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quarta-feira, 6 de março de 2013

ENTRE SEM BATER


Acabei de ler as quase 500 páginas da biografia de Apparício Torelly, o Barão de Itararé. Fui lendo aos poucos com muita pena de chegar ao final. O autor do livro Entre sem bater – Cláudio Figueiredo – escreveu mais que uma biografia. Na verdade, ele fez um documentário da vida social, política e jornalística do Brasil, nos anos 20, 30 e 40, tendo como cenário o Rio de Janeiro e o Barão como personagem principal.
Entre os atores coadjuvantes encontramos Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Oswald Andrade, Di Cavalcanti, Cândido Portinari, Manuel Bandeira, Getúlio Vargas, Luiz Carlos Prestes, Sobral Pinto, Osvaldo Aranha, Rubem Braga, Graciliano Ramos, Carlos Lacerda, José Lins do Rego, Irineu Marinho, Mário Rodrigues e seus filhos Augusto, Roberto e Nelson, Arnon de Mello, Vinicius de Moraes, Guilherme da Silveira, Oscar Niemeyer, Plínio Salgado, Villa Lobos, Samuel Wainer, entre muitos outros. Com exceção do Plínio, uma turma boa que fez a história recente do país.
Já na eleição presidencial de 1930, em seu jornal, o Barão escrachava com a imprensa oficial afirmando: “A Manha resolve apoiar, reservadamente, o Sr. Getúlio Vargas, sem retirar o apoio a Júlio Prestes”. Na edição seguinte, enquanto os ânimos se exaltavam, A manha conservava sua serenidade: “Qualquer que seja o resultado das urnas, saberemos manter corajosamente, custe o que custar, o nosso apoio incondicional ao vencedor”.
Com Vargas no poder, o Barão foi perseguido, preso e torturado. O livro conta a temporada que ele passou refugiado em Bangu.
Com o fim da guerra, e a ditadura Vargas em seus estertores, foi homenageado pelos jornalistas independentes, escritores e políticos, com um almoço na ABI.
Samuel Wainer assim descreveu o evento em Diretrizes: “Foi a maior consagração que o jornalismo, honesto, democrático e decente já recebeu em toda a história e ninguém melhor que o Barão para representar esse jornalismo. Festejar o Barão era festejar o espírito brasileiro, o riso de independência e inteligência que há vinte anos vem exaltando a liberdade, atacando o fascismo e defendendo o povo”.
O auditório da ABI botava gente pelo ladrão e inúmeros telegramas foram recebidos durante o evento. Alguns foram lidos, como aquele enviado pelo Ginásio Bangu, a escola em que eu estudava o primário, isto é, o atual ensino fundamental. O professor Vale – diretor do Ginásio Bangu - grande no tamanho e na capacidade de ensinar, enviou o telegrama e, quando dois anos depois, o partido comunista caiu na ilegalidade, foi preso e teve que fechar a escola.
O livro me fez lembrar da minha primeira professora – Dona Lili, um anjo – esposa do professor Vale. Com ela, eu aprendi raiz quadrada na segunda série primária. Na terceira, quando estava começando a resolver raiz cúbica, a escola fechou.
Tive que mudar de escola e enfrentar a mediocridade da minha nova classe. Sei que teria sido alguém na vida se não mudasse de escola.

2 comentários:

LACERDA disse...

Já leste? Se quiser te empresto o livro. Ida e volta.

leila disse...

Bom demais o seu texto.... ainda não li!