Total de visualizações de página

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

SALVE! JORGE...

Amado Jorge com quem aprendi a ler e a escrever. Com quem tive a honra de estar pessoalmente e ainda conhecer sua linda esposa, a também escritora, Zélia Gatai.
Para aqueles que somente viram suas fotos depois que ela passou de sessenta, admirem a foto abaixo de 1981. Os dois com João Gilberto.
Deveria ser lei: é obrigatório que todo brasileiro, antes de chegar à maioridade, leia, pelo menos, uns dez romances do Jorge Amado.
O mais renomado e popular escritor brasileiro tem suas obras publicadas em 49 idiomas e em 55 países.
“Jorge Amado não escreveu livros, escreveu um país” – afirmou o escritor moçambicano Mia Couto testemunhando a forte influência do banguense sobre os autores africanos.
Sim. Jorge Amado torcia pelo Bangu. Foi mais ilustre dos banguenses.
A vida e a obra deste baiano admirável foram marcadas por sua militância comunista. No início, seus livros foram fortemente ideológicos.
“Capitães de Areia” foi um livro queimado pela ditadura civil do Estado Novo, em 1937, em Salvador.
A fazenda de cacau de Itabuna onde nasceu, os terreiros de candomblé, o sincretismo religioso, a pobreza nas ruas de Salvador, a miscigenação, o racismo velado da sociedade brasileira são alguns dos elementos que compõem o conjunto de sua obra.
Por sua profunda identificação com o povo brasileiro, Jorge Amado inseriu em suas histórias toda a pirâmide social do país: a aristocracia arrogante, a elite política mais corrupta, a elite econômica – principalmente os "coronéis" prepotentes – e o povo mais carente.
Seus heróis foram o negro, a prostituta, o estivador, os bêbados e os boêmios, os meninos de rua, os aventureiros, os imigrantes árabes, os marinheiros, as mulheres mais belas, voluptuosas e sensuais. A sexualidade esteve sempre presente nas páginas de sua obra.
Eleito deputado federal em 1945 – seu slogan era “O Romancista do Povo” – foi cassado e exilado logo depois quando o PCB foi colocado na ilegalidade.
Quando voltou ao país, em 1950, e os crimes de Stalin foram denunciados, rompeu com o partido e deu início a uma nova fase em sua literatura, mais suave, sarcástica e bem-humorada. Muito menos ideológica.
Seu objetivo, então, mais do que explorar novas linguagens literárias, era conquistar leitores e alcançar o povo. Conquistou também a rejeição dos críticos acadêmicos que sempre preferiram o assaz antiquado e pedante Machado de Assis. Aquele pseudo-francês pernóstico que é um verdadeiro talismã contra a leitura.
“Jorge Amado foi quem mais escreveu, mais foi traduzido, mais foi premiado. Se ele foi superlativo, a mostra também tem que ser” - afirma Ana Helena Curti, a curadora da mostra que comemora o centenário de Jorge Amado.
O baiano romântico nasceu em 10 de agosto de 1912 e publicou o primeiro livro aos 18 anos. Seu título - "O País do Carnaval" – já dizia pra que veio o autor.
Hoje, o blog também comemora o seu centenário.

4 comentários:

leila disse...

Merecidamente! Ele foi meu primeiro autor, depois que entrei na adolescência...antes dele, devorei a literatura de Monteiro Lobato.

Jorge Amado me carregou por viagens e me apresentou também Érico Veríssimo... com ele conheci a Bahia, a ditadura do Estado Novo e a identifiquei como a mãe da ditadura militar e seus requintes de tortura e perseguições. Foi com Jorge Amado que caminhei para as páginas de Zélia Gatai e foi por ele que me apaixonei por Dom Helder Câmara...

E não esqueço que foi minha mãe que me deu este presente tão caroem todos os aspectos... ela me deu em meu aniversário de treze anos a coleção inteira, comprada na porta de casa, pagando por meses as prestações tão altas.

Muito legal relembrar disto!

LACERDA disse...

Você, então, cumpriu a minha lei imaginária e se tornou a mulher que é hoje.
Eu não citei no texto, mas você sabia que ele foi compositor, parceiro de Caimi em diversas canções praianas?
Um exemplo? "É doce morrer no mar,
nas águas verdes do mar."

Severo disse...

Tb li/reli e tenho todos os livros do Jorge Amado, amo a todos e os meus preferidos são O Compadre de Ogum e o Sumiço da Santa, na minha compreensão nenhum escritor descreve uma cena com tanta minúcia como o Jorge além de nos alertar/ilustrar sobre as diferenças sociais, modelos políticos, preconceitos, folclore baiano , narrados nos seus romances com tanta graça e riqueza de detalhes

LACERDA disse...

É isso aí, Severo.
Eu gosto mais de "Tieta do Agreste", embora não seja um romance original.
Sei que ele se baseou em "A Visita da Velha Senhora", de Friedrich Dürrenmatt, para escrever essa tremenda porrada na cara da hipocrisia.