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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

VALE A PENA LER DE NOVO 4

ABORÍGENE AUSTRALIANO
(publicado em 9/06/2010)

Nasceu robusto, gordo, cabeludo e cheio de dentes, acima do peso considerado normal, com mais de 4,800k. E como era feio. Era feio de doer o parrudo bebê.
Os parentes e amigos que foram visitá-lo se espantavam e não conseguiam disfarçar o mal-estar diante daquela desagradável visão.
Quando começou a engatinhar, parecia um Demônio da Tasmânia. Certa vez, foi mexer com o gato que dormia com a tranquilidade dos gatos. O bichano deu um salto e saiu em disparada. Nunca mais foi visto.
Foi crescendo e cada vez mais feio ia ficando. Aos cinco anos, tinha quase o dobro do tamanho de crianças da mesma idade. Entrou para o jardim de infância e os coleguinhas, com medo dele, não queriam mais voltar para a escola. Houve uma reunião de pais e a diretora solicitou que a criatura fosse retirada do convívio escolar.
Quando entrou para o ensino fundamental, era o maior da turma. Parecia ser aluno da quarta série. Era o mais feio, claro, mas, também, o mais inteligente e estudioso.
Devido ao seu tamanho, jamais foi vítima do “bullying”. Porém, apelidaram-no de Aborígine Australiano. Mais tarde, abreviaram para Abori.
Humilde, ele nem ligou e levou o apelido para a faculdade onde se formou, com méritos, em medicina. Como especialidade, escolheu a pediatria. Adorava crianças.
Nunca teve amigos nem namorada, mas era feliz. Um homem bom, excelente caráter. A feiura em si mesma jamais lhe fez mal algum.
Montou um consultório que viveu às moscas. Tentou empregar-se em uma clínica infantil, mas nenhuma quis admiti-lo. Com aquela cara, não levava jeito de médico. Ainda mais pediatra.
Desistiu da medicina e somente conseguiu emprego em um circo onde se apresentava preso numa jaula.
Era apresentado como “Abori, um assombro”. Voltou a assustar as crianças que agora pagavam para vê-lo.
Apaixonou-se por uma trapezista linda, escultural, de uma beleza absurda. Ela era cega e pôde ver toda a beleza interior de Abori. Retribuiu ao amor intenso e incondicional que ele lhe dedicava.
Casaram-se. Apenas no civil, junto com outras dezenas de casais que não entendiam como uma mulher tão bela pudesse dizer sim àquele ser horroroso. “Só pode ser cega”, comentavam sem saber que era verdade.
Abori e a equilibrista cega foram muito felizes. Tiveram uma filha, lindíssima como a mãe. O pai, ainda mais feliz, dava graças a Deus por não ter transmitido sua feiura para a filha. Mas, preocupava-se: “será que ela era cega como a mãe?”
Um mês depois, Abori tomou coragem e pegou a criança no colo pela primeira vez. Ela dormia. Abriu os olhinhos que ainda não possuíam a completa visão quando ele a beijou. Ali, pertinho, porém, ela conseguiu focalizar o rosto do pai.
A coitadinha apovorou-se...
Morreu de susto.

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