O médico José Maria Fontes – presidente do sindicato cearense – foi o organizador da vaia e se justificou: “Os médicos cubanos vão ser utilizados para trabalho escravo. Não foi no sentido pejorativo que foram chamados de negros. O que ficou colocado é que a gente estava dizendo para eles que eles iam exercer trabalho escravo, no sentido de eles não terem direito a férias, ao 13º salário, a hora-extra e não terem direito a casar nem a namorar no Brasil porque se tiverem filho com brasileira vão adquirir cidadania. Nossa orientação no sindicato foi nesse sentido, que os manifestantes chamassem a atenção para a questão do trabalho escravo”.
O cearense tem um discurso único – a escravidão – enquanto outros presidentes de sindicatos – de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul – apelam também para a incapacidade dos médicos cubanos.
Nenhum escravo jamais gostou de ser escravo e sempre desejou fugir da escravidão, como foi o caso de Ganga-Zumba, Zumbi e os Palmares. Então, meu Deus, por que se mostram tão satisfeitos de virem para o Brasil? E dizem que estão retribuindo ao Estado cubano que lhes deu a formação médica gratuita, assistência médica, educação, moradia, alimentação e, também, as suas famílias?
O médico cubano Alejandro Santiago Benítez Marín, 51 anos, está radicado no Brasil desde 2000. Veio para Santa Catarina em um acordo da prefeitura de Irati com o governo de Cuba e, dois anos depois, resolveu ficar no Brasil, onde vive com a mulher e quatro filhos.
“Em dois meses, eu já entendia perfeitamente tudo. Fazer medicina é igual em todo o lugar, só muda o endereço. Os médicos cubanos são muito bons, nossa medicina é a melhor do mundo. Há médicos cubanos fazendo um excelente trabalho no Norte e Nordeste. O Conselho Federal de Medicina tem nos ofendido sem necessidade desde o início, chamando-nos de escravos, curandeiros, feiticeiros. Eu sou incapaz de ofender um médico brasileiro, mesmo conhecendo médicos brasileiros que cometem erros, a imprensa publica sempre. Tem médico ruim e bom tanto no Brasil quanto em Cuba. Não temos culpa do que está acontecendo no Brasil e que os médicos de fora têm que vir”.
Entre os médicos brasileiros, nem aqueles que se formam em universidades públicas sentem algum impulso ético de retribuir alguma coisa ao país que lhes deu ensino, formação e futuro de graça.
Nelson Rodrigues, médico cubano, 45 anos, desembarcou em Recife afirmando que “Somos médicos por vocação, não nos interessa um salário, fazemos por amor". Com ele veio Milagros Cardenas Lopes, 61 anos, que assegurou "Nossa motivação é a solidariedade”.
O fundamento básico na formação do médico cubano é a solidariedade e o humanismo. Olham o paciente como um ser humano e aprendem a tratá-lo holisticamente (pode ir ao dicionário que eu espero) para traçar um diagnóstico. O médico cubano é treinado para conhecer a natureza humana muito mais do que aqueles que por aqui fazem o mapeamento tecnológico do corpo humano, separam-no em partes e não olham nem tocam e pouco falam com seus pacientes. E tome dipirona para qualquer suposta “virose”.
Aqui, porém, o comportamento lastimável de dirigentes soberbos dos sindicatos médicos está na contramão dos anseios da população por mais médicos. Seu corporativismo egoísta e evidente não pode prevalecer quando contrariam interesses e direitos de uma cidade como Gurupá, no Pará, que registra o menor número de médicos por habitantes no país - apenas um para 29.000 habitantes - segundo o DATASUS. Enquanto Niterói é a cidade com maior número de médicos, um para cada 176 habitantes.
Estes quase criminosos sem escrúpulos, porém, sabem, com certeza, que a medicina cubana é reconhecida mundialmente pela excelência, ao contrário da brasileira; que o Brasil está apenas copiando uma boa prática de outros países altamente desenvolvidos que importam médicos quando eles são necessários para a saúde pública.
Cerca de 40% dos quase 235 mil médicos registrados no Reino Unido são estrangeiros. A Índia é o principal fornecedor para os ingleses, com 25 mil profissionais. Os Estados Unidos também são grandes importadores. A cota de profissionais estrangeiros entre os americanos ultrapassa de 25%. A Noruega tem um programa de importação de médicos que é considerado um exemplo.
Cuba é um tradicional exportador de médicos. Há ou já houve médicos cubanos em 108 países.
A medicina cubana tem relevância internacional também na área de medicamentos. Nos anos 90, Cuba se tornou o primeiro país a desenvolver e comercializar a vacina contra a meningite B. Depois, Cuba criou vacinas contra a hepatite B, atualmente fornecidas para 30 países, entre eles China, Índia e Rússia.
Pacientes do mundo inteiro vão para Cuba em busca de tratamento para o vitiligo.
Quanto ao Revalida, durante sua visita a Cuba, o presidente uruguaio, Pepe Mujica – tão elogiado por aqui - afirmou com certa amargura que “o Uruguai já reconhece a maioria dos títulos. A resistência só é mantida em algumas especialidades, as que dão mais dinheiro para os médicos e que custam mais caro aos pacientes”.
O Revalida tinha que ser obrigatório para todos os médicos recém-formados, inclusive para os brasileiros que saem das medíocres faculdades particulares que temos no país diagnosticando “viroses” e receitando dipirona. Seria como se faz com os formados em direito que somente é considerado advogado e pode exercer a profissão se for aprovado pelo exame da OAB.
N.L.: CONTINUA DEPOIS DE AMANHÃ
6 comentários:
Continue,por muitos dias,Lacerda.
Estas postagens são demais!!!
Obrigado. Serão apenas quatro aviões negreiros.
Está um luxo!!!!
Eu, como brasileira, senti vergonha daquelas vaias. Se eu tivesse como, pediria humildemente DESCULPAS para o Dr. Juan, por aquela parte dos meus compatriotas o agredirem de uma forma tão descabida. Fiquei extremamente chocada e triste.
É Nina,
“Que cena infame e vil...
Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!”
(Castro Alves, em Navio Negreiro)
Muriqui Lacerda, aqui é o Malaquias.
Infelizmente esse tipo de atitude preconceituosa e elitista é comum nas universidades particulares brasileiras, visto que essas pessoas pensam que o dinheiro delas as torna melhores que os outros e donas do destino das outras pessoas.
Os papos eram só esses: " Fui para Nova York, Orlando, Las Vegas, Paris, Londres, etc", como se isso as tornasse mais cultas e mais sabidas que as outras, como se a História dos Estados Unidos, França ou Inglaterra fosse melhor que a nossa.
Mal sabem aquelas idiotas que esses mesmos países por quem elas babam no passado disputaram a tapa territórios brasileiros que elas mesmo tratam como pura terra de índio. Mal sabem o interesse que as grandes potências tem na Amazônia que as mesmas acham que não serve para nada. Mal sabem o Acre que elas pensam não existir quase causou uma guerra entre Brasil e Bolívia pior que a terra do Paraguai, e que um britânico, do país que elas tanto babam o ovo, pirateou do Acre os seringais plantados na Malásia.
Mas, o que se esperar de pessoas como essas ? São pobres de espírito.
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