Nos
debates, Dilma listou cinco escândalos tucanos impunes até hoje. E repetiu por
diversas vezes: “estão todos soltos,
todos soltos, todos soltos”.
Elio
Gaspari, colunista da Folha, escreveu quatro livros sobre os bastidores da
ditadura militar, com base nos arquivos pessoais de Ernesto Geisel e Golbery do
Couto e Silva, que eu li e até comentei aqui.
aqui, aqui, aqui
algumas passagens.
Esta semana, na Folha
de São Paulo, o jornalista relembrou para os desmemoriados os cinco escândalos citados pela Dilma.
O CASO
SIVAM
Em
1993 (governo Itamar Franco), escolheu-se a empresa americana Raytheon para
montar um sistema de vigilância no espaço aéreo da Amazônia. Coisa de US$ 1,7
bilhão, sem concorrência. Dois anos depois (governo FHC), o "New York
Times" publicou que, segundo os serviços de informações americanos,
rolaram propinas no negócio. Diretores da Thomson, que perdera a disputa,
diziam que a gorjeta ficara em US$ 30 milhões. Tudo poderia ser briga de
concorrentes, até que um tucano grampeou um assessor de FHC e flagrou-o dizendo
que o projeto precisava de uma "prensa" para andar. Relatando uma
conversa com um senador, afirmou que ele sabia "quem levou dinheiro,
quanto levou".
O
tucano grampeado voou para a Embaixada do Brasil no México, o grampeador migrou
para o governo de São Paulo e o ministro da Aeronáutica perdeu o cargo. Só. FHC
classificou o noticiário sobre o assunto como "espalhafatoso".
A PASTA
ROSA
Em
agosto de 1995, FHC fechou o banco Econômico. Estava quebrado e pertencia a
Ângelo Calmon de Sá, um príncipe da banca e ex-ministro da Indústria e
Comércio. Numa salinha do gabinete do doutor, a equipe do Banco Central que
assumiu o Econômico encontrou quatro pastas, uma das quais era rosa. Nelas
estava a documentação do ervanário que a banca aspergira nas eleições de 1986,
1990 e 1994. Tudo direitinho: 59 nomes de deputados, 15 de senadores e 10 de
governadores, com notas fiscais, cópias de cheques e quantias. Serviço de
banqueiro meticuloso. Havia um ranking com as cotações dos beneficiados e
alguns ganharam breves verbetes. No caso de um deputado, registravam 43
transações, 12 com cheques.
Nos
três pleitos, esse pedaço da banca deve ter queimado mais de US$ 10 milhões. A
papelada tornara-se uma batata quente nas mãos da cúpula do Banco Central. De
novo, foi usada numa briga de tucanos e deu-se um vazamento seletivo. Quando se
percebeu que o conjunto da obra escapara ao controle, o assunto começou a ser
esquecido. FHC informou que os responsáveis pela exposição pagariam na forma da
lei: "Se for cargo de confiança, perdeu o cargo na hora; se for cargo
administrativo, será punido administrativamente". Para felicidade da
banca, deu em nada.
A COMPRA
DE VOTOS PARA A REELEIÇÃO DE FHC
Em
maio de 1997, os deputados Ronivon Santiago e João Maia revelaram que cada um
deles recebera R$ 200 mil para votar a favor da emenda constitucional que criou
o instituto da reeleição dos presidentes e governadores. Ronivon e Maia
elegiam-se pelo Acre e pertenciam ao PFL, hoje DEM. Foram expulsos do partido e
renunciaram aos mandatos. Ronivon voltou à Câmara em 2002. De onde vinha o
dinheiro, até hoje não se sabe.
O MENSALÃO
TUCANO MINEIRO
Em
1998, Eduardo Azeredo perdeu para o ex-presidente Itamar Franco a disputa em
que tentava se reeleger governador de Minas Gerais. Quatro anos depois,
elegeu-se senador e tornou-se presidente do PSDB. Em 2005, quando já estourara
o caso do mensalão petista, o nome de Azeredo caiu na roda das mágicas de
Marcos Valério. Quatro anos antes de operar para o comissariado, ele dava
contratos firmados com o governo de Azeredo como garantia para empréstimos
junto ao banco Rural (o mesmo que seria usado pelos comissários). O dinheiro ia
para candidatos da coligação de Azeredo. O PSDB blindou o senador, abraçou a tese
do "caixa dois" e manteve-o na presidência do partido durante três
meses.
Quando
perdeu a solidariedade de FHC, Azeredo disse que, durante a disputa de 1998,
ele "teve comitês bancados pela minha campanha". Em fevereiro
passado, o Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia do procurador-geral
contra Azeredo e ele renunciou ao mandato de deputado federal (sempre pelo
PSDB). Com isso, conseguiu que o processo recomeçasse na primeira instância, em
Minas Gerais. Está lá.
A COMPRA
DE TRENS EM SP
Assim
como o caso Sivam, o fio da meada da corrupção para a venda de equipamentos ao
governo paulista foi puxado no exterior. O "Wall Street Journal"
noticiou em 2008 que a empresa Alstom, francesa, molhara mãos de brasileiros em
contratos fechados entre 1995 e 2003. Coisa de US$ 32 milhões, para começar. O
Judiciário suíço investigava a Alstom e tinha listas com nomes e endereços de
pessoas beneficiadas. Um diretor da filial brasileira foi preso e solto. Outro,
na Suíça, também foi preso e colaborou com as autoridades.
Um
aspecto interessante desse caso está no fato de que a investigação corria na
Suíça, mas andava devagar em São Paulo. Outras maracutaias, envolvendo
hierarcas da Indonésia e de Zâmbia, resultaram em punições. Há um ano a empresa
alemã Siemens, que participava de consórcios com a Alstom, começou a colaborar
com as autoridades brasileiras e expôs o cartel de fornecedores que azeitava
contratos com propinas que chegavam a 8,5%.
Em
2008, surgiu o nome de Robson Marinho, chefe da Casa Civil do governo de São
Paulo entre 1995 e 2001, nomeado ministro do Tribunal de Contas do Estado. Em
março passado, os suíços bloquearam uma conta do doutor num banco local, com
saldo de US$ 1,1 milhão. Ele nega ser o dono da arca, pela qual passaram US$
2,7 milhões. (Marinho tem uma ilha em Paraty). O Ministério Público de São
Paulo já denunciou 30 pessoas e 12 empresas. Como diz a doutora, "todos
soltos".