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quarta-feira, 19 de março de 2014

A PALAVRA DE DEUS

Segundo Baruch Spinoza. Já ouviu falar dele? Foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada filosofia moderna. Nasceu em Amsterdã, em uma família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.
Eu sou apenas um discípulo seu, assim como Saramago que afirmou ser a Bíblia o Livro dos Disparates.
Como simples blogueiro, jamais poderia fazer uma crítica tão perversa ao livro mais lido e respeitado no mundo em todas as eras como fez o Nobel de Literatura. Ele, porém, foi um ateu. Eu sou apenas um quase ateu, graças a Deus.
Filósofo e profundo estudioso da Biblia, Spinoza viria a se tornar um dos maiores pensadores racionalistas do século XVII.
Ao estudar teologia, Baruch – ou Benedictus - começa a criticar alguns princípios religiosos e por conta dos seus escritos é excomungado pelos judeus em 1652. Antes ele já havia sido excomungado, mas os judeus ainda lhe deram uma chance de se redimir e pedir perdão pelos seus pensamentos. No entanto, o filósofo recusou e foi excomungado pela terceira vez. Esta foi uma excomunhão definitiva que o bania completamente das sinagogas e do judaísmo.
Com a excomunhão ele foi proibido de se aproximar das pessoas a menos de 10 passos de distância e ninguém deveria se comunicar com ele, nem beber ou comer ou lavar-se na mesma água em que ele tomou banho. O que o tornou ainda mais solitário e também abandonado por sua família.
Assim Deus falou para Baruch Spinoza:

"Pára de ficar rezando e batendo no peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?
Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.

Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção à tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.
Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?
Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.
Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja?
Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que agradeçam. Tu te sentes grato?
Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. Te sentes olhado, surpreendido? Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.
Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações?
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti."

Baruch Spinoza (1632, 1677 Haia - Holanda)

5 comentários:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Caro Lacerda,

Como vai?

Realmente ele foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Déscartes e Gottfried Leibniz. Vale lembrar que as inspiradas e inspiradoras palavras acima que compartilhou foram elaboradas em pleno século XVII por aquela mente brilhante que o Criador nos brindou, sendo que eu concordo com muita coisa exposta por Spinoza. Pois, mesmo sendo um leitor habitual da Bíblia e encontrando sentido em me congregar em templos (ou casas) com outras pessoas, bem como louvar o Eterno e orar, reconheço que também é possível experimentar Deus de outras maneiras. E considero também que muitas das vezes a atividade religiosa nos afasta de uma relação sincera com o Divino quando nos tornamos seres alienados dentro de práticas rotineiras e de uma moral imposta. Portanto, creio que vale a pena apreciarmos o que Spinoza escreveu com discernimento e absorvendo as coisas boas, pois suas reflexões críticas podem contribuir imen samente para o desenvolvimento da nossa espiritualidade, ainda que a leitura gere algumas crises passageiras em relação aos conceitos da religião que, por vezes, petrificamos deixando de dialogar internamente.

Abraços.

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Em tempo!

Seu texto lá na CPFG ainda tem rendido algun debates que tenho travado com um internauta ateu.

Participe conosco sempre que desejar!

leila disse...

Gostei muito!

LACERDA disse...

Rodrigo,

Aprendi muito com aquele debate de alto nível. Fiquei feliz por tê-lo motivado.
Porém, não tenho o conhecimento de vocês para participar. Talvez, por isso mesmo seja um quase ateu graças a Deus.

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Oi, Lacerda.

Não se acanhe em participar. Vc é bem vindo no nosso blogue.

Abraços.