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domingo, 12 de outubro de 2008

BOCA-DE-URNA


A boca-de-urna que eu conheci constituía-se na arregimentação de famílias da comunidade residentes próximas aos locais de votação para tentar conquistar o voto de seus amigos e conhecidos ainda indecisos no dia da eleição.
Os “boqueiros”, como eram chamados, tinham que ser eleitores de uma daquelas seções existentes no local em que iam trabalhar. No dia anterior à eleição, eles recebiam uma camisa do candidato, uma sacola com “santinhos” e começavam o trabalho às oito horas da manhã do dia seguinte. Às treze horas, recebiam uma merenda – sanduiches, frutas e refresco – e trabalhavam até às dezessete horas quando terminava a votação. Durante todo esse tempo eram controlados pelos fiscais do candidato que colhia, em um caderno, a assinatura dos “boqueiros” três a cinco vezes por dia. Era a prova de que o trabalho havia sido feito.
O dia da eleição era uma festa cívica. Bandeiras tremulando, as ruas transformavam-se em uma colcha de retalhos coloridos de papel. Um dia inteiro de alegria. Ninguém se sentia prejudicado.
Terminada a eleição, encaminhavam-se todos para um local determinado a fim de receber o pagamento pelo trabalho, desde que suas assinaturas constassem dos cadernos da fiscalização. A família, com quatro ou cinco pessoas, levava para casa no mínimo duzentos reais. A festa para eles continuava na segunda-feira no supermercado.
Essa boca-de-urna que ajudava no sustento de muitas famílias foi proibida. A Lei Eleitoral (Lei 9504/97), em seu artigo 39, § 5º, inciso II, estabeleceu que é crime –punível com detenção de seis meses a um ano e multa de quinze mil UFIRs - a propaganda de boca-de-urna. E a verdadeira boca-de-urna não aconteceu.
Nesta eleição de 2008, conheci a “boca-de-urna” de Mangaratiba. Ela é feita na semana anterior até a véspera da eleição.
Não tem santinho, merenda, controle nem alegria nas ruas.
O que chamam aqui de “boca-de-urna” é o seguinte: pouco antes da eleição, alguns espertos tiram xerox dos títulos de amigos e conhecidos de sua comunidade. Fazem uma lista com 30, 50, 100 títulos xeroxados e os negociam com o candidato como voto certo a R$ 50 cada um. Cerca de 20% desses títulos pertencem a eleitores de outras cidades, geralmente, de Nova Iguaçu, Itaguaí, Seropédica, etc. O otário do candidato compra a lista e as xerox porque não sabe ou não tem mais tempo de ver no site do TRE onde votam aqueles eleitores. O vendedor recebe, então, R$ 1.500, R$ 2.500 e até R$ 5.000, garantindo ao candidato aqueles votos.
O vendedor ainda mais esperto, porém, possui cópia daquela lista e dos títulos. E vai vendê-los para outro candidato e mais outro. O candidato mais “esperto” sabe disso e, então, oferece R$ 70 por cada voto para mudar a “consciência” do vendedor que nem quer saber em quem o eleitor vai votar.
Vendedores “honestos” até que se preocupam com o voto da sua lista e pagam R$ 30 ao eleitor, ficando com o troco.
Essa é a “boca-de-urna” feita no atacado. Tem ainda a “boca-de-urna” feita no varejo, no dia da eleição. Começa bem cedinho. É quando o eleitor é arregimentado - um a um - para receber um santinho com o desenho de uma onça pintada das próprias mãos de um assecla do candidato em quem deve votar.
A festa ocorre, então, no supermercado no próprio dia da eleição. O Costa Verde nunca vendeu tanto em um domingo nublado e chuvisquento como o dia 5 de outubro.
Nessa suposta “boca-de-urna” não há controle.
Nem fiscalização do TRE. Como dar o flagrante? Como provar?

Um comentário:

Anônimo disse...

Amigo Lacerda, o mais triste é viver a realidade de se ver impotente, pois em Itaguaí, a justiça eleitoral esteve presente e atuante durante todo período de de propaganda política, a exemplo, eu nem me arrisquei a passar com o carro de som pelo centro de Itaguaí, pois depois de ver alguns companheiros de partido terem seus carros apreendidos e terem suas Humildes campanhas práticamente encerradas, na verdade eles descumpriram a lei, ao usarem carro de som em locais não permitido. Quem é Helinho Chaveiro para desfiar e desrreipeitar a lei, ainda sendo eu de família integra, com princípios e respeito aos valores, tendo como maior herança e patrimônio, a educação à minhas filhas, e a educação recebida por meus pais.
Na verdade, só fiquei triste ao perceber que alguns carros nada sofreu, pois tmbém desrrespeitaram a lei (os do Principe), estes sim a toda hora rodando no centro em frente a hospitais, escolas, creches, etc...
a minha tristeza é que com todo empenho, a justiça eleitoral não logrou êxito em tirar esses ilegais das ruas, tenho plena convicção que tentou, porém só não teve sorte. Mais triste fico é quando escuto a todo canto, grupos de pessoas do povo dizendo: "fulano pagou 30, i fulano pagou foi 50, vcs estão de bobeira ciclano pagou foi 100".
Em itaguaí, teve até fiscal de partido organizando filas na hora da votação.
Ah. Mais a justiça eleitoral esta de parabêns, teve uma apuração em tempo recorde(só fico pensativo como operador do direito que sou, no meio jurídico se fala: A justiça tem que ser lenta para não haver injustiça).
uma pergunta não cala a boca: as urnas eletrônicas SÃO SEGURAS CONTRA POSSÍVEIS FRAUDES? Bem dentro de tanta segurança, fico muito magoado com 116 votos recebidos. E me pergunto: Será que as mais de trezentas, pessoas que me ligaram, confirmando o voto, estavam mentindo. Quer saber de uma coisa já estou desconfiado até do meu próprio voto, será que votei em mim?
QUE SAUDADE DO VOTO DE PAPEL!

OBRIGADO MEU POVO QUE FOI AS URNAS, ME DAR O VOTO DO AMOR E DA CONFIANÇA.

" JUSTIÇA SEMPRE SERÁ JUSTA NA MEDIDA EM QUE EVOLUI O SABER DO POVO". HELIO DE CARVALHO