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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

IMAGINA NA COPA (2)

Fico feliz e orgulhoso quando gente inteligente concorda com minhas opiniões como os comentaristas da penúltima postagem que fiz sobre a predestinação e o livre-arbítrio.
Claro que fico feliz também quando gente inteligente discorda e pode gerar uma saudável polêmica.
Fiquei ainda mais feliz no domingo quando li o que Fábio Porchat escreveu no Estadão (AQUI). Exatamente o que tenho defendido neste humilde blog.
“E o brasileiro adora menosprezar o Brasil. O aeroporto de Guarulhos é um lixo? É. Mas ficar uma hora esperando a bagagem chegar eu também fiquei em Paris e em Nova York. A escada rolante do aeroporto parada e em manutenção eu também encontrei em Lisboa. Pessoas esparramadas no chão dormindo pelo saguão da sala de embarque? Foi o que eu vi em Dubai. Claro que um erro não justifica o outro, mas é assim em toda cidade grande no mundo. As coisas dão errado.
Mas, em Paris, eu não vi nenhum brasileiro mandando um "imagina na Copa". É porque lá fora é primeiro mundo, né? Outro dia passando pelo detector de metais no Galeão, uma mulher, que teve que tirar o sapato porque tinha mais metal nele do que numa armadura medieval, falava em alto e bom som que só no Brasil mesmo para ela ter que passar por essa vergonha. Paisinho de merda. Eu não desejo a ela uma singela viagem pra Miami. Ela praticamente vai ter que tirar o DIU no aeroporto de lá.”
Pois foi no aeroporto de Miami que tive de dormir, durante horas, quase toda a madrugada, naquele chão frio, tendo a mala como travesseiro. Imagina na Copa.
Em Nova York, vindo do México, após longa espera pela minha bagagem, o guarda aduaneiro, um cara dobrado, me perguntou se estava trazendo algo de comer ou algum presente para amigos americanos. Disse que não. Ele esmiuçou minha mala, espalhou tudo na bancada. Encontrou um saquinho de balas e uma peça de artesanato mexicano.
“Pra quem é isto?” – perguntou com rispidez apontando para um prato de cerâmica com o calendário azteca. “É pra minha mulher, lembrança que ganhei de um amigo mexicano” – respondi.
E segurando o saco de balas, perguntou: “E isto aqui, não é pra comer?”.
Com o sarcasmo que me é peculiar, disse-lhe: “Não, é pra chupar”.
Pra quê? O cara quase dobrou de tamanho, babando de ódio, ficou esverdeado como o Hulk, apreendeu minhas balas como se contrabando fosse, embolou minhas roupas como se fosse lixo, jogou sobre a mala e ordenou como quem espanta um cachorro: “Get out, get out”.
A educação e o senso de humor, definitivamente, não são virtudes da akfândega americana. Imagina na Copa.
Pra compensar o infortúnio, estava no aeroporto de Buenos Aires aguardando, com minha mulher e meu filho de dez anos, o voo que me traria pra casa quando me chamaram pelo alto-falante.
Compareci ao balcão da Aerolíneas Argentinas e uma simpática funcionária me perguntou: “Estamos precisando de três lugares na classe econômica, o senhor e sua família se incomodariam de viajar na primeira classe?”.
Tomamos champanhe ainda em terra. No ar, comemos do bom e do melhor, encheram meu filho de presentes. E minha mulher ganhou uma nécessaire com perfume francês.
Nesse dia, pensei que a Argentina fosse aquele país imaginário dos brasileiros vira-latas que têm a ilusão da utopia.

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