Pamploma foi quem revolucionou os desfiles nos anos 60 pelo Salgueiro e, agora, no próximo dia 29, lança o seu livro “O Encarnado e o Branco” com suas reminiscências do carnaval. Todos os grandes carnavalescos – Arlindo Rodrigues, Rosa Magalhães, Joãosinho Trinta, Renato Lage, Layla - trabalharam e aprenderam com Pamploma.
Vou comprar o livro pra ver se ele conta a história de sua demissão da cobertura de carnaval pela Rede Globo. Ele era o único crítico que criticava de fato. Por isso, os bicheiros exigiram sua saída. Hoje, a cobertura dos desfiles é feita por idiotas que estão ali apenas para elogiar as escolas. Quem os assiste e acredita no que dizem até pensa que as escolas vão terminar empatadas.
Polêmico, falastrão, abusado e fumante inveterado aos 86 anos, ele afirma em entrevista a O Dia: “Sou vagabundo, sim, estou aí” e considera Paulo Barros o melhor desde Joãosinho Trinta. Parece até que sou eu falando.
- O que o motivou a fazer uma autobiografia?
Na verdade, não é um livro autobiográfico. Se eu fizesse uma biografia, seria até preso. Noventa por cento seriam censurados. É um livro de histórias. O que velho sabe? Contar história. Se não tiver Alzheimer. Como eu ainda não tenho a doença, decidi contar as minhas.
- São muitas histórias?
Claro. Sou vagabundo, de corriola, de botequim. E tô aí. Os CDFs se perderam, ninguém ouve falar deles. Mas os vagabundos estão sempre aí.
- E o Carnaval, como é que surgiu essa paixão na sua vida?
Sempre fui um amante da cultura popular. Em 1935, ia a bailes populares e nunca tive super-heróis. O mestre-sala e a porta-bandeira sempre foram os meus príncipes e princesas.
- E quando você passou, de fato, a participar do Carnaval como protagonista?
Em 1959, eu era professor de Belas Artes e fui convidado para ser jurado do Carnaval. Eu torcia pelo Império Serrano, mas, por ter sido da União Nacional dos Estudantes (UNE), me simpatizava com a Mocidade Independente pelo nome da escola. Quando vi o Salgueiro entrando na Avenida, de vermelho, falando sobre Debret, virei salgueirense na hora.
- Por causa do vermelho ou do Debret?
Do Debret. A escola falou de um artista em vez de falar de um general, como era hábito no Carnaval. Só tinha enredo ‘Dipiano’, do governo. (DIP é o extinto Departamento de Imprensa e Propaganda, órgão censor das manifestações culturais criado por Getúlio Vargas).
- Como foi aquele Carnaval?
Foi fantástico. Dei nota 8 para o Salgueiro, 6 para a Portela, para o restante dei 5 e 4. Mas o desfile da Portela foi arrebatador e eu aumentei a nota para 7. E eles ganharam por 1 ponto. Ali, entrei de vez no Carnaval.
- E no ano seguinte, já foi campeão com enredo sobre Zumbi dos Palmares.
Mas o Natal, da Portela, que tinha uma força danada, não descontou os pontos que deveriam ser descontados. Assim, acabaram declarados campeões também a Portela, a Mangueira, o Império e a Unidos da Capela. Ficou todo mundo feliz com o resultado. Menos nós, é claro.
- Dali em diante, o Salgueiro passou a falar sobre Aleijadinho, Xica da Silva. O revolucionário Pamplona mudou o Carnaval?
O grande revolucionário foi Nelson Andrade, diretor de Carnaval do Salgueiro. Pensava à frente de todo mundo, como o Juju das Candongas, da Mangueira. Eles pensavam em artistas como enredos, e não aquela patriotada besta.
- E qual foi o seu seu papel nessa história?
Eu sou muito ligado à cultura negra. Mas os negros não gostavam de se vestir de negros. Negro gostava de sair com chapéu de Napoleão para tirar onda após o desfile na Praça Saens Peña ou em Madureira. Acho que minha contribuição foi essa, valorizar a cultura negra.
- Como você avalia o Paulo Barros, o novo xodó do Carnaval?
Depois do Joãosinho Trinta, foi o que criou algo diferente no Carnaval. O resto é tudo treinador de futebol, não tem identificação com a escola de samba. Ah! tem o Laíla, que é identificado com a Beija-Flor e é ótimo. Temos a Rosa (Magalhães) e o Renatinho (Lage), mas é só.
- Como vê o Carnaval atual, cheio de enredos patrocinados?
Uma merda, mas o bom carnavalesco dá jeito. Pior são os sambas. Foi isso que acabou com o Carnaval. Hoje, se você junta uma turma no seu boteco e pede para alguém cantar um samba dos últimos oito anos que não seja da sua escola, não sai nada. Só tem porcaria. É um negócio marcheado que não pega de jeito nenhum.
- Qual seria a solução para isso, então?
Teria que chegar um cara corajoso e obrigar a escola de samba a cantar samba de verdade, mesmo perdendo no desfile.
- Mas a história só dá valor aos vencedores.
É verdade. Mas acho que a vida é feita de ciclos e em breve teremos um novo Carnaval. Esta é minha esperança.
- Você continua fumando sem parar. E bebendo?
Também, claro. Vou parar para quê? Para ter mais dois dias de vida?
10 comentários:
Quem reclama de seu blog?
Eu divulgo até suas postagens no "Feissebuque"!
A última foi a da Ampla que vc fez em 2009!
Não é reclamação, é apenas uma opinião parcial. Leia lá no Mangaratiba sem Prefeito.
Suas postagens interessam,sim.São sobre a cidade do Rio,sobre o Brasil e o mundo...Apesar dos pesares, também somos cidadãos do mundo.Não teria sentido algum pensar em Mangaratiba isoladamente.
Valeu anônimo,
É isso mesmo o que eu penso e me motiva a escrever: a vida.
Quem escreve só sobre Mangaratiba tem que publicar boatos, disse me disse e fofocas de botequim.
Tipo assim como o que se diz professor e escreve errado pra cacete?
Eu gosto tanto do blog do Lauro quanto o do Lacerda(da Leila,também).
São diferentes?Que bom?Isto não significa que um é melhor ou pior que o outro.A cada dia eles tornam-se mais interessantes,na medida em que nós, usuários, contribuamos com sugestões,críticas construtivas e co
mentários,também interessantes.Nós não sabemos,ainda,interagir.É natural...
Obrigado pelo elogio. Concordo com você que cada blog tem o seu perfil. Quanto à interação, ela é grande entre o meu e o da Leila, e, também, existe alguma com o blog do professor que eu ainda não tive o prazer de conhecer.
Lacerda:acho que você entendeu.Mas, não me refiro a vocês,mas a nós,usuários,que apesar do nosso município ser pequeno,nunca houve interação entre os bairros,infelizmente.Sempre estivemos muito isolados.Isso facilitou muito
para a situação caótica que vivemos hoje no município.Se não há união, como vamos nos organizar para sugerir,reivindicar,criticar etc?
Se queremos sair da "república velha" e ter qualidade de vida,no município, precisamos nos unir.O que acham?
Corrigindo o que eu disse em 23/01/13,11h29min.:se quisermos sair da "república velha" e ter qualidade de vida,no município,precisamos nos unir.
Mas resta saber se é mesmo isso que queremos.De repente,a maioria
gosta mesmo é desta desunião,deste descompromisso com o social,com o meio ambiente etc ,cada um por si e Deus por ninguém...E,por isso, até tentam agredir com palavras aqueles que querem algo mais,não só para si,mas para o município e para o planeta.Pode parecer muita pretensão,muita besteira,pra quem tem outra visão ou nenhuma.Quem sabe?
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