Quando escrevi aqui sobre isso, ninguém ligou (ver ICONOCLASTIA e, também, LITERATURA PRESTA DESSERVIÇO À LEITURA, em setembro/08). Nenhum comentário recebi. Nem contra, nem a favor.
Mas, agora, foi Zuenir Ventura quem falou e, logo, O Globo abriu espaço para discutir o assunto: se os livros indicados pelas escolas como leitura obrigatória são culpados pelo desinteresse dos alunos pela leitura.
E quando um grande jornal abre espaço para discutir um tema - fingindo imparcialidade - é porque concorda com ele.
Zuenir levantou o debate com a pergunta: “a leitura obrigatória de clássicos, como "Iracema" ou "Senhora", é capaz de incentivar um aluno a ler ou vai afastá-lo da literatura?”
No mês passado, sua coluna em O Globo levou o seguinte título: "Como (não) formar leitores", na qual o escritor e jornalista Zuenir Ventura criticou uma lista de livros cobrados no ensino médio por uma escola que incluía obras "de discutível qualidade estética ou literariamente datadas" como "Senhora" e "Iracema". Questionou se não seria mais interessante adotar autores mais palatáveis como Fernando Sabino e Rubem Braga.
Diante dos comentários que recebeu de professores, Zuenir esclareceu que não é contra os clássicos. “Lê-los e relê-los é fundamental. Mas tentar impor a um leitor iniciante Lima Barreto e, até mesmo Machado de Assis, é querer afastá-lo do prazer da leitura. Primeiro é preciso dar textos mais agradáveis para, depois, aumentar o nível de complexidade” - disse Zuenir Ventura.
Foi o que afirmei neste blog quando disse que “o texto e o estilo de Machado de Assis estão completamente ultrapassados. E ninguém tem a coragem de dizer. Atualmente, após cem anos de sua morte, colégios e professores ainda indicam Machado de Assis como leitura obrigatória. Talvez, por isso, os estudantes, em sua maioria, não adquirem o salutar hábito da leitura.”
O Globo entrevistou alunos e relacionou os livros cobrados como leitura obrigatória em alguns colégios do Rio de Janeiro. Vejo que o São Bento continua cobrando a leitura de Machado de Assis, mas em compensação exige a leitura de Jorge Amado, Graciliano Ramos e Clarice Lispector.
Para mim, a melhor lista de livros obrigatórios é a do Pedro II que inclui autores como Mário de Andrade, Clarice Lispector, Ariano Suassuna, Dias Gomes, Guarnieri, Chico Buarque/Ruy Guerra/Paulo Pontes, Rubem Fonseca e até Kafka.
Isso é que é leitura obrigatória, embora também incluam Machado de Assis e José de Alencar.
Entre as opiniões dos alunos, destaco a de Luiz Fernando Magalhães, de 16 anos, fã de Dan Brown (autor de O Código Da Vinci, Anjos e Demônios, O Símbolo Perdido): “Vamos ter que ler "Dom Casmurro". Vai ser tenso. Machado de Assis não deveria ser cobrado. Tinham que ver nosso interesse e explorá-lo. Prefiro ficção.”
Não sei o que é exigido nas escolas de Mangaratiba, mas, com certeza, “Dom Casmurro” está entre os livros de leitura obrigatória.
E os alunos daqui continuarão a dizer: “não tenho saco pra ler.”
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