mas sempre com fundamentos racionais. Nada que seja escrito com má fé.
Sigo de bem com a vida, como sempre. Bem resolvido e sempre com a amizade do Todo-Poderoso Que Se amarra em mim.

2 comentários:

Eduardo,o imbecil disse...

Confesso que adorei sua crônica(posso chamar assim?)pela leveza despretenciosa e irreverente Quanto à sanidade mental,tenho minhas dúvidas.Ironia é arma e defesa juntas.Millôr Fernandes foium craque nisso.Seriedade e respeito são atributos de pessoas sérias,respeitosas e...chatas.Pretenciosas também.Nada é sério,com exceção dos arrogantes presunçosos,e decentes.Como eu.

Eduardo,o imbecil disse...

O politicamente correto é hemeticame nte saudável e emagrecedor.Eu recomendo.