Havia de tudo ali. Mulheres gordas e saudáveis que tinham discutido com o marido ou que estavam enfastiadas com o trabalho doméstico ou com os filhos; mães levando crianças com o nariz escorrendo ou com pequenos arranhões nos joelhos; bêbados agressivos levados por policiais; jovens melancólicas e depressivas com preocupação obsessiva com seu estado de saúde: algumas delas a fim de conquistar um médico; gente com sensações subjetivas e sintomas absurdos próprios de hipocondríacos; muitos com uma simples dor de cabeça ou resfriado ou unha encravada; idosos saudáveis padecendo de solidão e carentes de atenção.
Doentes mesmo, pouquíssimos. Quase todos doentios.
Foi, então, que formei minha opinião sobre a saúde pública:
não tem jeito.
Enquanto o maior interessado não cuidar de sua própria saúde, como escrevi em postagem anterior, a saúde pública jamais terá jeito.
Volto ao tema porque leio hoje no EXTRA Online a seguinte matéria que me dá toda razão.
"Casos sem gravidade tiram ambulâncias do Samu de ação
Eles atendem “pesadelo, mau pressentimento, mulher em dias mais acalorados, tremor nas carnes”. Assim tem sido a rotina dos técnicos de enfermagem bombeiros desde que o Samu foi incorporado ao Grupamento de Socorro e Emergência (GSE), em 2009. Mais do que sobrecarregar as equipes, esses chamados indevidos tiram viaturas de ação, podendo deixar vítimas graves sem socorro imediato.- A maioria dos atendimentos é bobagem, coisa que a pessoa poderia resolver sem chamar ambulância. Tem muito chamado por dor de cabeça, dor de barriga. E até mulher carente que tem fantasia sexual com bombeiro. Enquanto isso, vítimas graves ficam esperando - disse um bombeiro.
No último dia 11 de abril, uma equipe do Samu foi acionada para atender uma mulher que se sentia mal em casa, com sinais de dengue.
- Ela tem problemas de pressão e não está conseguindo se levantar. Acho que é dengue - contou o marido, Wellington Alciole.
Ao deixar a mulher com sinais de dengue na UPA, o bombeiro desabafou:
- Não era nada demais. Poderia ter vindo de ônibus.
A assistência a idosos é outro atendimento frequente.
- Já fui chamado para trocar fralda de idoso e convencer velhinha a tomar remédio - contou um bombeiro.
No dia 10 de abril, Juracir Vieira chamou o Samu para atender a tia, de 94 anos, que estava “ofegante e com fraqueza nas pernas”. Pressão, batimentos e glicose normais, o bombeiro pergunta:
- Isso começou hoje?
- Não, há três dias - respondeu Juracir.
O motorista da ambulância parecia não acreditar:
- Vim da Zona Oeste. Levei 40 minutos, com sirene ligada, até aqui, em Bento Ribeiro, e não era nada grave."
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