“Conheço os brasileiros, isso não vai dar em nada.”
Afirmava dom Pedro II,
reunido com sua família e auxiliares, na tarde daquele dia, enquanto
Benjamim Constant e Quintino Bocaiúva tramavam a queda da monarquia. Em meio à
confusão reinante no palácio, dom Pedro II mantinha a calma e tentava
tranquilizar a todos afirmando que tudo não passaria de fogo de palha.
Certamente confiava na absoluta
lealdade de seu comandante de armas.
O marechal Deodoro era um
monarquista convicto. Um ano antes, escrevera uma carta ao sobrinho
anti-monarquista, aluno da Escola Militar de Porto Alegre, afirmando: “República no Brasil é coisa impossível,
porque será uma verdadeira desgraça... Os brasileiros estão e estarão muito mal
educados para republicanos. O único sustentáculo do nosso Brasil é a Monarquia;
se mal com ela, pior sem ela”. Em outra carta ao sobrinho, recomendou: “Não te metas em questões republicanas,
porquanto República no Brasil e desgraça completa é a mesma coisa; os
brasileiros nunca se prepararão para isso, porque sempre lhes faltarão educação
e respeito”.
Manoel Deodoro da Fonseca,
tido atualmente como o fundador da República, não tinha a mais leve inclinação
pelo regime que se pretendia fundar. É o que assegura seu biógrafo Raimundo
Magalhães Junior, sugerindo que ele se converteu ao projeto republicano forçado
pelas circunstâncias, e a contragosto, ao perceber que a mudança de regime se
tornara inevitável.
Deodoro voltou da guerra do
Paraguai com o peito repleto de medalhas. Promovido a brigadeiro, posto
equivalente ao de General na atual hierarquia militar, foi nomeado comandante de armas da província
do Rio Grande do Sul. Lá começaram suas divergências com o estancieiro Gaspar
Silveira Martins, também conselheiro imperial e a mais importante figura da política gaúcha.
Ao fim da tarde daquele dia,
dom Pedro II se convenceu de que era necessário compor um novo ministério.
Cometeu o erro de nomear o senador Silveira Martins para comandar a reforma
ministerial.
À noite, Deodoro tomou
ciência da nomeação. Enfermo, prostrado na cama, parecia não ter forças para
sobreviver até o dia seguinte, somente aderiu à mudança do regime na madrugada
do dia 16 de novembro.
A notícia da nomeação de
Silveira Martins para chefiar o novo ministério de dom Pedro II, na noite de 15
de novembro de 1889, foi o que levou o relutante Deodoro a apoiar os republicanos, assinar a proclamação e tornar-se o primeiro presidente da República.
Pois é, na verdade, devemos a proclamação da República a uma mulher: Maria
Adelaide Andrade Neves Meireles, a Baronesa de Triunfo.
N.L.: postagem baseada no livro 1889 de José Laurentino Gomes.
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