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domingo, 26 de abril de 2015

TV GLOBO, 50 ANOS

E lá se vão cinqüenta anos. Eu estava lá, em 26 de abril de 1965, naquela foto de todos os funcionários e artistas contratados, juntos com Roberto Marinho, nas escadarias de entrada do prédio no Jardim Botânico.
Entrei para a TV Globo em 1º de janeiro para ser o responsável pela programação comercial da emissora. Seguindo o sistema implantado pela Time-Life, tínhamos dois minutos de comerciais na hora cheia e um minuto de comerciais rotativos a cada 8 a 10 minutos.
Entretanto, como tínhamos poucos anunciantes, tive que reprisar os anúncios a cada dez ou vinte minutos.
O primeiro a ir ao ar foi o anúncio da Fiat Lux. A frase em latim que, segundo a Bíblia, foi dita por Deus na criação do mundo, foi que me levou a selecioná-lo para inaugurar o espaço comercial da TV Globo.
Meu chefe direto era  Herculano Siqueira – Diretor Comercial - que também foi meu chefe na IAS, agência de publicidade da The Sydney Ross Co. Herculano levou para a Globo outros colegas da agência. Lembro de Edson Coelho que criou o slogan para o AeroWillys: “Faça como a Ford, compre Willys”.
Rubens Amaral era o Diretor Geral; Mauro Salles acumulou a Direção de Jornalismo e de Programação. A programação esportiva ficou a cargo de Teixeira Heizer, ainda hoje comentarista esportivo. Foi aí que fiquei sabendo de seu primeiro nome: Hitler. Senti muita pena do Hitler Teixeira Heizer.
Havia também um chefão acima do dono da emissora: Joseph Wallace. Era um americano boa gente representante do Time-Life. Ficou na TV Globo até se aposentar, nos anos 80, mesmo após a desvinculação formal da Time-Life/TV Globo.
Dois meses após a inauguração, Carlos Lacerda – governador na época - denunciou como ilegal as relações da emissora com o grupo americano que permitiu à TV Globo o acesso a cerca de seis milhões de dólares para a sua implantação.
O acordo foi considerado ilegal. A Constituição Brasileira proibia que qualquer pessoa ou empresa estrangeira possuísse participação em uma empresa brasileira de comunicação. Foi, então, instaurada uma CPI na Câmara Federal que, em 1966, deu parecer desfavorável à Globo. Porém, a ditadura militar mudou a legislação e o Consultor-geral da República emitiu parecer favorável ao acordo Globo/Time-Life, ficando a TV Globo oficialmente legalizada.
Deixando de lado este caso e voltando a minha passagem pela TV Globo, devo dizer que a TV Globo foi um tremendo fracasso inicial. Muita gente reclamando da programação comercial, mesmo com a TV Rio tendo um espaço comercial de quarenta a cinqüenta minutos.
A coisa só melhorou quando Walter Clark foi contratado e mudou tudo. Minha passagem pela TV Globo não durou muito tempo. Trabalhava demais, dia e noite, dormia na sala dos anunciantes que possuía poltronas que afundavam quando se sentava nelas. Concluí que Sérgio Porto tinha razão quando disse que a televisão era uma máquina de fazer doido.
Certa vez, após uns dez dias sem ir em casa, meu filho pequeno – tinha apenas quatro anos – nem ligou pra mim. Foi quando resolvi cair fora.
Nem as incursões semanais ao terreiro de candomblé da Ilha do Governador com uma turma levada pelo Hilton Gomes me fez continuar.
Nem a Leila Diniz, que gravava a novela "Ilusões Perdidas" - depois, ela gravou O Sheik de Agadir” - e passava algumas madrugadas comigo - ela dormindo numa poltrona e eu na outra - me fez continuar na TV Globo.
Hoje, a Rede Globo é uma das três maiores e melhores do mundo. É um instrumento de manipulação da burguesia sim, mas com um estupendo jornalismo, ao contrário das outras, que também manipulam, mas com um jornalismo rasteiro, primário e deprimente.
O jornalismo da Globo anestesia as consciências e bloqueia qualquer tipo de reflexão crítica, mas é muito bom e tem sorte. Como teve agora com uma equipe completa que, por acaso, estava no Nepal no momento do trágico terremoto. 
Ontem assisti ao grandioso show de música, luzes e cores, comemorativo dos 50 anos. Um espetáculo digno de abertura de Jogos Olímpicos que me trouxe à memória tantas recordações - detalhes de uma vida, momentos que eu não esqueci - e demonstrou toda a competência da TV Globo.
Quem ouviu, ontem, pela primeira vez, Roberto Carlos cantando "Emoções" deve ter pensado que a composição foi feita em homenagem aos 50 anos da TV Globo.
Enquanto isso, "quixotinhos" vira-latas imaginam que podem acabar com a TV Globo. 
Regulação da mídia, sim. Fim da TV Globo jamais.

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