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sábado, 8 de maio de 2010

JOÃO CÂNDIDO

O Almirante NegroMestre-Sala dos Mares para João Bosco e Aldir Blanc – foi homenageado ontem no lançamento do navio batisado com o seu nome. O primeiro produzido em estaleiro nacional após um intervalo de 13 anos. A cerimônia ocorreu no Estaleiro Atlântico Sul, em Ipojuca-PE. Uma trabalhadora foi escolhida para ser a madrinha da embarcação de 270 metros representando toda a força de trabalho do estaleiro.
O que me faz escrever, porém, é a notícia do Jornal da Record em que o repórter disse que o navio recebeu o nome de um “heroi da marinha brasileira”. Santa ignorância...
João Cândido, negro, filho de escravos, serviu na Marinha durante quinze anos até ser expulso por ter liderado a Revolta da Chibata.
A chibata era o castigo imposto pelos oficiais aos marinheiros. Foi abolido, em 1889, por Deodoro da Fonseca, no dia seguinte à Proclamação da República. Entretanto, o castigo cruel continuou a ser aplicado aos 90% de marinheiros negros e mulatos que formavam o contingente da Marinha. Como se a escravidão não tivesse sido abolida mais de um ano antes.
De acordo com o regulamento disciplinar da Marinha, o castigo consistia em até 25 chibatadas. Os oficiais, porém, extrapolavam esse limite e o castigo chegou a atingir 250 chibatadas. "Rubras cascatas jorravam das costas dos santos entre prantos e chibatas".
João Cândido era o marujo mais experiente e de maior trânsito entre marinheiros e oficiais, a pessoa mais indicada para liderar uma revolta contra os degradantes castigos corporais.
No dia 22 de novembro de 1910, João Cândido iniciou a revolta, assumindo o comando do Encouraçado Minas Gerais, exigindo a abolição dos castigos corporais na Marinha de Guerra Brasileira e atirando contra o Palácio do Catete.
A imprensa da época o intitulou como Almirante Negro. Durante quatro dias, os navios de guerra Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro apontaram os canhões para a Capital Federal. No ultimato dirigido ao presidente Hermes da Fonseca, os revoltosos declararam: "Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podemos mais suportar a escravidão na Marinha brasileira".
A rebelião terminou com o compromisso do governo federal em acabar com o emprego da chibata na Marinha e conceder anistia aos revoltosos. No dia seguinte, porém, quando os rebelados se entregaram, o governo promulgou, em 28 de novembro, um decreto permitindo a expulsão de marinheiros que representassem risco.
Expulso da Marinha, sem quaisquer direitos, João Cândido passou a viver precariamente, trabalhando como estivador e descarregando peixes na Praça XV, no centro do Rio de Janeiro.
De acordo com sua ficha, João Cândido foi castigado em nove ocasiões, preso entre dois a quatro dias em celas solitárias "a pão e água", além de ter sido duas vezes rebaixado de cabo a marinheiro.
Em 1959, voltou à terra natal – Encruzilhada do Sul/RGS - para ser homenageado, mas o evento foi suspenso por interferência da Marinha do Brasil.
Discriminado e perseguido até o fim da vida, foi morar em São João do Merity/RJ onde faleceu, pobre e esquecido, em 6 de dezembro de 1969, aos 89 anos de idade.
Eu pergunto a você: João Cândido foi um herói da Marinha? Ou foi um herói dos marinheiros escravizados?
Creio que, para a Marinha, ele é considerado apenas um terrorista.

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