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terça-feira, 5 de outubro de 2010

ABORTO

Dei uma passeada pelo Youtube e vi uma infinidade de vídeos de padres, pastores e afins, combatendo vigorosamente o PT e a Dilma por suas declarações sobre a descriminalização do aborto. Não votem na Dilma nem no PT, dizem quase todos. Outros deixam a ordem subentendida. Confundem descriminalização com legalização.
São gravações feitas em cultos e missas nas mais diversas igrejas em todo o país. Essa campanha, com absoluta certeza, foi muito mais forte que a onda verde da Marina. Aqueles que seguem fielmente as orientações de padres e pastores, na última hora, dividiram-se no apoio a Serra e Marina. Mais para a Marina, naturalmente.
O aborto já tinha derrotado o Lula contra o Collor e a mulher do Serra deu a dica, em Nova Iguaçu, quando abordou um eleitor da Dilma na rua e afirmou: "mas, ela mata criancinhas". Infelizmente, não identificamos essa onda suja e perversa há mais tempo.
A verdade, porém, é que as declarações da Dilma foram sempre compatíveis com sua preocupação sobre a saúde, a liberdade e a vida da mulher. Principalmente, com as jovens carentes que abortam nas piores condições possíveis, correndo sérios riscos de vida e sem qualquer apoio do poder público. E podendo até serem presas e condenadas porque, em momento de desespero, optaram pela interrupção da gravidez. Jamais a Dilma se declarou a favor do aborto.
A nefasta campanha contra ela nesse aspecto foi outra baixaria da oposição para faturar com uma visão ultrapassada e fundamentalista sobre os direitos da mulher mais carente.
A Dilma nem o PT jamais defenderam a legalização do aborto como ocorreu nos Estados Unidos e outros países europeus, nos anos 70. Fato que coincidiu logo com a redução da mortalidade na gravidez e com a redução da violência e aumento da segurança a partir de meados dos anos 80. O economista Steven Levitt e o jornalista Stephen Dubner contam essa história no livro Freakonomics, o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta – filho, cadê o exemplar que te emprestei? –  provando que a legalização do aborto teria sido a responsável pela redução da criminalidade em Nova York.
A uma semana da eleição, os principais líderes das diversas crenças protestantes reuniram-se com Dilma Rousseff na ocasião em que ela pôde expor a sua verdadeira posição sobre o aborto.
Afirmou ser contra a legalização e que sua descriminalização seria uma questão a ser discutida pelo Congresso. Afirmou ainda que sua grande preocupação era com a saúde da mulher e com os riscos que elas corriam ao optar pela interrupção da gravidez. Defendia para tais mulheres o apoio da saúde pública com tratamento psicológico e não a ameaça de prisão. Defendia um tratamento idêntico ao que ocorre atualmente com os viciados em drogas.
Os líderes protestantes aceitaram sua palavra e declararam o voto na Dilma, afirmando que a Marina tinha sido dissimulada ao propor um plebiscito sobre a legalização do aborto.
Era tarde. A informação teve muito pouco tempo para chegar aos cultos e aos eleitores mais tementes a Deus e aos mandamentos.
Assim, Dilma deixou de vencer a eleição no primeiro turno.
Mas, agora, haverá bastante tempo para os esclarecimentos necessários. Temos que mostrar a grande diferença que existe entre descriminalização e legalização.

P.S.: quero parabenizar José Luiz do Posto pela esplêndida votação – 2.175 votos, isto é, mais de 10% dos votos válidos – obtida, em Mangaratiba, pelo nosso amigo comum Rodrigo Bethlem. Ele foi eleito deputado federal com 74.307 votos. Foi o quinto do PMDB e o décimo mais votado no Rio de Janeiro. Eu participei com o voto e com o jingle que fiz para a campanha.

Um comentário:

Anna Banana disse...

Esses "líderes" religiosos precisam ser processados! Cadê Advogados, para pegar esses safados?