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quinta-feira, 2 de abril de 2009

NOSTALGIA POR QUÊ?


Meu pai costumava falar do tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça. Eu, criança, acreditava. Depois, vi que era mentira. Algo impossível.
Hoje, quando eu digo que sou do tempo em que tamborim era quadrado e homens desfilavam na ala das bahianas, há gente que duvida. Mas, é verdade.
E, também, é verdade que sou do tempo em que se alugava roupa de banho - calção ou maiô inteiro - na praia de Itacuruçá e andávamos de tamanco. Sou do tempo em que a imagem da TV era preta e branca, assim como as fotografias. Não havia controle remoto. Não havia câmera digital. Não existia video-cassete, CD, DVD, rádio FM. Computador nem pensar. Muito menos internet, scanner e impressora. Sem o corel draw e o fotoshop, tínhamos que usar letra-set, lay out, arte-final, tudo feito à mão.
Só havia máquina de escrever. Não havia xerox, usava-se papel carbono para as cópias.
Faltava água, escolas e telefone. Telefone celular? Quem poderia imaginar... Tínhamos que ligar primeiro para a telefonista e ela, sim, completava a ligação.
Se não déssemos corda, os relógios paravam de funcionar.
Avião tinha uma hélice única. E batia as asas como os pássaros. O Brasil não os fabricava, nem carros, nem motocicletas. E não possuía petróleo, álcool e gás.
Tudo era importado e só exportávamos café. Éramos um país agrícola exportador de matéria-prima e importador de bens duráveis.
Não havia cartão de crédito. Ninguém aceitava cheques. Tinha que ter dinheiro no bolso.
Não existiam antibióticos, nem vacinas contra a pólio, contra a varíola e a rubéola. Tuberculose era doença comum. Não existia a pílula anticoncepcional. Crianças geralmente tinham vermes que se curavam com lavagem intestinal. Adivinha por onde entrava o líquido milagroso.
A poliomielite e a difteria assombravam as mães quando os bebês sobreviviam ao mal de sete dias. Uma moléstia – tétano – causada pela infecção do cordão umbilical devido à falta de assepsia nos partos domiciliares.
Nosso prazo de validade era de somente 60 anos. Morríamos facilmente. Sem fazer qualquer esforço. Eu não estaria vivo lá no passado.
E as mulheres? Eram tristes: cabelos presos, saias rodadas e maiô inteiro. Ficavam idosas aos 40 anos de idade.
Então, por que a nostalgia? Que estória é essa de vou-me embora p´ro passado? Manuel Bandeira não merece essa paródia que circula na internet.
Não quero saber do passado. Lá tem ditadura, deduragem, tem tortura, até general-presidente. Naquele tempo, eu era duro. Prefiro viver no futuro.
Ou mesmo, aqui, no presente.

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