(publicado em 18/07/2012)
O pai – Ascânio – e a mãe – Íris – decidiram juntar os dois nomes e formar um terceiro. Após algumas tentativas chegaram a Ascaris. Acharam bonito, másculo, e resolveram dar tal nome ao primeiro filho.
Ascarisinho recebeu todo o amor dos pais e cresceu feliz. No jardim de infância e no ensino fundamental tudo transcorreu muito bem. Era bom aluno, educado e obediente. Uma criança bonita e cheia de virtudes, o filho que todos os pais gostariam de ter. Entrou com todos os méritos para o ensino médio.
Algo aconteceu, porém, que mudou sua vida a partir do terceiro ano em que cursava uma escola de alto gabarito.
Um colega leu no livro de ciências algo sobre o ascaris lumbricóides, popularmente conhecido como lombriga. Pra quê? Mostrou a todos. A turma, então, passou a chamar o Ascaris de lombriga.
Este apelido afetou de forma implacável o adolescente equilíbrio psicológico do nosso herói. Deixou de ser aquele aluno dedicado. Tornou-se um estudante relapso. Parou de estudar, saiu da escola, mas o apelido o perseguiu pelas ruas do bairro até a idade adulta.
Brigava com todos. E apanhava sempre. Sem amigos, solitário, deu de beber. Bebia muito. Sujo, mal vestido, somente atendia quando o chamavam para beber uma cachaça: “Ei! Lombriga, bebe uma comigo”. Nunca ninguém lhe pagou um prato de comida, um reles pastel, uma coxinha ordinária.
Revirava o lixo em busca de algo pra comer e passou a ser de fato uma lombriga. Vivia na merda como uma lombriga. Tentou sair e caiu na titica. Voltou à sua vida indigna.
Feio, sujo, barbudo, cabeludo, esfarrapado, jogado na sarjeta, foi acolhido por uma senhora de alma bondosa que o levou para um asilo de assistência social.
Lá, ofereceram-lhe um prato de comida. Ele comeu avidamente e logo demonstrou algum contentamento.
Depois. cortaram o seu cabelo, barbearam-no, deram-lhe um prolongado banho, e o vestiram com roupas limpas.
Ele se olhou no espelho e não acreditou no que via. Já era noite. Depois de muitos anos, tinha uma cama pra dormir. E viu que era bom.
No dia seguinte, a bondosa senhora sentiu sua falta no café da manhã. Foi procurá-lo. Encontrou-o morto. Parecia sorrir.
Ela se arrependeu do que fez. Lembrou do que disse o filósofo Falcão no final de uma de suas educativas canções: “lombriga quando sai da merda morre”.
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