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domingo, 7 de setembro de 2008

INDEPENDÊNCIA OU SORTE!

A dependência é morte, em vida. Se você não teve a sorte de nascer em berço de ouro, tem que lutar por sua independência.
Eu nasci pobre e lutei muito para hoje poder viver com independência.
Lembro-me do tempo em que usava tamanco. A roupa era costurada pela minha mãe. Feita com retalhos da Fábrica Bangu. Bebia água da moringa, não tinha geladeira. O fogão lá de casa era a carvão, e, também, o ferro de passar roupa. Dormia na esteira feita de junco. Comia em prato de alumínio. Bebia na caneca. Tomava banho com sabão português.
Colhia cará (vai lá no Aurélio) nas cercas vivas para ensopar com bofe. Catava caruru (vai lá de novo) no mato para variar o cardápio de sempre: arroz e feijão com bucho ou carne-seca. Sim, carne-seca era comida de pobre. Feijão com bucho eu como até hoje. Se me sinto muito pretensioso, peço a minha mulher para cozinhar o bucho no feijão e só como isso a semana inteira. E lembro daquele tempo. É um prazeroso castigo.
Fruta era jamelão. Meu Deus! Como eu comi jamelão. Em frente a minha casa havia um enorme pé de jamelão. Comia trepado lá em cima. Era cada cacho imponente que eu imaginava ser de uva. Achava lindo, depois, a língua, os dentes e a saliva de um roxo admirável.
Brinquedo era pião e bola de gude. Papai Noel não passava lá em casa.
Cresci e fui trabalhar. Estudando sempre. Só andávamos de trem, eu e minha marmita. Gostava do que fazia e tentava fazer sempre o melhor. Seja lá o que fosse. Esse negócio de se fazer o que gosta é pura leviandade, coisa de quem não quer nada com o trabalho. Topava qualquer parada e nunca parei em qualquer topada. Caía, dava a volta por cima. Assim, fui vivendo, lutando pela minha independência.
Consegui à custa de muita luta, pois, como disse, não tive a sorte de nascer em berço de ouro. E, hoje, não preciso agradar a ninguém para sobreviver com dignidade.
Agradeço a meu pai que dizia sempre: "Você tem que estudar para ser melhor que eu". Tive que estudar e trabalhar para atingir esse objetivo. Exigi o mesmo dos meus filhos: "Vocês têm que ser melhores que eu." Coitados, tiveram que estudar muito mais.
Estou sendo pretensioso? Vou passar uma semana comendo feijão com bucho.

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