Total de visualizações de página

quinta-feira, 13 de março de 2014

UÓSTÃO, O ADOLESCENTE

O escrivão não sabia escrever Washington. Nem os pais. O nome Uóstão foi motivo de piadas na escola e lhe causou dissabores. Por isso, preferia ser chamado de Ostinho.
Tinha pouco mais de 15 anos, tatuagem no braço e na perna, brincos e piercing no nariz; cabelo moicano ridículo, espichado com gel, macaqueando Neymar,  e aparelho nos dentes comprado em camelô.
Passou quatro anos cursando o ensino médio, sem conseguir sair da segunda série. Leitura, nem pensar. Sempre preferiu o feissibuque e os joguinhos de computador. Pouco falava, apenas um papo furado quando o smarthphone permitia. Aparelho que ele vivia digitando.
Funkeiro, pichador e homofóbico - foi ele quem pichou o bonito portal na entrada de Muriqui - para ele todas as meninas eram cachorras. Ou vadias. Agredia a namorada e se tivesse tido algum futuro pela frente seria processado pela Lei Maria da Penha aí pelos 30 anos.
Não respeitava ninguém, muito menos os pais que nunca lhe impuseram limites e sempre atenderam a todos os seus desejos. Inclusive com dinheiro que ele utilizava pra comprar drogas e Ice.
Ultimamente, gostava de uma nova brincadeira com seus iguais na linha férrea. Com um pé em cada trilho, esperava o trem se aproximar buzinando pra cair fora. Ganhava quem ficasse até o último instante para sair da frente do comboio.
Uóstão, o adolescente, era sempre o vencedor. Pulava fora somente quando o trem chegava a cinco metros de distância.
Um dia, resolveu bater seu próprio recorde e ficou mais um pouco. Perdeu o equilíbrio, caiu.
A composição cortou-o ao meio, bem abaixo das costelas.
Seus pais agora culpam o maquinista e acionam a MRS para conseguir uma indenização. Se conseguirem, será muito pouco.
Uóstão não valia quase nada.

N.L.: Nem tudo é invenção minha, a brincadeira na linha férrea existe de fato em Muriqui.

Um comentário:

Anônimo disse...

Boa tarde, Lacerda.
Esse aconteceu há alguns anos atrás, né?
Me lembro de um carnaval q passei em Muriqui, há uns 7, 10 anos atrás em q um garoto q estava brincando na linha e teve
as pernas decepadas pelo trem.
Ele ficou caído ao lado da linha, com a cabeça apoiada na perna de um dos amigos, com uma perna pendurada e a outra muito machucada.
Lembro q ele ficou um bom tempo lá, perdendo sangue até a chegada do socorro, pois o pessoal da ambulância ficou preso por causa
de uma barreira que havia em uma rua que dava acesso ao local do acidente.
Até hoje me pergunto se ele sobreviveu, como ficou, etc...
Jamais esqueci a cena.
Será que é desse garoto que você fala?