Há 70 anos, o único telefone da rua em que eu morava ficava na
minha casa. Toda vizinhança, ricos e pobres, ia lá telefonar. Era uma caixa
preta – preta mesmo – pendurada na parede com uma manivela. Era desses telefones
que só se veem em filmes bem antigos. Rodava-se a manivela e uma telefonista
atendia para fazer a ligação desejada.
Minha casa tinha telefone porque meu pai trabalhava na Companhia
Telefônica Brasileira que não mais existe. E era de graça. A coisa só mudou
quando o governador Carlos Lacerda, vinte anos depois, implantou a Cetel e
vendeu telefones para quem desejasse.
Atualmente, não existe um único mortal sem, pelo menos, um
telefone celular no país. Temos mais telefones por habitante do que os
americanos. São mais de 202 milhões de celulares no Brasil, equivalente a 158%
da população (excluindo-se, claro, as criancinhas que ainda dá pra pegar no
colo). Nos EUA, a proporção é de 156%, enquanto a média mundial é de 115%.
De acordo com o levantamento,
o aumento do poder de compra da população e a intenção de economizar na
conta levaram à proliferação de linhas móveis no país.
Fico admirado ao ver a secretária cá de casa com um smartphone de
última geração. E quando surge um mais avançado, mesmo custando acima de três
mil reais, gente como ela corre para comprá-lo.
Somente aí pelos 50 anos de idade é que fui ter um telefone
celular. Recusei-me a carregar aquele tijolão e não queria ser encontrado em
qualquer lugar a qualquer hora do dia ou da noite. Hoje, tenho três. Dois deles
oferecidos gratuitamente pelo plano da Oi fixo que utilizo. O plano, não os
celulares. Minha mulher sempre reclama quando saio e deixo o celular em casa. Mais da metade da minha vida eu passei sem ele, por que vou usá-lo neste pouco tempo que me resta?
Vejo agora todo mundo com celulares em todos os lugares. Nada evoluiu tanto no mundo como o telefone celular. Sempre
usados para mandar mensagens pelos diversos aplicativos existentes ou para
fazer selfies. Muita gente nem imagina que o celular foi criado para a
comunicação através da fala. Em compensação nada sofreu maior involução que o relacionamento pessoal.
Aliás, as pessoas não mais se falam nem trocam ideias. Mesmo
quando reunidas, não conversam, estão todas digitando os seus celulares. Um
vício que mantém pessoas acordadas até altas horas digitando no feissi ou no
whatsapp.
As estatísticas demonstram que o índice de natalidade caiu na
medida em que aumentou o número de celulares. O que demonstra também ser o celular,
hoje, um verdadeiro anticoncepcional.
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