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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

VALE A PENA LER DE NOVO 15

FARSA DA SEPARAÇÃO
(publicado em 30/12/2009)

Já vivemos tão longe um do outro, separados,
Mas, a vida foi capaz de nos unir,
Confundir nossos caminhos...
Um deslize, um quase nada
Impediria o nosso caso.
O que teria sido de nós assim, sozinhos,
Sem a ventura do acaso?
Ainda vivendo à procura de nós dois?
Então, por que querer entrar no meu passado?
Viver a sua vida sem depois,
Sem nada mais a falar, a sentir, a sofrer...
Não seja louco, espera um pouco,
Não vai ainda, é noite alta, se comporte.
Olha, há lágrimas na vidraça,
Está chovendo, a chuva é forte,
Ela não passa.
Amanhã, sem farsa, pode ir...
Agora - porra! - vem dormir.

domingo, 30 de dezembro de 2012

VALE A PENA LER DE NOVO 14

O MARIDO E O ANALISTA
(publicado em 11/01/2012)

A esposa desiludida se lastimava com uma amiga:
- Só mesmo depois de casada a gente conhece o homem que ama.
A amiga ouvia calada como deve comportar-se quem ouve uma lamentação.
- Sabe por que o Humberto nunca me levou ao cinema e sempre me namorava somente à tarde?
A amiga faz cara de quem não imagina a razão.
- Eu até pensei que ele fosse casado, mas não, é que ele tinha medo do escuro.
A amiga demonstra incredulidade e nada diz.
- Durante anos, dormíamos com a luz acesa.
Ainda sem nada dizer, a amiga continua ouvindo.
- Outra coisa. Ele só sabia mijar na pia do banheiro. E como é baixinho, não alcançava direito o lavatório, ficava na ponta dos pés e mijava. Chegou a comprar um baquinho para conseguir mijar sem espalhar a urina no chão.
E, sem mais esperar qualquer reação da amiga, continua:
- E o pior. Chegava em casa todo borrado, fedendo. Ele sempre se borrava nas calças. Em qualquer lugar, no escritório, na condução, andando na rua. Uma vez, ele se borrou na igreja durante o batizado de um afilhado nosso. O padre ficou horrorizado e disse que aquilo era uma heresia.
A amiga esboçou um sorriso.
- Aí, eu não agüentei mais. Quis me separar. O Humberto vivia deprimido e ficou broxa. Forcei-o, então, a usar fralda geriátrica e a se consultar com um psiquiatra. O mais conceituado da cidade que também era psicanalista.
A amiga finalmente pergunta: “E ele melhorou?”
- As sessões de análise custaram caro e, após alguns meses, ele deu uma melhorada. Passamos a dormir apenas com uma vela acesa.
Curiosa, a amiga pergunta pelas outras mazelas do marido.
- É, veja você! Continuou a mijar na pia e conseguiu transmitir o vício para o psiquiatra que não quis mais tratá-lo com medo de começar também a se borrar nas calças.
A amiga não conseguiu conter o riso.
- A gente, atualmente, gasta uma nota com fralda geriátrica e papel higiênico e você ri. É pra chorar de desgosto ter um marido assim. Ele também deu pra mijar de madrugada dentro das gavetas do guarda-roupa.
A amiga, então, decidiu consolá-la:
- Conheço alguém cujo marido também vivia deprimido e ficou broxa por se borrar nas calças. Consultou um analista e se curou.
A amiga se entusiasma e pergunta: “Jura? Parou de se borrar nas calças? Quem é esse analista? Quero mandar o Humberto se consultar com ele”.
- Olha! Parar não parou, não. Mas, agora vive todo feliz e ri à toa quando se borra. O analista se aposentou porque passou a se borrar também e ninguém mais suportava o fedor do consultório.

sábado, 29 de dezembro de 2012

VALE A PENA LER DE NOVO 13

O TARADO
(publicado em 18/02/2011)

Anselmo tinha um ótimo emprego, era bonito, alto, esbelto e elegante. Na multinacional em que trabalhava, vivia na companhia de mulheres lindas que o tratavam como a um futuro marido. O setor de recursos humanos sabia escolher suas funcionárias. Não bastavam ser apenas competentes, tinham que ser bonitas.
Anselmo, porém, jamais se interessou por nenhuma delas. Correu o boato de que Anselmo era gay. Quem espalhou foi a Ivone quando cansou de dar em cima do rapaz.
Leonardo, o amigo mais chegado veio lhe contar: “Você precisa sair com uma delas pra acabar com esses comentários”.
“Não me sinto atraído por elas”, respondeu tranquilamente.
“E precisa disso para transar com uma mulher bonita?”, insistiu Leonardo.
“Preciso, sim. E daí?”
“Pô! Cara... Qualé a tua? Tu és mesmo gay?”
Anselmo viu que não podia escapar da confissão de sua tara ou a acusação de homossexualismo seria espalhada e poderia prejudicá-lo junto à diretoria. Resolveu abrir o jogo com o amigo.
“É que eu tenho uma tara por mulher feia e aqui na empresa até a faxineira terceirizada é linda”.
“Essa não! Jura?” – Leonardo duvidou – “Quero ver você provar”.
“Provo. Me apresenta a uma mulher feia que eu vou me esbaldar”.
O papo parou por aí, mas na sexta-feira Leonardo voltou ao assunto.
“Topas passar o fim de semana na praia?”
“Qual praia? Na zona sul, eu não vou. Só tem mulher bonita”.
“Deixa comigo, deixa comigo”.
Curioso, Anselmo topou a parada. Sábado, bem cedinho, os dois partiram. Na avenida Brasil, Anselmo perguntou: “Opa! Vamos ao piscinão de Ramos?”
“Fica na tua, vamos bem mais longe”. Pegaram a Rio-Santos e só entraram à esquerda, depois do túnel, quando surgiu aquele grotesco monstrengo dando boas vindas a Muriqui.
“Tenho um apartamento aqui na beira da praia” – disse Leonardo – “e tenho certeza que você vai gostar muito”.
Deixaram o carro na garagem e saíram logo para a praia. Caminhando pelo calçadão, Anselmo exclamou extasiado: “O quê que é isso, mermão? É normal ou está havendo um congresso de mocreias e jaburus por aqui?”
"É assim mesmo todo final de semana" – esclareceu Leonardo.
Anselmo pôde, então, provar sua masculinidade lambusando-se de mulher feia.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

VALE A PENA LER DE NOVO 12

O APAVORADO
(publicado em 13/07/2012)

Depois de velho, assombrado com o medo da morte, Anselmo vivia em grande inquietação diante de um perigo iminente e quase sempre imaginário.
Possuía um enorme pitbull para proteger sua casa. Era um cão extremamente perigoso que atacava as visitas com selvageria. Por isso, mantinha-o sempre preso e somente o soltava à noite.
Ainda assim, levantou o muro, eletrificou-o e instalou um alarme.
Vivia apavorado. Tinha medo do 13, de gato preto e de todas as sextas-feiras.
Tinha medo até de tomar banho. Já pensou, naquela idade, ter um mal súbito no chuveiro? Quem o socorreria? Como poderiam tirá-lo nu e todo ensaboado daquele box minúsculo?
Não saía mais de casa. Racista, sempre teve medo de cruzar com um negro na rua; mas, ultimamente, via na TV que todos os bandidos agora são brancos. Como botar os pés fora de casa? Não confiava mais em ninguém. Acreditava no terrorismo televisivo dos datenas.
A mulher - Ivone - é quem fazia tudo na rua dirigindo o velho Chevette no qual ninguém mais confiava.
Mesmo amedrontado, certo dia, Anselmo aceitou ser levado pela mulher para tomar a vacina contra a gripe. O carro enguiçou, viu um negro aproximar-se e tremeu aterrorizado. Pensou no pior, mas o rapaz ajudou-os empurrando o carro até o motor pegar.
Ivone, então, exigiu a compra de um carro novo. Ele concordou e ela, no dia seguinte, trocou o velho Chevette por um Corsa zerinho.
Feliz da vida, Ivone quis logo sair com o carro novo. Ele não deixou, ficou com medo de que o roubassem. Escondeu as chaves e disse que o carro jamais sairia da garagem.
A sacrificada mulher passou a visitar as amigas e fazer o supermercado a pé. Aos bancos, ia de ônibus.
Três dias depois de tomar a vacina, Anselmo estava gripado. As dores no corpo, a febre, a congestão nasal, o mantiveram na cama por dez dias.
“Não te falei que essa vacina não vale porra nenhuma? Se houvesse vacina contra a gripe, a doença já teria sido extinta como foram a paralisia infantil, a varíola e a difteria” – afirmou revoltado, mas feliz.
Feliz por não ter que tomar banho enquanto estivesse gripado. Somente saía da cama para dar comida ao cachorro, trocar-lhe a água e soltá-lo à noite. Nem a própria mulher podia chegar perto do infausto pitbull.
Duas semanas depois, porém, após soltar o animal à noitinha, atendeu aos apelos da mulher e foi tomar banho.
Você está fedendo, não agüento mais dormir a seu lado” – disse Ivone indignada.
Como já estava bem melhor da gripe, tomou um banho demorado. Passou desodorante e trocou de roupa.
Passava das 20 horas quando se apresentou orgulhoso; “Tá bom assim, tô cheirosinho?”.
Após o jantar, foi logo dormir. Queria acordar de madrugada para ver o eclipse. Disseram-lhe que dava sorte assisti-lo. Às duas horas, foi ao quintal admirar o evento. Olhava a lua já quase totalmente encoberta pela sombra da terra.
De repente, sentiu aquele tranco por trás. Caiu. Garras poderosas rasgaram suas costas e caninos pontiagudos penetraram em sua jugular.
Morreu cheiroso dentro de casa.
O faro do cão não o reconheceu de banho tomado naquela madrugada escura. .

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

VALE A PENA LER DE NOVO 11

CANALHA MAU CARÁTER
(publicado em 3/02/2010)

Um cachorro vagabundo,
Sozinho, solto no mundo,
Sem dono, sem par, sem coleira,
Magro, sujo, mal vestido,
Um olhar meio perdido,
Vadiando à beira-mar.
Fiquei com pena, chamei-o,
Ele veio e eu, serena,
Afaguei-o com carinho.
Fui embora e ele atrás
me seguindo no caminho.
Vinha em paz todo feliz
e eu pensando: o que fiz?
Abri o portão de casa, eu entrei
e ele parado sentado no meio-fio...
Coração ficou em brasa,
era um cão bem educado.
E, afinal, num desvario,
convidei-o para entrar.
Ele veio todo esguio,
a cauda a se balançar.
Ficou comigo uma hora,
comeu, bebeu, foi embora,
Nunca mais eu vi por perto
aquele canino esperto.
Passou por mim noutro dia,
disfarçou, olhou pro lado,
Fingiu que não conhecia
quem o fez sentir-se amado...
Quem deu um quilo de alcatra
pra um canalha mau caráter.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

VALE A PENA LER DE NOVO 10

A INOCENTE DE BELFORD ROXO
(publicado em 2/03/2012)

Como Jesus, ela nasceu em berço pobre, quase uma manjedoura. Foi educada sob rígidos preceitos religiosos. Na verdade, foi mesmo educada sob uma ética perversa.
O pai, protestante fundamentalista, exigia sempre a observância rigorosa à ortodoxia de sua doutrina cristã. Era um homem trabalhador que nunca deixou faltar nada em casa.
Além de um ciúme doentio pela filha, tinha um grande defeito: bebia. Quando se embriagava, ficava violento e agredia a mulher.
A inocente de Belford Roxo era filha única. Aos dez anos ainda acreditava em papai noel e na cegonha. Seu livro de cabeceira era “Contos da Carochinha”.
Bem depois dos treze, quase morreu de susto quando teve sua primeira e tardia menstruação. Desesperou-se, imaginou a morte ao ver aquele sangue sair de onde acostumou-se a ver somente sair xixi.
A mãe, mulher submissa e dominada pelo marido, tentou explicar-lhe a razão daquilo. E teve que informá-la sobre outras coisas, falar-lhe de sexo.
A menina sentiu uma aflição extrema ao saber o que lhe reservava o futuro.
- Mãezinha, não há outro jeito? - perguntou aflita.
- Só se você entrar para um convento e ser freira – respondeu a mãe.
- Então, eu quero ser freira – decidiu.
O pai não aceitou. Era contra a sua doutrina religiosa. Dediciu internar a filha em uma instituição feminina dirigida por pastores "evangélicos".
Pra quê? A inocente menina foi obrigada a ler a Bíblia diariamente.
De início, escandalizou-se com as estórias do Velho Testamento. Depois, teve que acreditar nelas. Não podia duvidar da “palavra de Deus” e achou que tudo aquilo era normal. Toda aquela pouca vergonha estava na Bíblia e ela imaginou que deveria ser bom.
A estória das filhas de Ló foi a que mais a impressionou. Começou a sentir um furor uterino impressionante igual ao daquelas personagens bíblicas.
Quando foi pra casa passar as férias de verão, já tinha um corpo perfeito de mulher e um rosto ainda de menina. Aquele tipo feminino que enlouquece os homens. Já estava com quase quinze aninhos.
Em casa, encontrou o pai novamente embriagado e lembrou de Ló completamente bêbado.
O pai olhou a menina com admiração e viu aquele ciúme doentio que antes sentia transformar-se em paixão. Abraçou-a com sofreguidão e ela retribuiu prazerosamente.
O pai sentiu um calafrio e, depois, aquele calor percorrer seu corpo, o sangue pulsar em suas artérias e seu membro viril aumentar de volume. Tentou afastar-se. Porém, a inocente de Belford Roxo aconchegou-se mais e mais.
A mãe, que assistia à cena e jamais tinha lido a Bíblia, percebeu logo o que acontecia entre os dois.
“Não mereço um abraço, também?” – disse ela.
A filha, então, se desfez daquele ardente abraço com o pai e, com frieza, abraçou a mãe.
Naquela noite, houve séria discussão entre o casal. O pai agrediu novamente a mulher e não conseguia dormir. A filha, que a tudo ouvia de seu quarto, sorriu.
Ele esperou a mulher pegar no sono, levantou de mansinho e, atormentado, dirigiu-se à cozinha. Bebeu meia garrafa de cachaça.
Novamente embriagado, pegou o facão mais afiado e mutilou-se. Verteu sangue até a morte.
Atualmente, a inocente de Belford Roxo vive feliz em São Paulo como garota de programa onde assumiu a identidade de Jaqueline Kelly. Pretende ganhar muito dinheiro e implantar um grande templo neopentecostal para ministrar os ensinamentos do Velho Testamento.
Não sei que fim levou a mãe.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

VALE A PENA LER DE NOVO 9

O LOMBRIGA
(publicado em 18/07/2012)

O pai – Ascânio – e a mãe – Íris – decidiram juntar os dois nomes e formar um terceiro. Após algumas tentativas chegaram a Ascaris. Acharam bonito, másculo, e resolveram dar tal nome ao primeiro filho.
Ascarisinho recebeu todo o amor dos pais e cresceu feliz. No jardim de infância e no ensino fundamental tudo transcorreu muito bem. Era bom aluno, educado e obediente. Uma criança bonita e cheia de virtudes, o filho que todos os pais gostariam de ter. Entrou com todos os méritos para o ensino médio.
Algo aconteceu, porém, que mudou sua vida a partir do terceiro ano em que cursava uma escola de alto gabarito.
Um colega leu no livro de ciências algo sobre o ascaris lumbricóides, popularmente conhecido como lombriga. Pra quê? Mostrou a todos. A turma, então, passou a chamar o Ascaris de lombriga.
Este apelido afetou de forma implacável o adolescente equilíbrio psicológico do nosso herói. Deixou de ser aquele aluno dedicado. Tornou-se um estudante relapso. Parou de estudar, saiu da escola, mas o apelido o perseguiu pelas ruas do bairro até a idade adulta.
Brigava com todos. E apanhava sempre. Sem amigos, solitário, deu de beber. Bebia muito. Sujo, mal vestido, somente atendia quando o chamavam para beber uma cachaça: “Ei! Lombriga, bebe uma comigo”. Nunca ninguém lhe pagou um prato de comida, um reles pastel, uma coxinha ordinária.
Revirava o lixo em busca de algo pra comer e passou a ser de fato uma lombriga. Vivia na merda como uma lombriga. Tentou sair e caiu na titica. Voltou à sua vida indigna.
Feio, sujo, barbudo, cabeludo, esfarrapado, jogado na sarjeta, foi acolhido por uma senhora de alma bondosa que o levou para um asilo de assistência social.
Lá, ofereceram-lhe um prato de comida. Ele comeu avidamente e logo demonstrou algum contentamento.
Depois. cortaram o seu cabelo, barbearam-no, deram-lhe um prolongado banho, e o vestiram com roupas limpas.
Ele se olhou no espelho e não acreditou no que via. Já era noite. Depois de muitos anos, tinha uma cama pra dormir. E viu que era bom.
No dia seguinte, a bondosa senhora sentiu sua falta no café da manhã. Foi procurá-lo. Encontrou-o morto. Parecia sorrir.
Ela se arrependeu do que fez. Lembrou do que disse o filósofo Falcão no final de uma de suas educativas canções: “lombriga quando sai da merda morre”.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

VALE A PENA VER DE NOVO 8

CUIDADO! MUITA ATENÇÃO.
(publicado em 17/07/2010)

É preciso que cada um esteja de sobreaviso com a substância denominada monóxido de dihidrogênio. Essa terrível substância mineral causa efeitos devastadores sobre o meio ambiente e estaria prestes a produzir uma catástrofe mundial, extinguindo a vida em todo o planeta.
Essa informação tem procedência confirmada pelo Dr. Vincent Orson Lemon, cientista do Medical Survey Center, de Los Angeles/Califórnia, que alerta: “tanto no estado sólido, quanto no líquido, como no gasoso, o monóxido de dihidrogênio é capaz de causar sérias queimaduras na pele, impedir a livre respiração e levar ao óbito por asfixia”.
Essa substância tem sido empregada como solvente industrial, em pesticidas e em usinas nucleares. É o componente de maior presença na chuva ácida e a sua inalação pode provocar danos irreversíveis aos pulmões. Sua ingestão pode causar diarreia. Provoca erosão na superfície terrestre e até oxidação de metais ferrosos.
O índice de contaminação por essa terrível substância é tal que, em certas pessoas e em alguns animais, a presença do monóxido de dihigrogênio pode chegar a até 85% do seu peso. Como se isso não bastasse, ainda há médicos que recomendam a sua ingestão diária, inclusive por crianças. O que faz aumentar a atividade renal.
Apesar de todos esses perigos, o monóxido de dihidrogênio vem sendo usado de forma intensa e indiscriminada em todo o mundo, ocasionando sérios riscos à sobrevivência e ao futuro da humanidade.
O pior de tudo é o emprego da substância na fabricação de cervejas e refrigerantes largamente consumidos sem que o governo tome qualquer providência contra os fabricantes. A Anvisa e o Ministério da Saúde têm consciência disso mas não fazem qualquer alerta aos consumidores.
Portanto, divulgue essa informação. É importante.
Isto já foi confirmado aqui em Mangaratiba. Diversos pacientes já foram internados no Hospital Vitor Breves com o mesmo sintoma: asfixia por monóxido de dihidrogênio. Neste verão, os casos críticos deverão aumentar. Estejam todos atentos.
Essa mensagem é absolutamente verdadeira. Não é como aquela sobre o fim do 13º salário e outras mensagens terroristas que surjem na web.
DIVULGUEM.

sábado, 22 de dezembro de 2012

VALE A PENA LER DE NOVO 7

PROPOSTA INDECOROSA
(publicado em 12/02/2011)

 Era um bom rapaz, tinha um bom emprego e estava noivo de uma lourinha linda, cinematográfica, típica de filme francês. Um rosto de menina em corpo de mulher que exalava sensualidade e lascívia. Esse quê que fascina os homens.
Filha de família pobre, pai protestante linha-dura que a educou segundo os mais rígidos preceitos morais e religiosos, ela jamais permitiu qualquer liberdade além do beijo na boca.
“Somente depois que a gente casar”, dizia ela sempre que o noivo tentava algo mais.
Apaixonadíssimo, Aurélio – o noivo e primeiro namorado de Débora – não suportava mais aquele namoro dentro de casa e controlado pelos pais. Beijo somente quando se despediam no portão às 22 horas. Nunca além disso.
Decidiu marcar logo o casamento. Dentro de três meses se casariam no civil e na igreja que a família frequentava.
Débora, feliz da vida, partiu para a compra do enxoval. Aurélio alugou apartamento no Bairro de Fátima e mobiliou-o com tudo que tinha direito. Endividou-se. Ficou na pior, não lhe sobrava mais nada da poupança e quase nada do salário. Mas, orgulhoso, pôde mostrar aos futuros sogros o que tinha preparado com muito sacrifício e amor para a vida conjugal.
Faltavam apenas quinze dias para o matrimônio quando o pai da noiva, enfim, permitiu, pela primeira vez, que ela fosse ao cinema sozinha com Aurélio.
Débora foi encontrar-se com o noivo em seu local de trabalho. Era o gabinete avançado de um senador fluminense, um coroa riquíssimo proprietário de fazendas e inúmeras cabeças de gado, grande exportador de carne para a China. Aurélio estava nomeado no gabinete em Brasília e prestava serviços no Rio.
Quando a viu, o senador ficou maravilhado pela lourinha. Ensandecido, chamou Aurélio em sua ampla sala e, a sós, entre as bandeiras do Rio de Janeiro e do Brasil, fez a proposta indecorosa.
Qual um calígula caboclo, o senador exigiu transar com Débora na véspera do casamento. Em troca, pagaria todas as dívidas de Aurélio e lhe daria um milhão de reais. Caso contrário, iria demiti-lo do cargo em comissão no Senado.
A proposta era indecorosa mas abalou o caráter de Aurélio. Disse que jamais conseguiria convencer Débora a aceitá-la.
“Vocês não vão ao cinema? Leve-a para ver “Proposta Indecente” com Robert Redford e Demi Moore que está passando no Odeon” – sugeriu o descarado político – “veja o que ela acha do filme e tente convencê-la. Será que ela vai recusar um milhão?”
Perturbado, Aurélio pegou a noiva e foram ao cinema.
“O que achou do filme?” - perguntou-lhe no ônibus de volta para casa – “você toparia?”
“Não sei, não sei” - respondeu Débora – “um milhão de dólares só por uma noite. É dinheiro para toda a vida”.
“E por um milhão de reais?”
“Por que pergunta?”
Aurélio contou a proposta do pornográfico senador. Débora fez um escândalo no ônibus. Aos berros chamava-o de canalha.
"Canalha, canalha". Mandou o motorista parar, saltou e já na rua gritava: “Não caso mais contigo, canalha”.
Débora desmanchou o noivado e, uma semana depois, aparece no gabinete do senador imoral.
“Aurélio não trabalha mais aqui, foi demitido”, disse-lhe a recepcionista.
“Quero falar é com o senador”. E foi entrando, invadiu a sala dele e determinada perguntou-lhe: “A proposta ainda está de pé?”
Surpreso, o senador – como todo político espertalhão – usou de um artifício para baixar a proposta.
“Não, não está de pé. A proposta foi de um milhão na véspera do casamento” – disse com cinismo – “você não vai mais casar. Agora, eu ofereço apenas quinhentos mil.”
Débora apenas esboçou um sorriso e disse: “Eu topo”.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

VALE A PENA LER DE NOVO 6

POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS
(publicado em 26/01/2012)

Beto Picasso era aquele cara de quem não se restava a menor dúvida: tinha tudo pra dar errado. Nasceu de sete meses no Jacarezinho, pai cachaceiro e mãe prostituta.
Teve uma infância complicada, não quis saber de escola; tentou ser jogador de futebol, mas um acidente de moto acabou com sua carreira esportiva. Queria ser pintor, mas sua pintura era ridícula e quase infantil.
Aos 19 anos, era tudo de pior que um ser humano podia ser: semi-analfabeto, “framenguista”, funkeiro, viciado em crack, roubava para sustentar o vício. Passava o dia inteiro na cracolândia da favela no meio do lixo. Ele próprio um lixo, um traste. Um farrapo quase humano.
Do outro lado da cidade, residia Sônia, solitária, viúva recente de um general. Cinquentona sem filhos que ainda dava um caldo, era muito religiosa. Dizia que sexo somente no casamento. Freqüentava a Universal e contribuía com um dízimo substancial. Quando viu que o seu pastor enriquecia a olhos vistos, decidiu ela mesma realizar seus próprios milagres.
Empolgada com a política de redução de danos no tratamento de drogados que ela conheceu na Alemanha, Holanda e Austrália, decidiu implantá-la aqui.
Na Europa, Sônia aprendeu que o vício pode ser usado contra o próprio vício, bastando oferecer aos viciados um local para consumi-lo sem que fosse preciso roubar ou se prostituir. Nesse local, concomitantemente ao fornecimento da droga gratuitamente haveria todo um tratamento psicológico e terapêutico para desintoxicação, além da oferta de alimentação e a prática de higiene.
Decidiu testar a teoria em sua própria mansão na Gávea e para lá levou Beto Picasso a quem conheceu numa de suas visitas à cracolândia do Jacarezinho.
Deu uma geral no cara, incluindo corte de cabelo e banho de loja. Comprou material de pintura para o “Picasso” desenvolver todo o seu talento.
Ele passava o dia tranquilamente, bem alimentado, tomando vitaminas, pintando, fumando crack com o cachimbo do general e não queria outra vida. Um dia, resolveu mergulhar nu na piscina.
A distinta senhora o viu. Viu também o tamanho da peia e descobriu que o apelido Beto Picasso não se referia aos quadros que ele tentava pintar. Carente há mais de um ano, desde a viuvez, apaixonou-se. Religiosa, pediu Beto em casamento.
Ele topou - claro! – e, na noite de núpcias, negou fogo.
Negou fogo em toda a lua de mel. O crack deixou o Picasso impotente. Sônia apelou para o Viagra. Não adiantou. Tentou com o Levitra. Nada. Desistiu.
Certa noite, deprimida e incapaz de conciliar o sono, foi à janela e o viu, na piscina, fazendo sexo com a empregada doméstica. Pegou a 9mm do general e atirou três vezes. Uma bala foi fatal para a jovem empregada. Beto correu nu para a rua sob uma saraivada de tiros.
Foi pego pela polícia que o levou de volta à casa. Os policiais chegaram a tempo de ver Sônia encostar a arma na cabeça, puxar o gatilho e cair.
Beto Picasso que tinha tudo para dar errado, acabou se dando bem. Herdou a fortuna do general: a pensão, a poupança e todo o patrimônio.
A política de redução de danos foi benéfica para Beto Picasso.
Ele, porém, jamais abandonou o vício.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

VALE A PENA LER DE NOVO 5

AQUELES OLHOS VERDES
(publicado em 21/11/2010)

- Nosso casamento ia muito bem, às mil maravilhas, até a campanha eleitoral – contava Denise no interrogatório na delegacia – até sair a primeira pesquisa dando empate entre a Dilma e o Serra.
Denise contou que, a partir de então, o marido – Inocêncio, 65 anos – mudou completamente. Voltou a andar fardado cabisbaixo, caladão e até dormia de farda. Não era mais aquele marido dedicado do tipo que ainda manda flores.
Denise, 25 anos mais nova, vivia maritalmente com Inocêncio desde os 19 anos. Nunca foi bonita. As amigas diziam que ela parecia com a Dilma Rousseff e não entendiam como aquele capitão esbelto, atlético, vigoroso e de olhos verdes tentadores que combinavam com a farda, apaixonou-se por ela, largou a esposa e foram morar juntos.
Não tiveram filhos e, após mais de vinte anos de felicidade, Inocêncio, agora coronel da reserva, passou a se embriagar e agredir a companheira.
- Ele te agredia todos os dias? – pergunta o delegado.
- Não. Somente quando saía resultado de pesquisa eleitoral. Quando saiu a primeira pesquisa dando empate, ele se revoltou mas não me agrediu. Apenas encheu a cara e foi dormir. Depois, com as novas pesquisas, eram tantos tapas na cara quantos eram os pontos de diferença. A Dilma chegou a botar 14 pontos na frente. Nesse dia, foram 14 tapas na minha cara.
- E quando saíam resultados de três pesquisas no mesmo dia? – o delegado era um sádico.
- Aí, ele somava os pontos das pesquisas e me arrebentava a cara. Houve semanas em que todo dia saía uma pesquisa. Eu vivia com a cara vermelha e inchada, nem podia sair de casa.
- Por que você não deu queixa aqui na delegacia?
- O que o senhor faria contra um coronel fardado?
O delegado não gostou da ironia e quis encerrar o interrogatório: “Bem, vamos ao desfecho dessa história.”
- No dia da eleição, saimos bem cedo pra votar. Na volta, ele começou a beber. Encheu a cara com tudo que havia em casa. Pouco depois das 17 horas, saiu a pesquisa de boca de urna do Ibope com 12 pontos de diferença. Não foram mais tapas, não. Foram 12 porradas na minha cara que me arrancaram três dentes. Eu desmaiei.
- Quanto tempo ficou desmaiada?
- Quando acordei já eram quase dez da noite. A TV dava o resultado final da eleição: 12 milhões de votos de diferença. E eu pensava se suportaria tantas porradas. Ele ainda mais bêbado balbuciava – "o Bolsonaro tem razão, nosso erro foi apenas torturar, eu devia ter assassinado aquela terrorista búlgara" - foi aí que eu entendi tudo.
Naquele momento, Denise ainda olhou a foto dos dois no porta-retrato da estante. Ela com 19, ele com 44 anos. E viu, então, que ela sempre foi a cara da Dilma. E entendeu, enfim, o porquê da paixão que ele sentiu por ela.
- Então, ele foi um dos torturadores da Dilma Rousseff? – pressupõe o delegado.
- Foi. E por amor àquele homem ou por medo da morte, ainda tentei consolá-lo. Pedi-lhe, implorei que me torturasse para que ele pudesse superar aquela derrota intolerável. Ofereci a face para começar a receber aqueles 12 milhões de porradas.
A paixão por aqueles olhos verdes tinha se tornado um patético tormento do qual Denise não conseguia libertar-se. Tinha esperança de que tudo voltasse a ser como era antes da campanha eleitoral. Prometeu fazer uma plástica que lhe desse uma aparência diferente.
- E ele? E ele? – insistia o delegado.
- Cambaleando, levantou-se, pegou a pistola e, com a voz embargada pela bebida, falou: "não vou errar novamente, vou te matar".
Lágrimas brotaram nos olhos de Denise que não conseguia continuar. Lembrava-se daqueles olhos verdes embevecidos a admirá-la em suas relações amorosas. Mas o delegado insistia: “E depois, e depois?”
- A pistola falhou. Tomei-a de sua mão e atirei duas vezes naqueles olhos verdes tentadores.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

MALAQUIAS, O OLIGOFRÊNICO

Malaquias acredita em tudo que lê, em tudo que ouve e, pior, repete tudo como um papagaio, como se tudo verdade fosse.
Não sabe que a verdade, como muito bem afirmou Nietzsche, é apenas um ponto de vista. E, por isso, não respeita a opinião alheia.
Malaquias se acha superior porque estudou e se formou em faculdade particular, mas não diz qual e orgulha-se de residir na zona sul. Certamente, não passou no vestibular para a federal e, quem sabe, reside num quarto e sala da Barata Ribeiro, 200.
Estou escrevendo em edição extraordinária porque encontrei Malaquias e sua oligofrenia circulando anonimamente por Mangaratiba, expelindo insultos e a denegrir a imagem do país e de seu povo.
A oligofrenia não o deixa questionar nem contestar a informação que recebe diariamente pelo Jornal Nacional. Assinante de O Globo e da Veja, não percebe o quanto é manipulado pela mídia.
Verdadeiro reaça, remanescente da ditadura, faz parte daqueles 4% que odeiam Lula, Dilma e o PT. É, também, um homofóbico convicto.
Admirador e leitor assíduo de Gustavo Barroso, Olavo de Carvalho e outros ideólogos neofascistas vivos ou mortos, Malaquias crê que programas de distribuição de renda são apenas um estímulo à vagabundagem; que a reforma agrária é o prenúncio da falência dos produtores rurais; que a defesa dos direitos humanos está associado ao aumento da criminalidade; que a atual política externa independente é uma aliança com países totalitários e partidários de sistemas exóticos contrários a nossa índole cristã.
Malaquias, o oligofrênico, é contra o Prouni, as quotas para negros e pensa que o auxílio-reclusão foi instituído pelo PT para subvencionar a bandidagem.
Privado da memória recente, Malaquias afirma que a partir de 2003 teve início o período mais corrupto da nossa história. Não vê que foi a partir daí que a Polícia Federal, o Ministério Público e a Controladoria Geral da União passaram a ter absoluta liberdade para investigar a corrupção e punir corruptos e corruptores. Malaquias pensa que é a imprensa quem investiga a corrupção no país e que esta não existe, por exemplo, na Coréia do Sul.
Ainda criança, Malaquias foi aliciado pelo Opus Dei e, ainda hoje, é um numerário da organização religiosa, cujos membros fazem voto de castidade e atuam para santificar o mundo.
Pelo menos durante duas horas, diariamente, Malaquias faz penitência: amarra um cilício na coxa e se submete ao martírio com resignação. Uma vez por semana, Malaquias tem que chicotear suas costas e nádegas com vigor.
Além disto, tem que contar a seus superiores cada pensamento que passa pela sua cabeça, principalmente aqueles segredos mais íntimos. Se Malaquias não revelar tudo, mas tudinho mesmo, estará mantendo um segredo com satanás.
Últimamente, Malaquias defende a eleição de Joaquim Barbosa para presidente da república, mas vive revoltadíssimo e caiu enfermo neste final de ano com o resultado das pesquisas do Ibope e Datafolha.
Após dez anos de governo do PT e sob intenso e constante bombardeio da imprensa e dos malaquias contra seus líderes, Lula ou Dilma venceriam no primeiro turno se a eleição fosse hoje.

N.L.: não me contive, encontrei Malaquias circulando anonimamente em Mangaratiba e tive que escrever. Amanhã, volto com a série “Vale a pena ler de novo”.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

VALE A PENA LER DE NOVO 4

ABORÍGENE AUSTRALIANO
(publicado em 9/06/2010)

Nasceu robusto, gordo, cabeludo e cheio de dentes, acima do peso considerado normal, com mais de 4,800k. E como era feio. Era feio de doer o parrudo bebê.
Os parentes e amigos que foram visitá-lo se espantavam e não conseguiam disfarçar o mal-estar diante daquela desagradável visão.
Quando começou a engatinhar, parecia um Demônio da Tasmânia. Certa vez, foi mexer com o gato que dormia com a tranquilidade dos gatos. O bichano deu um salto e saiu em disparada. Nunca mais foi visto.
Foi crescendo e cada vez mais feio ia ficando. Aos cinco anos, tinha quase o dobro do tamanho de crianças da mesma idade. Entrou para o jardim de infância e os coleguinhas, com medo dele, não queriam mais voltar para a escola. Houve uma reunião de pais e a diretora solicitou que a criatura fosse retirada do convívio escolar.
Quando entrou para o ensino fundamental, era o maior da turma. Parecia ser aluno da quarta série. Era o mais feio, claro, mas, também, o mais inteligente e estudioso.
Devido ao seu tamanho, jamais foi vítima do “bullying”. Porém, apelidaram-no de Aborígine Australiano. Mais tarde, abreviaram para Abori.
Humilde, ele nem ligou e levou o apelido para a faculdade onde se formou, com méritos, em medicina. Como especialidade, escolheu a pediatria. Adorava crianças.
Nunca teve amigos nem namorada, mas era feliz. Um homem bom, excelente caráter. A feiura em si mesma jamais lhe fez mal algum.
Montou um consultório que viveu às moscas. Tentou empregar-se em uma clínica infantil, mas nenhuma quis admiti-lo. Com aquela cara, não levava jeito de médico. Ainda mais pediatra.
Desistiu da medicina e somente conseguiu emprego em um circo onde se apresentava preso numa jaula.
Era apresentado como “Abori, um assombro”. Voltou a assustar as crianças que agora pagavam para vê-lo.
Apaixonou-se por uma trapezista linda, escultural, de uma beleza absurda. Ela era cega e pôde ver toda a beleza interior de Abori. Retribuiu ao amor intenso e incondicional que ele lhe dedicava.
Casaram-se. Apenas no civil, junto com outras dezenas de casais que não entendiam como uma mulher tão bela pudesse dizer sim àquele ser horroroso. “Só pode ser cega”, comentavam sem saber que era verdade.
Abori e a equilibrista cega foram muito felizes. Tiveram uma filha, lindíssima como a mãe. O pai, ainda mais feliz, dava graças a Deus por não ter transmitido sua feiura para a filha. Mas, preocupava-se: “será que ela era cega como a mãe?”
Um mês depois, Abori tomou coragem e pegou a criança no colo pela primeira vez. Ela dormia. Abriu os olhinhos que ainda não possuíam a completa visão quando ele a beijou. Ali, pertinho, porém, ela conseguiu focalizar o rosto do pai.
A coitadinha apovorou-se...
Morreu de susto.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

VALE A PENA VER DE NOVO 3

TEMPLO É DINHEIRO
(5/01/2010)

 Quase ao final do culto, o pastor ergue a voz e tenta imprimir mais emoção em suas palavras:
- Irmãos, Ele deu o Seu sangue e a Sua vida pela nossa redenção. Com o Seu sacrifício, Ele nos redimiu de todos os pecados. O que Ele nos pede agora é muito pouco diante do tanto Que nos concedeu. Ele pede uma pequena ajuda de vocês, irmãos, para mantermos o nosso ministério, o nosso templo. Amém?
A platéia se movimenta, grita amém. Alguns baixam a cabeça. Outros se ajeitam em seus lugares. Poucos apalpam os bolsos. As mulheres olham dentro das bolsas. E o pastor faz o apelo.
- Quem de vocês tem a condição de oferecer cem reais para se tornar um patrocinador de nosso templo?
Duas pessoas se levantam e se encaminham para o palco. Cada um coloca cem reais na caixa coletora. São dois comerciantes locais.
- Palmas, muitas palmas para estes abnegados colaboradores da obra de Deus - pede o pastor - Os irmãos hão de retribuir prestigiando sempre o comércio de vocês. Amém?
A platéia grita amém e irrompe em aplausos. Os dois comerciantes, cabeça erguida, sorriem.
- Vejam com que orgulho e satisfação eles deram a sua contribuição – continua o pastor – eles serão recompensados com a bênção do Senhor. Eu sei que poucos têm condição de oferecer cem reais, mas quem pode oferecer cinquenta reais?
Alguns poucos vêm ao palco e colocam suas notas na caixa coletora.
- E vinte reais, quem pode doar para a nossa grandiosa obra?
Agora são quase vinte que chegam ao palco. Outros tantos se aproximam quando o pastor pede dez reais. Mais adeptos chegam para atender ao pedido de cinco reais.
Entretanto, o pastor vê que a grande maioria permaneceu em seus lugares e não fez qualquer doação.
Continua, então, com a ladainha.
- Eu sei que nosso templo recebe muitas pessoas carentes sem condição de oferecer doações. Mas, sei também que ninguém é tão pobre que não tenha algo a dar. Ele também era muito pobre e caminhava quilômetros pelo deserto pregando a palavra de Deus antes de ser crucificado para a nossa salvação. Eu sei que vocês moram longe e cada um tem guardado no bolso ou na bolsa aquelas moedinhas para pagar a passagem de ônibus na volta pra casa. Se você contribuir com essa pequena quantia e voltar para casa a pé, caminhando como Ele sempre fazia, será um sacrifício bem superior ao daqueles que puderam oferecer uma quantia maior. A bênção recebida também será maior. Amém?
Amém! Gritaram todos e se levantaram e vieram colocar no palco o dinheirinho da passagem de volta. E o pastor bradava emocionado com a voz comovida e trêmula:
- Glória! Aleluia! Ele está aqui e está vendo toda a sua abnegação. Vocês todos serão recompensados com a bênção de Deus. Amém!
Mentalmente, porém, o pastor sentia algum remorso e raciocinava: “Eu sinto pena daquelas duas velhinhas de muletas, mas o que fazer? Pô! Templo é dinheiro”.

domingo, 16 de dezembro de 2012

VALE A PENA LER DE NOVO 2

OUTRO CONTO QUASE PORNOGRÁFICO
(publicado em 12/09/2008)

 Agora, em seu leito de morte, quando ainda lhe resta apenas um sopro de vida, ele decidiu confessar-se a si próprio. “Eu fui um canalha, sempre fui, através dos tempos. Não tenho perdão, o inferno me espera”.
Lembrou que havia traçado a mãe, as irmãs, a esposa, a amante, a noiva ou as namoradas de seus melhores amigos e vizinhos.
Os vizinhos foram perdidos nas mudanças, mas os amigos permaneceram amigos.
Nas visitas que recebe, tudo lhe vem à memória. Tem o ímpeto de dizer-lhes: “eu sou um canalha, um crápula, um pulha, tracei a senhora sua mãe”.
Porém, faltava-lhe a coragem que somente os covardes têm nos momentos de perigo extremo.

“Vou passar a eternidade no infermo” – pensava – “Se não me confessar como poderei entrar no paraíso?”
Pediu um padre. Disseram-lhe que o sacerdote somente poderia vir para a extrema-unção.

De que adiantaria? Nesse momento, a morte cerebral não lhe permitiria qualquer atitude.
Tentou refugiar-se nos textos bíblicos. O Novo Testamento apenas lhe trouxe maior remorso. A consciência daqueles e de outros pecados cometidos.
Desesperou-se, queria pedir perdão a todos. Mas, como? Seria pior. É bem melhor para aqueles amigos continuar a viver na ignorância. O conhecimento quase sempre é um desgosto profundo e traz decepções incontornáveis.
Foi quando recebeu a visita de um amigo tão patife quanto ele. “Converteu-se, está lendo a Bíblia?” -  perguntou o amigo.
Quero me redimir dos meus pecados, mas a Bíblia me faz sentir ainda mais culpado” - respondeu.
“Você está lendo a Bíblia errada, leia o Antigo Testamento” - aconselhou o amigo.
Quando este se despediu e estava saindo, tomou coragem e gritou: “transei com a sua mulher”.
“Aquela cínica desavergonhada? Pensa que foi só você?” -  comentou o amigo antes de fechar a porta atrás de si.
Seguiu o conselho daquele amigo tão canalha quanto ele. Apelou para o Antigo Testamento e sentiu-se recompensado.
Logo no Gênesis, com as estórias de Sara e Abraão, Isaac e Rebecca, de Esaú e Jacob, de Lia e Raquel, com Abimalec e outros atores coadjuvantes, ficou aliviado de todos os pecados.
Sentiu a alma lavada e leve como a pluma.
Deu um último suspiro.
E partiu feliz.

sábado, 15 de dezembro de 2012

VALE A PENA LER DE NOVO 1

CONTO QUASE PORNOGRÁFICO
(publicado em 10/09/2008)

 Em sua juventude, Andréia foi aquilo que se dizia antigamente: uma beldade. Era a jovem mais bela, invejada e desejada do bairro. As amigas queriam andar a seu lado. Sempre sobrava um dos rapazes que lhe davam em cima.
Casou-se bem nova com um empresário riquíssimo. Era um homem bom que atendia todos os seus caprichos. Amante dedicado, Fernando montou-lhe um apartamento de cobertura na Barra. Dava-lhe as jóias mais caras e um carro de luxo novo todo ano. Andréia não poderia ser mais feliz. Correspondia aos anseios do marido. Era ardente, elétrica, tinha uma grande energia sexual. Vestia-se de forma sensualíssima. Sempre o esperava de camisola transparente e uma minúscula calcinha. Assim viveram quase vinte anos.
Tiveram um filho - Leonardo - agora com dezessete anos. Andréia continuava linda, esbelta, sensual. Aos 38 anos ainda era uma beldade. Quem a visse de biquini ficava maravilhado. Custava a tirar aquela imagem da lembrança.
Ela amava aquele filho. Era louca por ele. Fazia-lhe todas as vontades. Dizia sempre ao marido: pelo meu filho, sou capaz de tudo, de morrer e de matar.
Entretanto, o filho, desde os quinze anos, começara a causar preocupação. Emagreceu. Deprimido, não se alimentava. Parecia dominado por uma paixão incontida, avassaladora e não correspondida. Entregou-se às drogas. Quase sempre, agia como um pitbull enlouquecido. Xingava, quebrava tudo em casa, agredia a todos. Abandonou a escola. Decepcionou pai e mãe. O pai já não o suportava. A mãe, porém, a beldade, tudo fazia por ele e tudo aturava daquele filho atormentado.
Por ele faço qualquer coisa, eu mato, eu morro, repetia ela.
Andréia não mais se cuidava, esqueceu-se de si própria. Vivia, agora, somente para aquele filho querido.
Os medicamentos receitados de nada adiantavam. Não havia mais esperança. O pai quis interná-lo em uma clínica para dependentes químicos. Não havia mais nada a fazer. Ela não permitiu.
Foi quando todos notaram que o rapaz estava mudando, vivia mais calmo. Voltou a estudar e a conversar com o pai que passou a orgulhar-se dele novamente. Leonardo demonstrava uma alegria contagiante. Tudo voltou à normalidade.
A beldade voltou a enfeitar-se novamente. A vestir-se bem. Cuidava dos cabelos. As amigas vibravam, ela estava de novo radiante. Parabéns, diziam os amigos ao marido, você voltou a ter uma mulher.
Um dia, na cama, ela vira para o lado e diz: hoje não, querido. Aquele ardor sexual deixara de existir.
Hoje não. Já tinha ouvido isso tantas outras vezes naquela época, mas não acompanhado daquele querido. O querido tinha um quê de remorso, de culpa. Foi aquele querido, dito daquela forma, que o fez desconfiar da fidelidade da mulher.
Passou a vigiá-la. Contratou detetive que não descobriu qualquer evidência de traição.
Após mais de um mês de investigação, o detetive deu o veredicto: sua esposa é uma mulher honrada, uma santa, só sai de casa para ir às compras, só recebe visita da mãe e das amigas.
Fernando logo pensou em homossexualismo: será que ela se transformou em uma lésbica?
A vida conjugal seguia monótona, quase fria. Raras vezes Andréia atendia aos anseios sexuais de Fernando. Mas, permanecia sensual, cuidando sempre de sua beleza. E continuava uma perfeita dona de casa. Leonardo ia muito bem na faculdade. Dedicado aos estudos, não queria mais saber de farra, de amigos. E nem de namoradas.
Foi aí que Fernando teve um estalo: os dois, a mulher e o filho, haviam mudado completamente o seu modo de ser.
Certo dia, ele saiu bem cedo para o trabalho. Como sempre, deixou o filho e a mulher dormindo. Voltou de surpresa, duas horas depois. Entrou em silêncio.
Em silêncio, Fernando foi até o seu quarto e viu: a mulher e seu filho na cama. Nus.
Leonardo deu um salto e correu. Andréia, calma, serena e sem culpa, apenas disse:
eu falei pra você, por meu filho, sou capaz de tudo.
Fernando os perdoou.
E viveram felizes para sempre.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

FÉRIAS

Já rezei reza à beça, fiz até promessa, pra nunca mais ter que trabalhar e, há mais de 26 anos, desde que me aposentei e vivo à toa, não sei o que são férias.
Este humilde blog, também; há mais de oito anos na web, nunca teve direito a merecidas férias como tantos outros.
Agora, preciso dar um tempo pra me repousar da minha inatividade. Vou dar um jeito nessa minha vida errante de vagabundo e entrar de férias.
Tirar um tempo para ler, ler, ler, descansar o teclado e evitar a LER (a Lesão de Esforço Repetido).
Vou parar agora que nada está me motivando a escrever e a Velox anda uma merda. Desculpem-me, não costumo empregar este tipo de vocabulário de redes sociais, mas não encontro outra palavra para descrever a Velox. Só mesmo afirmando que a Velox está uma merda.
Pretendo fazer um retiro espiritual dedicando-me à leitura da Bíblia. Sei que vou me divertir bastante com aquelas estorinhas obscenas e inverossímeis do Velho Testamento. Estórias jcosas que até mesmo Deus duvida. E sei, também, que a leitura vai me motivar para escrever narrativas similares de ficção.
Amanhã,  colocarei o blog no piloto automático exibindo a série “Vale a pena ler de novo” com postagens que selecionei entre as mais de 850 que publiquei aqui.
Incrível! Foi difícil a seleção. Relendo tudo, não me arrependi de nada que escrevi. Então, resolvi reprisar apenas as estórias que inventei, tentando imitar ou não “A vida como ela é” do meu ídolo Nelson Rodrigues. São detalhes dessa vida, estórias que eu contei aqui, mais verossímeis do que aquela estória medíocre daquele cretino Garotinho. Um aprendiz de Álvaro Dias como disse um comentarista anônimo.
Postagens novas somente farei aqui em edição extraordinária ou se o mundo acabar no dia 21 ou se o Capixaba desistir de cumprir o compromisso assumido de exercer com rigor a sua autoridade e não mais impor um choque de ordem em Mangaratiba.
Se ele não acabar com a bandalha em Muriqui, como prometeu diante de seu secretariado, voltarei a escrever antes de 2013.
Até lá, um feliz Natal e um próspero ano-novo para todos aqueles que se arriscarem por aqui.

N.L.: antes porém, parabéns à presidenta Dilma que completa 65 aninhos e ganhou como presente a aprovação de 78% do povo na última pesquisa CNI/Ibope.
 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

INGRATIDÃO

“Há favores tão imensos que somente podem ser pagos com a ingratidão.”
Alexandre Dumas

Já em fim de carreira, com graves problemas financeiros e pouco antes de falecer, Luiz Gonzaga chegou às lágrimas numa entrevista em que se lastimou: “Todo ano, os flagelados da seca vinham aqui me pedir comida e eu dava o que podia para ajudar. Mas, desta vez, a comida acabou antes da chuva chegar e o povo revoltado apedrejou a minha casa. Nunca poderia imaginar que pudesse acontecer uma coisa dessas comigo”.
Neste ano, o país inteiro festejou o centenário de Luiz Gonzaga que se completa hoje.
Nosso humilde blog comemorou do jeito que pôde: mantendo exposto, durante todo o ano, o selo criado pela Assembléia Legislativa de Pernambuco, colocando em inúmeras postagens textos sobre o Rei do Baião e o vídeo em que ele canta Mangaratiba, além de cobrar do prefeito uma homenagem ao artista que colocou nosso município no mapa turístico nacional e internacional.
Mangaratiba – que nunca prestou qualquer homenagem a quem a promoveu em todo o mundo - teve todo o ano para se incorporar às comemorações do centenário e... nada, nada, nada.
Sei que tanta mediocridade foi bem intencionada; mas, por favor, façam uma pequena concessão à inteligência...
Raciocinem, ainda há tempo para uma homenagem.
Mangaratiba não é mais aquele reino encantado cantado por Luiz Gonzaga, que foi além de seus limites e correu o mundo.
Fotografei-o com minha Cyber Shot e revelou-se a sua enorme ingratidão.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

COMEÇOU O CHOQUE DE ORDEM

Foi um bom começo. Logo na sexta-feira, à noite, uma verdadeira tropa de choque com PMs, GMs, fiscais da fazenda e de posturas, policiais civis e outras autoridades invadiram Muriqui para impor a lei e a ordem.
Resultado, fiquei três dias sem ouvir o nefasto pornofunk. Não vi nenhum carro de mala aberta na praia com aquele som ensurdecedor. Nenhum deles passou pela minha casa como ocorria constantemente nos outros finais de semana.  A orla não ficou apinhada de carros mal estacionados nos dois lados da av. Beira Mar, os quiosques não ocuparam o passeio com mesas e cadeiras nem emitiram som acima de 80 decibéis. Passei um final de semana tranquilo como há muito tempo não se via.
E não aconteceu aquela reunião noturna de cúpula dos meliantes com seus carros de som varando a madrugada em frente ao quiosque do Vitinho.
A prefeitura colocou placas como esta aí acima na areia e outra na entrada de Muriqui proibindo a entrada de vans e kombis lotados de "duristas".
Os locais de venda de drogas permaneceram fechados e até a Ampla deu uma dura na "gatonet" retirando amplificadores de sinal dos postes.
Até a Leila gostou, pasmem. E, é incrível, elogiou a ação do Capixaba. Sem citar-lhe o nome, é claro.
O choque de ordem tem que continuar. Mangaratiba há de voltar a ser o reino encantado cantado por Luiz Gonzaga.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

ESTORINHAS DE GAROTINHO

Com aquela mesma cara de babaca que não sabia o que significava H20, e, com aquele mesmo jeitão de corno caipira que fez greve de fome para provar inocência, Garotinho, um corrupto juramentado, continua sendo aquele mesmo idiota de sempre que acredita em tudo que lhe dizem. E publica em seu blog.
E como uma criança invejosa, mimada e mal educada, Garotinho – o medíocre - inventa ou repete estórias absurdas e inverossímeis contra quem lhe negou algo que desejava.
Ele agora vem insistindo em seu blog que a ex-secretária do escritório da presidência em São Paulo – Rosemary Noronha, que a oposição promove à condição de Chefe de Gabinete da Presidenta Dilma – acompanhou Lula em viagem a Portugal levando 25 milhões de euros (70 milhões de reais) na mala diplomática.
Imaginem o tamanho do baú diplomático para levar 250.000 notas de 100 euros. Ou 500.000 notas de 50 euros. E o peso que ela carregou, imaginem.
Diz ainda a criança mimada e pouco inteligente que Rosemary foi obrigada a declarar o que havia na mala e que foi instruída pelos oficiais da alfândega portuguesa a contratar um carro-forte para o transporte da grana até o Banco Espírito Santo, talvez, o maior banco português de investimentos.
Diz também que “Esses documentos estão arquivados na alfândega do aeroporto internacional Francisco Sá Carneiro, na cidade do Porto” e que não estão protegidos por sigilo.
Pô! Que documentos? Pô! Que banco incompetente é esse que não estava já no aeroporto esperando toda aquela bufunfa? Pô! porque não levaram todo o cascalho para um paraíso fiscal ou mesmo para o Uruguai? Pô! Por que não depositaram na filial brasileira do próprio banco? Pô! Por que levar os caraminguás para um país falido?
“A coisa foi tão primária que até eu fico em dúvida se é possível tanta burrice” – disse o consagrado canalha como que reconhecendo a sua própria estupidez.
A denúncia vazia do pernicioso Garotinho é tão primária que não mereceu nenhuma, absolutamente nenhuma desprezível linha da imprensa que vive à procura de uma bala de prata pra acabar com o Lula. A imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta, que forma um público tão vil e podre como ela mesma, não acreditou na denúncia.
Entretanto... Há gente que acredita.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

BANDALHA OU CHOQUE DE ORDEM NO RÉVEILLON?

“RÉVEILLON EM MURIQUI
Foram três dias estarrecedores, algo apavorante, aterrorizante, segundo me contaram. Felizmente, eu não vi.
Foi muito funk, malas abertas com som ensurdecedor, muito funk, tiros e brigas, muito funk, correu sangue, muito funk, foragidos do Alemão, muito funk, desrespeito, muito funk, tóxicos, muito funk, degradação, muito funk, muita gente feia, muito funk, adolescentes em coma alcoólico, muito funk, carros na contramão e mal estacionados, muito funk.
E as autoridades municipais deram uma demonstração definitiva de sua absoluta incompetência ou falta de vontade para impor a ordem.
Só mesmo a implantação de uma UPP na favela Muriqui para dar tranquilidade aos moradores.
Desisto, não mais abordarei o assunto. Carnaval estarei bem longe novamente. Aproveitarei esse Projeto Liberta Almas para libertar a minha.”

Foi o que escrevi sobre um réveillon em Muriqui. Parecia até este último final de semana que tivemos.
Desta vez, porém, não vou me acovardar. Não vou fugir, permanecerei aqui para ver o choque de ordem. Quero ver se o prefeito vai mesmo acabar com a bandalha como prometeu.
Espero que Capixaba não deixe tudo por conta do escasso efetivo da PMERJ. Já ouvi uma autoridade fazer a declaração absurda de que segurança é responsabilidade exclusiva da PMERJ e da Polícia Civil. Pelo jeito, Capixaba já acordou para uma nova realidade e deverá demonstrar que a sua guarda municipal e seus agentes patrimoniais têm alguma serventia.
Segundo já informou o sindicato dos servidores de Mangaratiba, temos cerca de 120 verdadeiros guardas municipais e quase o dobro de “agentes patrimoniais”.
Guardas Municipais são, por lei, servidores efetivos municipais que têm a função legal de colaborar na segurança pública, utilizando o poder de polícia administrativa. E só pode ser investido neste poder de polícia administrativa o servidor aprovado em concurso público e submetido a um treinamento específico. Devem ter, portanto, uma atividade de segurança urbana, em apoio aos órgãos policiais estaduais e federais.
Em Mangaratiba, porém, os últimos governos contrataram correligionários sob a denominação de “agentes patrimoniais”, mas vestindo-os com o mesmo uniforme da Guarda Municipal.
Foram contratados em cargos comissionados. Indicados por vereadores, serviram como uma espécie de moeda de troca no aliciamento de apoio parlamentar.
Apesar de circularem travestidos de guardas municipais, a grande maioria não possui nenhum treinamento específico para qualquer tipo de atendimento na área de segurança pública. Talvez, nem na área social.
Contudo, é preciso entender que segurança pública é qualquer ação que dê à população uma sensação de tranqüilidade.
Ainda não temos bandidos entre nós, nem a GM ou os “agentes” estariam preparados para o confronto. Temos, sim, adolescentes pichadores, motoqueiros com descarga aberta, funkeiros com suas aparelhagens automotivas tocando o funk pornográfico em alto volume, pequenos ladrões arrombadores de quiosques e residências de veranistas, etc.
Na maioria, são filhos de nossa própria sociedade que podem ser repelidos pela simples circulação da GM e dos “agentes”, a pé ou motorizados, por todo Município, durante o dia e à noite, e com a responsabilidade de combater a delinquência e a desordem urbanas.
Em “audiência pública” da Câmara de Vereadores, realizada no Iate Clube de Muriqui, em 2010, uma autoridade afirmou que “temos 303 guardas municipais e somos a única corporação do estado a trabalhar em regime de plantão 24 horas”.
Afinal, se são 303 agentes, calculo que devemos ter um guarda municipal para cada um, dois, no máximo, três desses delinquentes.
E, atenção: o choque de ordem não pode esquecer dos quiosqueiros que promovem a baderna visando exclusivamente o lucro.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

I FÓRUM DE SEGURANÇA PÚBLICA

Pelo jeito, Capixaba quer mesmo exercer a sua autoridade e implantar um choque de ordem em Mangaratiba.
Após afirmar que vai acabar com a bandalha, Capixaba promoveu e liderou o I Fórum de Segurança, dia 3, no Hotel Portobello, com a presença de autoridades de toda a Costa Verde. O evento contou com a participação de prefeitos eleitos das seis cidades que compõem a região - Mangaratiba, Itaguaí, Seropédica, Rio Claro, Angra e Paraty - além de vereadores, secretários municipais, autoridades dos órgãos de segurança pública da região e especialistas no assunto.
"Partilhamos a preocupação com a segurança pública em nossa região e esse fórum é o primeiro passo para tudo. Somente unindo forças vamos conseguir ações que vão reduzir a criminalidade e a violência na Costa Verde – afirmou Capixaba na abertura do fórum.
Temas que estiveram em pauta: ocupações irregulares, desordem urbana principalmente nos finais de semana, consumo de drogas, monitoramento com câmeras nos municípios, ações que acontecem nas UPPs no Rio de Janeiro e consequente migração dos criminosos para as cidades do interior e número reduzido do efetivo de policiais.
Os participantes decidiram instituir um Plano Intermunicipal de Segurança Pública e elaborar um Relatório de Intenções para ser apresentado ao Governo do Estado e à Secretaria Nacional de Segurança Pública, com as necessidades e exigências para a região.
Uma preocupação ainda maior e imediata é com relação ao período que se aproxima, a época das festividades de fim de ano, férias e Carnaval.
"Temos que nos preocupar em montar um plano com estrutura para receber uma população que triplica durante essa época do ano. Queremos o turismo, sim, os visitantes são muito bem vindos; mas queremos o turismo bom, não vamos permitir que as pessoas venham para cá para destruir a cidade - acrescentou Capixaba.
O prefeito tem que começar dando uma atribuição mais útil a sua guarda municipal e não apenas restringi-la à proteção dos bens, serviços e instalações municipais.
A GM tem que atuar com políticas preventivas de segurança em apoio à PMERJ e à Polícia Civil. Afinal, se temos cerca de 300 agentes e nem tantos bens e instalações, o que fazem eles? É um agente para cada 120 habitantes.
Uma exorbitância se compararmos com outras cidades como Ribeirão Preto com 563.000 habitantes tem 263 agentes (um p/ cada 2.140 habitantes); Diadema com 390.000 habitantes tem 206 agentes (um p/ cada 1.890 habitantes); Barueri com 256.800 habitantes tem 580 agentes (um p/ cada 442 habitantes); Paulínea com 73.014 habitantes tem 211 agentes (um p/ cada 346 habitantes); Belford Roxo com 495.000 habitantes tem 280 agentes (um p/ cada 1.767 habitantes).
Em todas as cidades citadas a Guarda Municipal tem atribuições na segurança pública, atuando na prevenção do crime e da violência com armas não letais.
São cidades com população muito maior que a de Mangaratiba, sim, mas em Louveira/SP (29.700 habitantes) e em Cantagalo/RJ (20.100 habitantes), cidades bem menores que a nossa, a Guarda Municipal também atua na segurança pública. Certamente com um número bem menor de agentes que em Mangaratiba.
É preciso entender que segurança pública é qualquer ação que dê à população uma sensação de tranqüilidade.
Julita Lemgruber – socióloga, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, ex-diretora do Sistema Penitenciário, ex-ouvidora de polícia do Estado do Rio de Janeiro e integrante da equipe que formulou o Plano Nacional de Segurança Pública do Governo Lula – afirmou que:
“O papel da Cidade é, sobretudo, a responsabilidade de desenvolver políticas preventivas. No entanto, os prefeitos se omitem, argumentando que segurança pública é um problema dos governos estaduais. Um ou outro acordou para uma nova realidade. O problema da segurança pública precisa ser compartilhado por todos os níveis de administração.”
Espero que o prefeito Capixaba tenha acordado para esta nova realidade. E, quem sabe, após o seu mandato, seja lembrado como o prefeito que implantou a lei e a ordem em Mangaratiba.

N.L.: Julita Lemgruber é responsavel pelo site Fórum Brasileiro de Segurança Pública: http://www2.forumseguranca.org.br/user/20039

sábado, 1 de dezembro de 2012

CHOQUE DE ORDEM EM MANGARATIBA

Evandro Capixaba reuniu seu secretariado na quinta-feira, dia 29, com o objetivo de estabelecer projetos e programas de governo para 2013. Além de comunicar mudanças administrativas, Capixaba apresentou novos titulares para algumas secretarias e o vice-prefeito eleito Ruy Quintanilha.
“Convoquei essa reunião para apresentar meu vice-prefeito eleito e dizer que estes próximos quatro anos serão de muitos desafios. Temos que mostrar para a população que ela acertou em nos dar mais quatro anos de governo. Vamos realizar algumas mudanças como fusão de secretarias, extinção e criação de outras, tudo para que o serviço oferecido seja melhor”, disse o prefeito.
Algumas mudanças são o desmembramento dos Serviços Públicos da Secretaria de Obras, cujo secretário será Marco Antônio dos Santos, o Marquinho da Ilha. Para a Secretaria de Administração será nomeado o ex-vereador Nelson Bertino. Será criada a Secretaria de Trânsito que terá como titular João Luiz Vasconcellos; a Secretaria de Segurança será comandada pelo capitão da PM Sidney José Silveira. O ex-secretário de Obras Humberto Vaz assumirá a Secretaria de Integração Governamental. Algumas mudanças já ocorreram, outras entram em vigor a partir de janeiro.
“Estive esta semana em Brasília e consegui mais R$ 7 milhões para a cidade. Vamos preparar várias ações para que a prefeitura possa caminhar bem nestes próximos quatro anos: a reforma administrativa, o recadastramento imobiliário, exigência de planejamento, metas e resultados por parte das secretarias, tudo que for necessário para a implantação de uma administração pública moderna”, destacou Capixaba.
O vice-prefeito eleito Ruy Quintanilha afirmou que:
“Meus esforços serão concentrados na Saúde, mas estarei em todos os setores identificando necessidades e dando sugestões. Vamos trabalhar muito. Temos que conhecer cada funcionário da prefeitura, oferecer condições de trabalho, mas também cobrar resultados, estabelecer metas, estabelecer prazos e objetivos”.
Prefeito anuncia choque de ordem
Capixaba anunciou que a primeira medida a ser posta em prática, antes mesmo de assumir seu segundo mandato, será um Choque de Ordem na cidade.
“Vamos pegar pesado contra a bandalha em Mangaratiba. Carros com som alto, estacionamento irregular, obras sem licença, sujeiras nas ruas, barracas de vendedores clandestinos. Vamos ser enérgicos. Queremos o visitante sim, mas que ele respeite a cidade, que contribua para seu crescimento e desenvolvimento, um turismo sustentável e não predatório. Temos que trazer o turismo lucrativo para cá, como fazem Angra dos Reis e Paraty” - afirmou o prefeito.

É isso aí, Capixaba. Manda ver. Você não mais precisa agradar a gregos e a troianos; então, exerça com rigor toda a autoridade que o nosso povo residente e ordeiro lhe concedeu.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

FULECO

As três opções de nome oficial para o mascote da Copa do Mundo de 2014 foram escolhidas por um comitê composto por Bebeto, Arlindo Cruz, Thalita Rebouças, Roberto Duailibi e Fernanda Santos.
Eu só queria saber quem escolheu o comitê. Duas mulheres que nada têm a ver com o futebol. Duailibi, um publicitário mais velho do que eu. Bebeto que jogou muita bola, mas sempre foi meio boboca.
E Arlindo Cruz, um verdadeiro homem do povo. O único que deveria participar do comitê por sua vivência de torcedor apaixonado pelo Flamengo; por sua inteligência e criatividade de compositor popular e por sua irreverência carnavalesca.
Arlindo Cruz deve ter feito sugestões mais inteligentes, mas foi voto vencido. De suas faculdades intelectuais e criativas – de onde surgiram tantos sambas memoráveis – não podem ter saído sugestões tão furrecas como Fuleco, Zuzeco e Amijubi.
Pra se redimir por ter participado de tão infame comitê, reabilitar seu conceito junto à opinião pública, e, também, a minha estima por ele, Arlindo fez um ótimo samba para o mascote da Copa, o Tatu Bom de Bola.
Para ouvir, siga o link AQUI. O You Tube informa que a incorporação foi desativada por solicitação de algum sacana da FIFA.

sábado, 24 de novembro de 2012

ELEIÇÃO IATE CLUBE MURIQUI

Se este blog dá mesmo sorte - já venceu com Capixaba, Zé Luiz, Haddad, Obama e com o Fluminense - vai vencer também com a reeleição do Cledson para comodoro do Iate Clube de Muriqui:
Assim que souber o resultado, postarei aqui.
 
Foi mais uma vitória do blog:
Chapa Azul (Cledson): 365 votos
Chapa Branca (Evando): 109 votos

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

LEI E ORDEM

Agora que foi reeleito e não mais precisa agradar a gregos e troianos, Capixaba bem que poderia exercer a sua autoridade e impor a lei e a ordem neste verão, principalmente em Muriqui.
Mas, não é sobre isso que quero falar. Quero me referir a Law & Order, a mais bem sucedida série de TV em todo o mundo. Um sucesso tão grande que virou franquia: Law & Order SVU (Special Victims Unit), Law & Order Criminal Intent, Law & Order Trial by Jury, Law & Order UK, Law & Order Los Angeles são as séries que se originaram da primeira lançada em 1990.
Eu assisto Lei e Ordem desde o lançamento no Brasil. Já está em sua 20ª. temporada e é a série americana há mais tempo no ar, sempre no canal Universal.
Lei e Ordem SVU (Unidade de Vítimas Especiais) chegou este ano à 14ª. temporada. Sempre estrelada por Mariska Hargitay (foto) – filha de Jayne Mansfield, aquela loura peituda que foi símbolo sexual dos anos 50 – tem como cenário as ruas de Nova York e é baseada em histórias reais.
Cada capítulo completo tem cerca de 50 minutos. Metade mostra a investigação policial até a prisão do criminoso, a outra metade aborda as ações da promotoria processando o acusado nem sempre com sucesso.
No feriado, tomei um fartão de Lei e Ordem numa maratona de 18 a 22 horas. Um dos quatro capítulos começou na recepção lotada de um hospital com a cena que me fez escrever a postagem.
Tentem imaginar a cena:
- abruptamente, entra pela recepção um médico e enfermeiros conduzindo a maca com um acidentado todo entubado;
- uma senhora tipo classe média, branca, cerca de 50 anos, segura o médico pelo jaleco e reclama atendimento. O médico se desvencilha e segue com a maca;
- a nobre senhora, então, dirige-se à recepcionista e reclama: “Estou aqui há duas horas e ainda não fui atendida” – mostra o braço e continua – “tenho uma coceira aqui no pulso que não passa”;
- nisso, entra uma jovem toda extropiada, visivelmente agredida, roupa rasgada e cheia de escoriações no rosto, que sofreu um estupro;
- a recepcionista logo lhe dá toda atenção e vai levá-la para atendimento médico imediato;
- a mulher da coceira no pulso não se contém e fica gritando: “Estou na frente dela, estou na frente...”
Vejam vocês, não é somente aqui que os doentios infestam os hospitais. O enfermo imaginário é uma entidade internacional.
E não sou apenas eu a criticá-la.