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segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

É NATAL

Hoje, somente existe o bem...
Secam-se as lágrimas,
Brotam os sorrisos,
Há uma profusão de abraços,
O amor floresce em cada coração.
Lembranças, muitas lembranças...
Gestos e palavras são de afeto,
Mensagens de amor e de paz.
Somos todos crianças,
Somos todos iguais...
Sonhos se realizam,
A alegria nos invade,
Festa nos bares,
Brilho nos olhares...
Tudo é só felicidade,
Confraternização cristã...
Hoje é Natal,
Feliz Natal...
Que seja Natal amanhã. 
E também depois de amanhã,

Que seja sempre Natal.

sábado, 16 de dezembro de 2017

RIO 1959

“Comece a luta dentro de sua casa. Chame as suas filhas, os seus filhos, toda a família, para uma conversa, e diga-lhes que não esperem muito senão de si mesmos. 
Que a impunidade é a resposta que nesta terra se dá a tantos crimes contra a vida, contra a honra, contra o patrimônio.
Mata-se no Rio de Janeiro, em um mês, duas vezes mais que em Londres, em um ano.
A vida de um ser humano, na capital brasileira, é a única mercadoria deflacionária: vale apenas um pedaço de chumbo.
Os bandidos cortam a barriga de um pobre chefe de família que volta para casa, roubam-lhe os embrulhos, e, sorrindo, deixam o infeliz estirado numa poça de sangue. 

Casais são assaltados e levam tiros no rosto. A violência, o latrocínio, a morte fria campeiam impunemente pela cidade - e não se vê uma atitude decisiva, um grito de advertência, como se estivéssemos acostumados a isto, como se tudo fosse natural.
A impunidade forja os maus exemplos. Novos bandidos surgem. Novas quadrilhas de marginais se formam - e a impunidade continua. 

O Chefe de Polícia pode fazer justiça, fazer limpeza, livrar a cidade de assassinos irrecuperáveis - mas, apenas os assassinos que vieram dos morros, que vieram da sarjeta, que vieram do SAM desaparecem. 
Os abastados ficam. Os mocinhos, filhos de pais ricos, que se divertem com a honra das meninas inexperientes, que se valem do dinheiro dos pais, do dinheiro que lhes dará a impunidade quando se tornar necessário. 
Dedicamos esta reportagem, primeiro às mocinhas, mesmo às mais sensatas, lembrando que a virtude precisa ser protegida. Depois, aos pais de família, para que conheçam os perigos que suas filhas (e os seus filhos) correm todos os dias, todas as noites nesta cidade.
Ao Presidente da República que, afinal, também tem filhas, e sabe o que isto representa. 

Finalmente, aos juízes íntegros, para que não deixem impunes tais crimes, a fim de que, exausto, cada pai de família atingido não venha a fazer justiça com as suas próprias mãos.”
Escrito por David Nasser – O Cruzeiro – 30/05/1959


Esse texto tem quase 60 anos. Reproduzo-o aqui para que os nostálgicos desmemoriados não me venham com tênues lembranças colhidas em um tempo que jamais existiu. Somente as meninas inexperientes existiram um dia.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

QUEM NÃO LÊ...

Mal fala, mal ouve, mal vê.
Mal pensa, mal escreve, mal sabe, mal compreende, mal come, mal bebe, mal paga, mal compra, mal vende, mal aluga, mal contrata, mal negocia, mal gasta, mal economiza, mal viaja, mal passeia, mal joga, mal aposta, mal conversa, mal discute, mal dialoga, mal opina, mal questiona, mal diverge, mal decide, mal vota, mal elege, mal silencia, mal malha, mal trabalha, mal ama, mal ora, mal perdoa, mal planeja, mal organiza, mal orienta, mal coordena, mal reclama, mal engana, mal convence, mal cresce, mal avança, mal triunfa, mal comanda, mal chefia, mal gerencia, mal governa, mal lidera, mal administra, mal veta, mal decreta, mal legisla, mal discursa, mal anuncia, mal cria, mal ganha, mal empresta, mal acerta, mal compete, mal compara, mal disfarça, mal relata, mal elogia, mal aprecia, mal critica, mal comenta, mal concorda, mal nega, mal argumenta, mal renega, mal sonega, mal alega, mal blefa, mal tapeia, mal zoneia, mal começa, mal termina, mal chega, mal parte, mal delega, mal emprega, mal aproveita, mal respeita, mal espreita, mal suspeita, mal prevê, mal deseja, mal acusa, mal recusa, mal festeja, mal zela, mal revela, mal aconselha, mal recomenda, mal lembra, mal tenta, mal representa, mal considera, mal delibera, mal pondera, mal prospera, mal tolera, mal regenera, mal observa, mal verifica, mal interpreta, mal assimila, mal dissimula, mal confessa, mal contesta, mal protesta, mal desconfia, mal estagia, mal policia, mal investiga, mal apura, mal indicia, mal condena, mal explica, mal justifica, mal participa, mal reivindica, mal luta, mal conquista, mal replica, mal castiga, mal computa, mal educa, mal ensina, mal estuda, mal aprende, mal pergunta, mal responde, mal memoriza, mal doutrina, mal disciplina, mal motiva, mal denomina, mal imagina, mal improvisa, mal impressiona, mal crê, mal insulta, mal consulta, mal diagnostica, mal medica, mal cura, mal age, mal sente, mal curte, mal existe, mal vive, mal morre.
Mal raciocina. Mal paquera. Mal seduz. Mal namora. Mal transa. Mal engravida.
O pior cego é aquele que não quer ler.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

GILMAR QUER LIBERAR O CUNHA

Aquele hipócrita demiurgo que liberou o Cacciola, o Daniel Dantas, o Abdelmassif, o Primenta Neves, o Aécio Neves, agora foi o único que quis livrar o Eduardo Cunha da cadeia.
Foi ele, também, que, arrotando o poder do ódio e em linguagem virulenta, vociferava alucinado e possesso ao proclamar seu voto contra os embargos infringentes no processo da AP470.
“Por que quatro? Por que não três? Por que não dois? Por que não um?”
Por quê? Ora, porque a lei brasileira diz que são quatro. Somente por isso e ele sabia disso, mas queria aparecer diante das câmeras e agradar a imprensa que o mantém em evidência.
“Por que nos outros tribunais não existem embargos infringentes? Por que existem somente no STF?”, bradava ele em outra suprema teoria frustrada.
É claro que ele também sabia por quê. Porque nos outros tribunais há sempre uma instância superior para se apelar. Simples assim. O STF é a última instância e o réu somente pode apelar para ele mesmo e somente quando obtém quatro votos favoráveis para a absolvição. É o direito ao duplo grau de jurisdição devido a erro ou divergência de opinião entre juízes. E, no caso, a divergência é muito significativa: é superior a 50% entre os quatro que absolvem e os sete que condenam.
Isto me faz lembrar o processo criminal americano em que o tribunal do júri é formado por doze cidadãos. Lá basta que apenas um jurado absolva para que o réu não seja condenado. É preciso que a decisão do júri seja unânime para a condenação do réu. 
E o que é importante: os doze jurados ficam absolutamente isolados durante todo o tempo necessário, às vezes dias e noites, para tomar uma decisão a favor ou contra o réu. Se não houver certeza absoluta da culpa, o réu poderá ser absolvido. A dúvida favorece o réu.
Neste caso não são necessários quatro, nem três, nem dois jurados a favor do réu. Basta um para absolvê-lo. Por quê? Ora, é o que diz a lei americana.
Entretanto, a promotoria ou o próprio juiz poderão apelar para um outro julgamento com outra turma de jurados se considerarem que a decisão não correspondeu ao que foi provado nos autos do processo.
Se em novo julgamento for confirmada a decisão anterior, o réu está absolvido. Se não, é a defesa quem poderá apelar por um novo julgamento.
Creio ser esta a melhor expressão do princípio jurídico da presunção de inocência: in dúbio pro reo. É um dos pilares do direito penal universal que, em caso de dúvida, o réu seja sempre favorecido.
O Gilmar Cacciola Mendes sempre soube disso tudo que somente é novidade para aqueles que são leigos sobre o seu próprio direito. Então, por que agiu daquela forma? Talvez, pensasse ainda ser um promotor ou um juiz diante do tribunal do júri no Brasil.
Aqui, encerrado o debate entre a promotoria e a defesa, apenas sete jurados reúnem-se, em sala secreta, e na presença do todo-poderoso juiz, para responder as perguntas por ele mesmo elaboradas. Algumas delas são repetitivas e sem qualquer racionalidade. Outras facciosas ou, no mínimo, tendenciosas que conduzem os jurados para a condenação ou para a absolvição. A emoção e o receio por estarem diante de um juiz como o Gilmar Neves Mendes tornam os jurados plena e facilmente passíveis de manipulação. Qualquer quatro a três serve para absolver ou condenar o réu. A decisão sai em poucas horas. Ou minutos.
Sou mais o processo penal americano. Lá, um Gilmar Cunha Mendes não se criava porque in dubio pro reo.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

ZUMBI, HEROI OU ...

Ganga-Zumba, filho da Princesa Aqualtune, reinou durante décadas, levando Palmares ao apogeu e a ser reconhecido como nação pela Coroa Portuguesa. Assinou um pacto em 1678, com o governador da Capitania de Pernambuco. Foi traído e assassinado no mocambo Cucaú por um seguidor de Zumbi.
A história comete uma grande injustiça quando conta a saga do Quilombo dos Palmares. Nela, Zumbi aparece como o grande e único personagem na luta contra o governo escravocrata. A verdade é que Palmares atingiu o apogeu graças a Ganga-Zumba, o grande estadista do quilombo.
Ganga-Zumba foi o primeiro grande chefe conhecido do Quilombo de Palmares. Era tio de Zumbi e celebrizou-se por ter assinado um tratado de paz com o governo de Pernambuco.
Em 1677, sob sua chefia, Palmares travou dura guerra contra a expedição portuguesa de Fernão Carrilho. 

Nesta batalha, as tropas da coroa fizeram 47 prisioneiros, entre os quais dois filhos de Ganga-Zumba - Zambi e Acaiene - netos e sobrinhos. Um de seus filhos, Toculo, foi morto na luta. O próprio Ganga-Zumba foi ferido por uma flecha mas escapou.
Em 1678, o governador Pedro de Almeida fez a primeira proposta de paz a Ganga-Zumba, oferecendo ''união, bom tratamento e terras'', além de prometer devolver ''as mulheres e filhos'' de negros que estivessem em seu poder. 

O  oficial enviado a Palmares para levar a proposta retornou a Recife, à frente de um grupo de 15 palmarinos, entre os quais se encontravam três filhos de Ganga-Zumba.
Em troca da paz, os palmarinos pediam liberdade para os nascidos em Palmares, permissão para estabelecer ''comércio e trato'' com os moradores da região e um lugar onde pudessem viver ''sujeitos às disposições'' da autoridade da capitania. Prometiam entregar os escravos que dali em diante fugissem e fossem para Palmares. 

Em novembro, Ganga-Zumba foi a Recife assinar o acordo. Recebido com honrarias pelo governador, é cedida a ele e seus partidários a região de Cucaú.
Parte dos palmarinos, liderados por Zumbi, contrários ao acordo de paz, recusaram-se a deixar Palmares. 

Para historiadores, Zumbi ofuscou Ganga-Zumba. Novas interpretações da história do Quilombo dos Palmares são apresentadas em alguns dos ensaios do livro ''História do Quilombo no Brasil'', lançado pela Companhia das Letras.
Trata-se de uma coletânea de 17 textos sobre quilombos brasileiros, de autores nacionais e estrangeiros, incluindo os organizadores João José Reis, professor de história da Universidade Federal da Bahia, e Flávio dos Santos Gomes, professor da Universidade Federal do Pará.
Os organizadores acham que ''é preciso rever Palmares à luz de novas perspectivas'' e que os documentos já descobertos são suficientes para se escrever a história do quilombo.
Os autores são da opinião de que é preciso rever o papel histórico de Ganga-Zumba e o tratado de paz por ele proposto aos portugueses, muito semelhante aos acordos celebrados entre escravos negros de outros países da América que conseguiram liberdade na mesma época.
''Ganga-Zumba é diminuído em função de uma historiografia do heroísmo'', afirma João José Reis, referindo-se ao fato de ter sido necessária a criação do herói Zumbi. Já Flávio Gomes é da opinião de que ''as pesquisas que existem hoje sobre Palmares são limitadas na perspectiva de análise e não nas informações''.
O professor João José Reis afirma: 
Quero dizer que, é claro, todo herói tem que ser superdimensionado, ou não seria herói. Então, Zumbi não foge ao modelo. Mas nós não sabemos se, caso ele tivesse seguido a mesma estratégia conciliatória, Palmares teria sobrevivido.
O que Ganga-Zumba tentou foi feito em outros lugares da América e deu certo, no sentido de que grupos de quilombolas conseguiram a liberdade e sobrevivem até hoje com sua identidade própria.
É o caso dos Saramacas no Suriname. O conteúdo desses tratados é muito semelhante ao tratado do Ganga-Zumba, que já falava em concessões de terra, permissões de comércio etc.”

A história comete uma injustiça quando conta a saga do Quilombo dos Palmares. 
Nela, Zumbi aparece como o grande e único personagem na luta contra o governo escravocrata. A verdade é que Palmares só atingiu o apogeu graças a Ganga-Zumba, o grande estadista do quilombo. 
Pouco se sabe dele. Era um negro africano alto e forte que chegou a Palmares por volta de 1630. Nesta época, Palmares era formado por povoados, os mocambos (mukambo é esconderijo no dialeto banto). Ganga-Zumba sabia que um quilombo unido dificilmente seria vencido e procurou os líderes locais.
Reuniu os onze maiores mocambos em uma confederação e foi eleito comandante geral. E assim, iniciou-se o período mais próspero e feliz da existência de Palmares. 
Porém, para tentar acabar com as tentativas de invasão que não cessavam e que obrigavam os habitantes de Palmares a viverem sempre na expectativa de uma guerra, Ganga-Zumba decidiu negociar uma paz duradoura com os brancos.

N.L.: lambido de fontes diversas

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

MINHA AUTO-ESTIMA

Exacerbada ou não, é uma virtude. É a melhor aliada do sucesso na vida pessoal e/ou profissional. A moderna psicologia não aceita mais a idéia de que alguém possa ter auto-estima em excesso. Seria como ter saúde em excesso.
Quem possui esta qualidade tem amor-próprio, autoconfiança, acredita em si, e dispensa livros de auto-ajuda.
Eu jamais os li porque logo que me conheci me apaixonei por mim mesmo. Foi amor à primeira vista que ainda perdura.
Também me apaixonei por várias mulheres, pois, jamais consegui me relacionar com elas sem me apaixonar profundamente. E apaixonei-me pelos meus ídolos. Hoje, restam-me apenas dois em plena atividade: o Lula e eu.
Fui criticado por ter auto-estima exacerbada. Devo dizer que sim, eu me amo loucamente. Eu sou o meu melhor amigo. E este amor-próprio é o meu sistema imunológico emocional.
Os psicólogos são unânimes em afirmar que a auto-estima é a principal ferramenta com que o ser humano conta para enfrentar os desafios.
"A auto-estima é o conceito mais estudado na psicologia social, e há um bom motivo para isso. Ela é a chave para a convivência harmoniosa no mundo civilizado" – afirmou Peter Burke.
Quem não acredita em si mesmo até acha que não vale a pena dizer o que pensa. Entretanto, desde o início da civilização, o mundo é movido por pessoas que confiam em suas idéias e que se sentem estimuladas a dividi-las com os outros. Diz a psicologia que isso vale tanto para cientistas quanto para poetas, para artistas e para políticos.

Deve valer também para humildes blogueiros como eu.
O filósofo grego Aristóteles já observava que a esperança e o entusiasmo, juntos, formam a centelha da autoconfiança, sem a qual os jovens não teriam futuro.
Hoje se sabe que é possível desenvolver a auto-estima em qualquer idade e mantê-la elevada para sempre. O sucesso dessa empreitada depende não apenas da visão que se tem de si mesmo, mas também da avaliação que se faz da sociedade em que se vive.
Em 2004, três estudos da Universidade de Dakota do Norte, nos Estados Unidos, envolvendo 257 estudantes, constataram que os mais pessimistas e que tinham uma percepção negativa sobre diversas atividades do local em que viviam, eram também os que apresentavam a pior impressão de si mesmos. 

"As pessoas que aprendem a adequar sua maneira de agir aos valores da sociedade em que vivem são as que possuem auto-estima mais elevada" - disse Shinobu Kitayama,
Todos conhecemos, em tese, a definição básica de auto-estima: é a estima que se tem por si mesmo, ou seja, o quanto a pessoa se valoriza. O quanto se quer bem e se aceita.
Aperfeiçoando esta definição, pode-se dizer que a auto-estima é um ato de amor e de confiança consigo mesmo. É preciso entender bem que são as duas coisas juntas: o "amor-próprio" e a "autoconfiança". Faltando um destes ingredientes, não teremos uma auto-estima verdadeira.
Amar a si mesmo sem confiança nos seus atos ou pensamentos não resolve. Confiança em seus projetos ou na sua capacidade de conquista sem o amor-próprio também não traz felicidade.
Uma pesquisa do Stress Management Association(ISMA-BR) constatou que os brasileiros possuem baixa auto-estima em comparação com os americanos e os franceses.
O estudo foi feito com 760 brasileiros entre 23 e 60 anos de Porto Alegre e São Paulo. O mesmo número de pessoas foi entrevistado nos Estados Unidos e na França.
Segundo a pesquisa, 59% dos brasileiros sofrem de baixa auto-estima, contra 22% dos americanos e 27% dos franceses.
A pesquisa constatou que, para a maioria dos brasileiros, considerar-se bem-sucedido é uma atitude arrogante.
"Existe no Brasil uma cultura de condenar quem se vangloria das próprias realizações e de enaltecer a humildade” - afirmou a coordenadora da pesquisa.
A arrogância costuma ser confundida com auto-estima em excesso.
Os complexos de superioridade e a arrogância, porém, pertencem a outra natureza. Uma pessoa com auto-estima elevada acredita que tem o controle da própria vida, sente-se confiante em lidar com os contratempos e almeja alcançar o sucesso na vida pessoal e profissional. 
É a melhor maneira de viver bem. Gente que tem uma boa auto-estima nunca se sente sozinha, pois solidão é a distância que se tem de si próprio.
A moderna psicologia não aceita mais a idéia de que alguém possa ter auto-estima em excesso.
Seria como ter saúde em excesso.


N.L.: lambido de uma reportagem especial publicada em – com licença da má palavra – Veja, em Julho/2007, que a lambeu na fonte do filósofo e psicoterapeuta Chris Almeida (www.maisde50.com.br)

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

ANDERSON CARECA E FÁBIO PONTES, QUEM DIRIA...

POLÍCIA PRENDE DUPLA DE MANGARATIBA
POR EXTORQUIR EX-PREFEITA
DE SAQUAREMA
A equipe da 124 DP prendeu na tarde de hoje (01/NOV) os identificados IATAANDERSON BASTOS BRUM e FÁBIO PONTES DA SILVA que são acusados de extorsão praticada contra a ex-prefeita de Saquarema FRANCIANE MOTTA, esposa do deputado estadual PAULO MELO do PMDB.
Pela manhã a equipe de investigação da 124 DP recebeu denúncia de que indivíduos oriundos de Mangaratiba estariam viajando para Saquarema com o objetivo de extorquir dinheiro da ex-prefeita sob ameaça de  apresentar falsas denúncias contra FRANCIANE ao Ministério Público.
A equipe de investigação da 124 DP liderada pelo delegado titular LEONARDO MACHARET se dirigiu ao escritório da ex-prefeita, localizado no bairro Porto da Roça e instalou equipamentos de captação audiovisual no local e realizou monitoramento da reunião entre um advogado da ex- prefeita e os indivíduos. Após os criminosos exigirem o valor de R$ 300.000,00 para nao apresentar as falsas denúncias ao MP, os policiais que estavam em uma sala anexa realizando o monitoramento ingressaram na sala de reunião e deram voz de prisão a FABIO e ANDERSON.
Na delegacia FÁBIO se apresentou como sendo jornalista e alegou que teria sido denunciante em um processo que levou a condenação de 52 anos de prisão do ex-prefeito de Mangaratiba, EVANDRO BERTINO JORGE, conhecido como Capixaba. Já ANDERSON exerceu o cargo de secretário de serviços públicos de Mangaratiba e que também alegou ter atuado como delator no processo contra Capixaba.
A equipe de policiais da 124 DP agora investiga a participação dos criminosos presos em uma quadrilha que pratica extorsão a políticos e servidores públicos em todo o Estado do Rio de Janeiro.
Os criminosos foram autuados em flagrante e serão encaminhados para o Complexo Penitenciário de Bangu, onde aguardarão julgamento.
Leia AQUI a reportagem de O DIA. 
N.L.: os dois  meliantes foram secretários no governo do ex-prefeito Rui Quintanilha que assumiu após a prisão do prefeito Capixaba.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

MINHA APOSENTADORIA

Quase todos nós sonhamos com a aposentadoria.
Mesmo aqueles que nunca pegaram no pesado, nem contribuíram com qualquer merreca para a previdência social, sonham com o dia em que farão jus a um salário mensal sem ter que fazer nada em troca.
Entre esses, muitos tentam aplicar um golpe no INPS para realizar o seu sonho. Alguns até conseguem.
Em compensação, meu pai contribuiu a vida inteira, faleceu antes de se aposentar e não pôde nem deixar pensão para ninguém. Assim como milhões de mulheres que contribuíram durante mais de dez anos e sonhavam apenas com o casamento. Casaram, largaram o emprego e a previdência ficou com a grana.
Há, porém, alguns que não sonham com a aposentadoria. Pensam que se pararem de trabalhar vão perecer na inutilidade.
Não sabem como é bom ser inútil. Não saber que horas são nem que dia é hoje. Ler, computar, escrever, comer, beber, dormir, sem ter que dar satisfação a ninguém.
É o autêntico livre-arbítrio, afinal. Fazer o que quiser, é como estar no mundo a passeio. E todo mês aquele troco na conta-corrente. E ainda ter direito ao décimo-terceiro.
Eu contribuí, durante muito tempo, sobre 20 salários. Depois, a lei baixou a contribuição máxima e passei a pagar sobre dez. Quando via aquele desconto no meu salário, todos os meses, durante 30 anos, sonhava com o dia em que receberia tudo de volta.
Hoje, 31 anos depois de aposentado, ao contrário de meu pai, vejo que já recebi triplicado tudo que me descontaram. E, dentro da lei, sou mais prejudicial ao INSS do que a grande maioria dos fraudadores.
O meu sonho de aposentadoria se realizou. Sou um inútil e orgulhoso vagabundo. Sou pago para não fazer nada. A não ser trocar lâmpadas, ir ao mercado, dirigir para minha mulher, pegar coisas onde ela não alcança e outras coisinhas sem importância. Quando ela me pede algo mais complicado, deixo para fazer somente nos feriados.
Sábados e domingos, eu tiro para descansar. E continuo vivo.
Como castigo, porém, tenho outros sonhos de aposentadoria. São, na verdade, pesadelos terríveis.
Quase todas as noites, sonho que estou trabalhando. Dou um duro danado a madrugada inteira e nada dá certo no que faço. Às vezes, carrego um carrinho de mão cheio de pedras pra lugar nenhum e nunca chego lá.
Acordo revoltado, cansado e nada nem ninguém consegue me desviar da mais completa inutilidade.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

PRESS RELEASES

No meu tempo, era difícil plantar uma "notícia" nos jornais.
Enviávamos “press releases” quase que diariamente para todos e quase que implorávamos para, em raras ocasiões, conseguir uma publicação com pouquíssimas palavras nas colunas sociais.
Apesar de bons anunciantes, tínhamos que nos contentar com publicações em jornais de bairros ou do interior.  
E olha que naquele tempo tínhamos, além de O Globo, A Noite, Correio da ManhãDiário de Notícias, Diário Carioca, O Jornal, Diário da Noite, Última Hora, Jornal do Brasil, Folha Carioca, A Notícia, O Dia, Luta Democrática, Tribuna da Imprensa, Gazeta de Notícias, e outros que nem lembro mais.
Com tantos periódicos, matutinos ou vespertinos, disputando os leitores, a imprensa tinha muito mais seriedade e credibilidade do que atualmente.
O jornalismo respeitava os leitores e não costumava publicar as falsas notícias. Só mesmo os políticos, que nomeavam jornalistas em seus gabinetes, conseguiam furar a barreira contra o que era irrelevante.
Hoje, eu vejo como é fácil a publicação de “releases” preparados pelas assessorias de imprensa de artistas, de jogadores de futebol, de lutadores do UFC e de políticos.
Eles se tornam destaques diários nas páginas online e nos jornais impressos. E os leitores os consomem como se notícias fossem.
Extra e O Dia são especialistas na publicação de “releases”, geralmente notícias absolutamente irrelevantes, a maioria sobre ilustres desconhecidos. 

É interminável a relação de “releases” publicados como se interessassem a alguém medianamente racional.
Até O Globo, com todo o seu aparato jornalístico, utiliza esse artifício para preencher suas páginas. Além de se vender para os grandes empresários, publica notícias absolutamente irrelevantes também publicadas em outras folhas.
Afinal, preencher toda noite aquelas folhas em branco é como cumprir a maldição imposta a Sísifo. 

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

80 ANOS

Acordei hoje pensando que tudo posso na idade que me fortalece. Levantei sem nada sentir. Nada que seja obrigatório um octogenário sentir. 
Chegar ao 80 anos é uma extravagância. Não considero excessivo, mas extravagante sim. Ainda mais assim saudável como eu.
Há muito que ultrapassei o prazo de validade de um brasileiro comum, mas continuo sedentário, fumando, comendo e bebendo de tudo.
Sou agora um mandrião convicto, vagabundo como sempre quis ser quando crescesse, e preguiçoso como um Macunaíma branco, mas com algum caráter.
Sou um elemento nocivo para as finanças do INSS. Tornei-me, também, um gozador irreverente, sarcástico e, muitas vezes, mal compreendido. Há até quem diga que sou um ser humano quase desagradável.
Eu diria quase humano também.
Vim do nada e cheguei a lugar nenhum, mas sempre saudável. E, aos 80 anos, repito, eu tudo posso na idade que me fortalece. 
Sou feliz e, talvez por isso, jamais fiz o discurso radical e negativista neste humilde blog. Aqui podem-se encontrar apenas críticas duras, implacáveis, eventualmente até injustas, talvez, mas sempre com fundamentos racionais. Nada que seja escrito com má fé. Apenas a minha opinião.
Sigo de bem com a vida, como sempre. Filhos bem formados, netos no bom caminho, mulher bonita e sempre com algum no banco e no bolso.
Bem resolvido e sempre com a amizade do Cara Todo-Poderoso Que Se amarra em mim.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

PRESENTE PARA O PAI

Meu filho perguntou à mãe que presente daria ao pai neste domingo e no anivesário dele na quarta-feira.
Nenhum, disse eu. Que presente poderia querer um pai que tem tudo e que fará 80 anos?
Depois, lembrei do presente recebido no Dia dos Pais de 2010. Acho que foi o melhor presente já recebido e foi bem aqui no blog.
Foi a sua resposta a um anônimo cretino que me acusou de falso e preconceituoso em um comentário. Como ninguém me conhece melhor que meu filho, resultado da convivência constante durante mais de 38 anos, ele se ofendeu e respondeu.

“Anônimo, meu caro, tens razão. Meu pai dá vazão a todos os seus defeitos aqui neste blog. Como diria uma amiga minha, entregar-se a um blog é como ficar pelado em plena Av. Rio Branco, se não, não vale a pena tê-lo. 
E ele se expõe. Mostra quem é, o que pensa, onde mora, além de respeitar, publicar e dialogar com as mais diferentes opiniões.
Isso na terra livre da internet, onde as pessoas se escondem no anonimato até pra fazer um simples comentário discordante. Mal sabe você que ele gosta mais das opiniões divergentes. 
Ele realmente não é humilde mas não é soberbo. Parece, mas não é. E preconceituoso muito menos. Suas idéias só podem ser confundidas com preconceito por um idiota, pense nisso.
E, apesar dessa falta de humildade, perturbadora mesmo pra mim, ele é um cara muito simples que conversa por horas a fio com qualquer um, qualquer um mesmo. Ele seria capaz de defender, por exemplo, a democracia com um ditador, ouvindo e rebatendo seus argumentos. Eu não faria isso nunca.
Lá em casa, ele às vezes chegava do exterior, após ter dado uma palestra, e reunia amigos da favela para rodas de samba que duravam todo o fim de semana.
O fato é que todo ser humano tem defeitos às vezes inconfessáveis, e os esconde atrás de um moralismo falso que nem jornal, e sai apontando o dedo pros outros. Difícil é encontrar quem encare de frente e assuma seus próprios defeitos. 
É difícil, para muitos, ter e expressar opiniões sem levar para o lado pessoal. Aqui, ele demonstra exatamente como se faz isso. E quem vê não compreende como isso é possível.
Para lutar por uma posição, para tentar convencer alguém de que isto ou aquilo é certo ou errado, não é preciso brigar com esta pessoa.
Pai, eu sou seu filho e já vi você estender a mão e ajudar com vontade quem me parecia ser seu inimigo. Aos poucos fui compreendendo a diferença.
Também já vi você brigar feio com um amigo da família, vi vocês resolverem as diferenças e logo depois manterem-se amigos até hoje.
Anônimo, concordo com meu pai no fato de que ele dá a cara a bater quando fala publicamente suas opiniões.
Nesta época de Big Brother (o da Globo, não o de Sir Arhtur Blair), é moda taxar os outros de falso ou sincero. Mas para compreender a real diferença é preciso cultura. E talvez isto lhe falte.
Se alguém chamar Lacerda de chato, implicante, até grosso, além de vários outros defeitos, posso vir a concordar, mas falsidade não é um deles. Pelo contrário, um pouco de falsidade lhe faria até bem e pouparia a mim e a minha mãe de algumas chateações.
Assim, lhe agradeço pelas palavras que demonstram exatamente essa grande qualidade que ele tem de conseguir expressar com coragem suas fortes opiniões sem se envolver emocionalmente, sem sentir raiva quando alguém lhe faz algo que desgoste ou lhe faça mal. É uma qualidade que falta a muitos homens e que poderia nos tornar mais pacíficos. 
Em última análise, trata-se de política de verdade. Política de transformar pelo debate franco e não pela guerra.”

Que todos os pais tenham filhos que se orgulhem deles é o que desejo neste próximo Dia dos Pais. E, quem sabe, poderia receber um outro presente como este se é que ele ainda se orgulha do pai que tem.
Valeria, também pelo aniversário de 80 anos.

sábado, 22 de julho de 2017

E DEUS CRIOU A MULHER

Não é apenas o título de um filme francês com Brigitte Bardot, dirigido por Roger Vadim, é também uma verdade absoluta. Talvez a única verdade que a Bíblia – ou melhor, o Antigo Testamento – nos afirma entre aquelas peripécias bíblicas das filhas de Ló, de Isaac e Abrahão, que até mesmo Deus duvida.
Crer naquela loucura que muitos levam a sério, é o mesmo que acreditar na teoria da evolução que Darwin supôs. Que o homem descende do macaco tudo bem, mas a mulher não.
Prefiro acreditar que Deus criou a mulher, esse ser divino e maravilhoso que me encanta e ornamenta o mundo e a vida. 
Ele tinha acabado de criar o tigre e resolveu criar algo ainda mais bonito: e criou a mulher.
Claro que Ele – o Todo-Poderoso –  deixou alguns furos em sua mais bela, suculenta e deliciosa criação.
Por que colocou pentelhos na mulher? Cabelos nas axilas e nas pernas, pra quê?
Podia ter feito a mulher botando ovos como as aves, o jacaré, a tartaruga, e não menstruando todo mês. Porém, mantendo todos aqueles atrativos que a gente já conhece e se acostumou. 
Se a mulher pusesse ovos - ela já não põe óvulos? - quantos problemas não seriam evitados... 
Além da menstruação: o aborto, a gravidez indesejada, a superpopulação mundial, a fome, a TPM, a depressão pós-parto, a menopausa, e, principalmente, a virgindade. A vida seria bem melhor sem camisinha e anticoncepcionais. 
Se o tigre é exatamente igual a tantos outros tigres - quem viu um viu todos - eu não consigo entender por que duas mulheres lindas e maravilhosas conseguem ser tão diferentes uma da outra.
Será porque a beleza da mulher é mesmo algo infinito como o universo?
Então, só mesmo Deus poderia tê-los criado.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

OS DEMIURGOS

Juiz não é deus, afirmou a agente de trânsito Luciana Silva Tamburini – salve ela – que cumpriu seu dever enfrentando a prepotência de um juiz desequilibrado dirigindo, sem carteira, um carro sem placas numa blitz.
Por isso, foi condenada por outro juiz a pagar cinco mil reais ao colega João Carlos de Souza Corrêa.
Foi um ato condenável do juiz em questão, um déspota, casca-grossa e fora-da-lei como tantos outros. Principalmente aqueles que liberam bandidos, humilham policiais e advogados, participam de maracutaias diversas e muito poucas vezes punidas com aposentaria integral, além de se considerarem como um demiurgo acima do bem do mal.
Um juiz como aquele – e tantos outros - se considera uma entidade divina que se situa entre Deus e a humanidade, uma criatura intermediária entre a natureza divina e a humana. Um ser iluminado com poderes sobrenaturais que atua com o aval do além, uma deidade subordinada à Divindade Suprema, um demiurgo.
Foi o filósofo grego Platão (429-347 a.C) quem primeiro identificou e descreveu o demiurgo. Trata-se, na verdade, de um mito, uma hipótese cosmológica com caracteres verossímeis.
Na doutrina de Platão – discípulo de Sócrates - o demiurgo é uma entidade divina que situa-se entre Deus e a humanidade. Algo tipo assim como Buda, como Maomé, como Moisés e, até mesmo, como Jesus.
O Aurélio, afirma tratar-se de uma criatura intermediária entre a natureza divina e a humana.
Atualmente, o termo demiurgo adquiriu também um significado pejorativo, designando pessoas que se imaginam acima do bem e do mal, donas da verdade e que se julgam sempre certas. Uma deidade
arbitrária e arrogante subordinada à Divindade Suprema no pedestal da magistratura.
"Delação da Odebrecht sem pegar o Judiciário não é delação. É impossível levar a sério essa delação caso não mencione um magistrado sequer" - declarou a ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça Eliana Calmon.
Somente há corruptos nos poderes executivo e legislativo? O Judiciário é probo, honrado, íntegro, honesto, justo, decente, correto, virtuoso?
Sórdidos e pornográficos, os todo-poderosos juízes com toda a empáfia escancaram a humilhante parcialidade da justiça no contorcionismo jurídico peculiar ao STF, uma moribunda aberração jurídica.
São os donos da verdade, convictos de que tudo podem.
Juiz não é deus, é um demiurgo.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

BOICOTE À REDE GLOBO

Revisitando este meu humilde e sarcástico blog, encontrei esta postagem de janeiro/2013 e decidi reeditá-la.
BOICOTE À REDE GLOBO
Os protestantes fundamentalistas estão assanhados contra a TV Globo devido à novela“Salve Jorge” e à minissérie “O Canto da Sereia”. Propõem boicote à Globo por exaltar as entidades umbandistas Ogum e Yemanjá.
Os “evangélicos” veem mais holofote sobre outras doutrinas. Dizem que os casamentos em novelas são geralmente católicos e que a doutrina espírita é uma constante na programação noveleira.
"Em 25 anos, vin-te e cin-co, lembro de apenas uma reportagem boa na Globo sobre evangélicos. E tem semana em que, todo dia, o 'Jornal Nacional' fala bem da Igreja Católica" –afirmou Silas Malafaia em O Globo  – “E, se há personagens evangélicos, é crente, mas vagabundo. É pastor, mas safado”.
Esses caras, em episódio lamentável de intolerância e radicalização, mais uma vez estimulam o confronto religioso com discursos de ódio e conseguem fazer o que eu imaginava ser impossível, isto é, eu ficar do lado da Globo.
A produção da TV Record enviou à concorrente um questionamento que considerou pertinente: se a Globo pretende exibir uma novela cuja protagonista seja “evangélica”.
Em resposta, a Globo afirmou que sua programação é laica e não segue nenhuma doutrina religiosa. Que os roteiristas são livres para criar.
Poderia também dizer o quanto é difícil criar algo favorável sobre o que é tão sem charme e frustrante quanto os falsos profetas milagrosos das seitas pentecostais. Contra é muito mais fácil, até eu consegui escrever estes versos:
“Simulados milagres em qualquer esquina
Onde um cabeça de bagre vomita doutrina...
É o falso profeta prevendo o passado
E fazendo a coleta, fica endinheirado.
O devoto que paga foi abençoado,
"Curou" sua chaga e expulsou o “danado”...
E onde está a polícia? Cadê solução?
Apelar pra milícia? Chamar o ladrão?”
Já imaginaram uma novela ou minissérie da Globo contando aquelas peripécias bíblicas do Velho Testamento que até mesmo Deus duvida e que eles tanto exaltam?
Tenho uma sugestão: a TV Globo poderia produzir uma minissérie contando a história de Isaac, o filho que Abraão quase degolou e queimou amarrado numa fogueira em holocausto a Deus Que o salvou no último segundo da prorrogação. 
Seria preciso introduzir um personagem que fosse médico psiquiatra para tratar e explicar como a criança conseguiu superar tamanho trauma psicológico: quase virou churrasco, mas cresceu e, assim como seu pai, sempre levava um papo firme com o Todo-Poderoso. Casou-se com a linda Rebeca e foi aplicar em Abimalec o mesmo golpe aplicado por seu pai e sua mãe cerca de 50 anos antes.
Sugiro, ainda, introduzir um núcleo com as filhas de Ló que, carentes de sexo, embebedaram o pai e deitaram com ele. Isto depois de serem salvos de Sodoma e Gomorra. A mãe ficou lá como uma estátua de sal, castigo por ter olhado para trás.

É claro que a Globo teria sérios problemas com a censura.
Agora, falando sério, o que eu quero ver mesmo são esses pastores enfrentarem os bicheiros cariocas que, através das escolas de samba, também colocam holofotes sobre aquelas entidades umbandistas.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

SAUDADE, LEMBRANÇAS E FALSAS MEMÓRIAS

Toda saudade traz diferentes lembranças. Às vezes, traz também falsas memórias.
Podem não acreditar, mas lembro dos meus seis meses no colo da minha prima, ela cantando “upa, upa, upa cavalinho alazão” e eu pulando de alegria. Foi meu primeiro carnaval em 1938.
Depois, em 1944, o bloco cantando “olha a cobra fumando” entrou na minha casa e, quando saiu, me levou junto. Meu pai foi me buscar no outro quarteirão. Ainda lembro da bronca que levei.
Lembro da guerra e dos blecautes diários. Havia o medo de bombardeios, tínhamos que ficar trancados em casa e com as luzes apagadas.
Quando sinto saudade dos meus oito anos, lembro das minhas primas que cuidavam de mim. Uma delas pedófila, abusava daquela criança. E como eu gostava...
Quando sinto saudade da minha mui querida mãe, lembro da vara de goiabeira que ela mantinha junto ao fogão. Lembro dela tentando me pegar com a vara na mão; de me acordar toda manhã e de seus gritos chamando-me à noite para voltar pra casa.
Lembro da minha infância. Lembro do zepelin que vi passar vagarosamente em direção à Base Aérea de Santa Cruz e que, depois, adulto, descobri ser uma falsa memória.
Lembro da minha primeira namorada que nunca soube do nosso namoro nem jamais soube o que perdeu. 
Quando sinto saudade do meu pai, lembro de sua estante cheia de livros - com Dostoyéviski,  Émile Zola, Kafka, Máximo Gorki - que eu li todos antes dos 14 anos.
Quando sinto saudade da escola primária, lembro do Professor Valle e sua esposa Lili. Ela ensinava português e ele, comunista, professor de matemática, nos ensinava raiz cúbica. Vejam só: já sabia resolver raiz cúbica no primário. Hoje, não sei mais. Nem raiz quadrada eu sei.
Sinto saudade do ginásio quando passei a estudar na Lapa onde conheci Oswaldo Nunes e Madame Satã, dois homossexuais que apareciam sempre na hora de saída do colégio.
Lembro dos bondes e da primeira vez que saltei de um bonde andando. Claro que rolei no chão.
Lembro que matava aula para ir à praia ou ao Capitólio com as garotas. Tempo bom.
Sinto saudade do trem, na volta pra casa, cheio de normalistas do Instituto de Educação. Até peguei uma pra mim que, depois, me deu um filho. Hoje, ele é coronel da Aeronáutica.
Quando sinto saudade da minha irmã, lembro do Nelson Rodrigues. Ela possuía todos os livros dele, os quais eu li quase todos. E me tornei seu ardoroso fã. Tal como ela.
Quando lembro do meu irmão, penso nas inúmeras vezes que tive de brigar na rua pra defendê-lo.
Agora, beirando os oitenta, todas estas lembranças permanecem vivas. E, quando quero, passo o VT completo em minha mente.
E sinto muita pena de quem sofre com o Mal de Alzheimer.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

MEA CULPA

É isso que tem faltado em nossa sociedade: o "mea culpa". 
É, também, o que já me fez escrever diversas postagens que levaram alguns a pensar que defendo os políticos.
 
O que defendo é que precisamos parar de culpar os políticos por tudo de mal que acontece. Não podemos agir como Goebbels - o ministro da comunicação nazista - que considerava judeus e comunistas culpados pela crise econômica, social e política na Alemanha após a primeira guerra. Deu no que deu, todos sabem.
Já disse aqui que políticos são como fraldas descartáveis, ambos têm que ser sempre trocados, e sempre pelo mesmo motivo. Coisa que não podemos fazer com os juízes, com um Gilmar Mendes, por exemplo.

E como eu não preciso agradar ninguém para obter votos e posso falar o que penso, vou me repetir para dizer que nunca vi tanta canalhice, tanta barbárie, tanta falta de educação, tanta pouca vergonha, tanta estupidez cometida pela nossa sociedade.
Vejo gente da classe média com o segundo grau completo assaltando e formando quadrilhas. Neo-nazistas surrando pessoas inocentes. Crianças agredindo professoras sem sofrer qualquer punição. Grupo de mocinhas atacando covardemente uma colega de turma. Adolescentes fazendo sexo no banheiro da escola e postando o vídeo na internet. Policiais matando, assaltando e liberando assaltantes sem prestar socorro à vítima. Idosos transportando drogas e armas. Crianças de doze anos roubando taxistas. Drogados incendiando suas próprias casas e a dos vizinhos. Promotor público que matou a mulher se entregando após oito anos porque não tinha dinheiro para tratar dos dentes. Mãe matar o filho de oito meses – filho de um pastor - para não perder o namorado novo. Criminosos hediondos liberados por juízes irresponsáveis. Motoristas embriagados deixando jovens em estado vegetativo e sendo liberados. Médico embriagado agredindo paciente dentro do hospital.
 Médica que não quis atender uma criança de um ano e meio, deixando-a morrer porque não era pediatra.  Pai abusando de filhas ainda crianças. Professor transando com aluna adolescente. Professoras do ensino fundamental transando com aluno e até com alunas em motel. Advogado levando celular e drogas para bandidos na cadeia. Vandalismo em biblioteca de faculdades. Enfermeiros aplicando sopa na veia de idosa, café com leite na veia de criança ou dando ácido para ela beber.
Torcidas organizadas matando-se entre si mesmas, cracolândias, maridos e namorados surrando ou matando as esposas e amantes, jovens homofóbicos e adultos pedófilos, etc, etc. Uma mulher é estuprada a cada onze minutos.
E o que é pior: gente medíocre e estúpida defendendo a volta dos militares ao poder. Boçalnatos.
N
em no Velho Testamento vi tanto infortúnio, tanta calamidade. Uma verdadeira degradação moral e aviltamento da vida. Uma absurda ausência de qualquer faculdade moral e intelectual.
Há algum tempo, porém, algo me deixou ainda mais perplexo. O caso do trio de canibais – um homem, sua mulher e a amante – que matava mulheres pra comer as carnes mais nobres. 
Tudo bem, apesar de a mulher não fazer parte da cadeia alimentar masculina, não vou discutir o gosto culinário nem o paladar do infeliz canalha que ia cursar psicologia numa universidade de Pernambuco. A questão primordial e funesta é que aproveitavam a carne de segunda pra fazer salgadinhos que vendiam no bairro.
Chego a pensar que nós, eleitores, somos muito mais canalhas do que o mais infame dos políticos. 
E não venham me falar em desvios de conduta nem no fracasso do sistema escolar. Todos os casos que citei são de criaturas que passaram pelos bancos escolares. Gente que tem o que comer e beber. Principalmente, beber. 
A culpa não é do professor. Nem do governo. Muito menos dos políticos. A culpa é da família, da sociedade em que vivemos, de cada um de nós.
E eu nunca vi ninguém culpar o dentista por nossas próprias cáries.
Será que somente neste caso é que fazem o "mea culpa"?

sexta-feira, 26 de maio de 2017

CORDEL

Revirando meus guardados, descobri uma das minhas incursões, há cerca de uns quarenta anos, pela literatura de cordel, manifestação cultural que eu admiro.
Nesse tempo, eu trabalhava na SmithKline, laboratório que fabricava o produto, e criei o pretenso cordel para incluí-lo num trabalho de grupo na faculdade de comunicação do qual participaram os colegas Kátia do Carmo Elias, Luis de Almeida, Maria Arminda R. Carvalho, Nanci Marinho, Roseli de Jesus Fernandes, Sérgio Gabriel Domingos e Sueli de Souza Barbosa.
Por onde andarão eles? E principalmente elas?

A estória de Severino Capivara e como ele salvou Lampião da morte, enricou o patrão e amigou com a filha do boticário.
Vou contar pro mundaréu,
Brasil, Filadélfia e México,
À maneira do cordel,
Com todo o sabor poético
Do povo do meu sertão,
A estória de Severino -  
Apelido capivara -
Malandro desde menino,
Que um dia deu de cara
Com o bando de Lampião.
                   Dizem, mas eu duvido,
                   Que, dia do nascimento,
                   Logo depois de parido,
                   A mãe jogou seu rebento
                   No rio Jocutuguara.
                   Que depois foi encontrado,
                   Tomando um outro destino,
                   Amamentado e criado
                   Com o nome Severino
                   Por uma gentil capivara.
Era feio como a peste,
A cara bexiga só,
Terrorizava o nordeste
Pras bandas de Mossoró.
Concorrendo com o capeta,
Assustando criancinha,
Atacando muié prenha,
Deixando-as só de calcinha...
Nos machos, baixando a lenha,
Dando uma coça porreta.
                   Um dia, assim num repente,
                   O cabra tomou tenência
                   Quando ele deu pela frente
                   Com moça sem saliência:
                   A filha do boticário.
                   Pra móde ver a menina
                   Foi trabalhar na botica...
                   Deixou sua antiga sina,
                   Mostrava agora as canjicas
                   Parecia mesmo otário.
Estava um dia aperreado,
Vendendo droga a freguês,
Quando se viu rodeado
E atacado por três
Dos cabras de Lampião.
Disse o mais encapetado:
“O chefe tá com espinhela
Caída e com mau olhado,
Tá mais fraco que donzela
De primeira comunhão.
                   Quero um remédio porreta
                   Pra levantá o patrão,
                   Pra livrá ele da morte
                   E daquela abafação
                   Que já num guento seus ai”.
                   Severino foi dizendo:
                   Eu tenho um que é dos bons
                   Que arriba quem está morrendo,
                   Dá pro home dois vidrões
                   De Neuro Fosfato Eskay.
E leva três outros mais:
Quebra um na encruzilhada,
Um outro joga pra trás
Quando por o pé na estrada,
Mas, não se vire pra vê-lo.
Com o terceiro vidrão
Que é bem maior de tamanho
Diga pro seu patrão
Toda vez que tomar banho
Passar sempre no cabelo.
                   Quase um mês se passara
                   E aparece procurando
                   Severino Capivara
                   Lampião com todo o bando
                   De cabras mal encarados.
                   Lampião tava sadio,
                   Forte como um cavalo,
                   Parecia até no cio,
                   Bonito que nem te falo.
                   Cabelos bem penteados.
Foi direto à drogaria...
Lampião lá entrou só,
O bando ficou de espia
Na rua que nem mocó,
Tocaiando a macacada.
“Foi ocê cabra da pesta,
Ocê que quase me mata
Com droga  ruim da molesta
Que fede e tem gosto de lata,
Lata velha enferrujada?”
                   Severino tremeu de medo
                   Quando ouviu ele falar.
                   Perdeu a voz logo cedo
                   Sentiu a calça encharcar
                   E os pés presos no chão.
                   Lampião disse em seguida:
                   “Fique sabendo seu moço,
                   Ocê salvou minha vida.
                   Eu tava só pelo e osso,
                   Morrendo lá no sertão.
“Agora, eu tô bom de vez,
Fiquei inté bem mais forte,
Agüento lutar com seis,
Voltei a zombar da morte
E nunca mais dei um ai.
Vim aqui lhe agradecê
Dizê que lhe quero bem
E pedir pra me vendê
Todo estoque que tem
Daquele fosfato eskay.”
                   Se deu bem o boticário,
                   Vendeu remédio adoidado,
                   Já ficou milionário
                   E inda vem de todo lado
                   Gente pra comprar fosfato.
                   Severino amigou como queria,
                   Nunca mais saiu do trilho,
                   E ainda noutro dia
                   Os dois tiveram um filho

                   Que a mãe jogou no mato.