São os policiais que, equipados com mira telescópica, acertam a cabeça das velhinhas na porta do barraco. Ou apatetados como os policiais das comédias de Buster Keaton, matam-se uns aos outros.
Supondo que os policiais sejam melhores atiradores do que os traficantes – se não forem, algo está errado – não se entende que não saibam contra quem estão atirando.
Os paisanos tombados nos combates, por exemplo, nunca pertencem às hostes do crime. São moradores a caminho da igreja ou rapazes em visita à avó.
Como os bandidos não matam ninguém, e também não estão entre os mortos, a violência no morro deve ser causada por uma guerra entre facções da polícia.
Tudo isso indica também um grave desperdício. Imagine o que não se investe em contingente, tempo e dinheiro na captura de traficantes carimbados – às vezes, com o sacrifício de inocentes - para que eles sejam logo libertados por juiz zeloso da “progressão da pena” ou da “falta de provas”. Sem falar nos bem-comportados que saem para gozar o Natal em família esquecem-se de voltar e retomam seus hábitos de ordenar execuções e atacar as UPPs.
Donde, para que prendê-los?
Só se sabe que, com ou sem motivo e pelo menos uma vez por semana, um grupo de “moradores” – atenção às aspas – sairá pela comunidade depredando postos de atendimento médico, agredindo enfermeiros, botando médicos para correr e destruindo benfeitorias a custo implantadas ali.
No passado, havia o teatro de protesto. Hoje, o protesto é um teatro.
Autor das biografias de
Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda que eu li com imenso prazer, Ruy
Castro é também o autor do texto acima. Um texto pleno de sarcasmo que eu gostaria de ter escrito por ser
um libelo contra a imprensa manipuladora e o jornalismo hipócrita que se faz
atualmente.
N.L.: O texto foi publicado hoje na Folha de São Paulo
N.L.: O texto foi publicado hoje na Folha de São Paulo
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