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sexta-feira, 2 de março de 2012

A INOCENTE DE BELFORD ROXO

Como Jesus, ela nasceu em berço pobre, quase uma manjedoura. Foi educada sob rígidos preceitos religiosos. Na verdade, foi mesmo educada sob uma ética perversa. 
O pai, protestante fundamentalista, exigia sempre a observância rigorosa à ortodoxia de sua doutrina cristã. Era um homem trabalhador que nunca deixou faltar nada em casa.
Além de um ciúme doentio pela filha, tinha um grande defeito: bebia. Quando se embriagava, ficava violento e agredia a mulher.
A inocente de Belford Roxo era filha única. Aos dez anos ainda acreditava em papai noel e na cegonha. Seu livro de cabeceira era “Contos da Carochinha”.
Bem depois dos treze, quase morreu de susto quando teve sua primeira e tardia menstruação. Desesperou-se, imaginou a morte ao ver aquele sangue sair de onde acostumou-se a ver somente sair xixi.
A mãe, mulher submissa e dominada pelo marido, tentou explicar-lhe a razão daquilo. E teve que informá-la sobre outras coisas, falar-lhe de sexo.
A menina sentiu uma aflição extrema ao saber o que lhe reservava o futuro.
- Mãezinha, não há outro jeito? - perguntou aflita.
- Só se você entrar para um convento e ser freira – respondeu a mãe.
- Então, eu quero ser freira – decidiu.
O pai não aceitou. Era contra a sua doutrina religiosa. Dediciu internar a filha em uma instituição feminina dirigida por pastores "evangélicos".
Pra quê? A inocente menina foi obrigada a ler a Bíblia diariamente.
De início, escandalizou-se com as estórias do Velho Testamento. Depois, teve que acreditar nelas. Não podia duvidar da “palavra de Deus” e achou que tudo aquilo era normal. Toda aquela pouca vergonha estava na Bíblia e ela imaginou que deveria ser bom.
A estória das filhas de Ló foi a que mais a impressionou. Começou a sentir um furor uterino impressionante igual ao daquelas personagens bíblicas.
Quando foi pra casa passar as férias de verão, já tinha um corpo perfeito de mulher e um rosto ainda de menina. Aquele tipo feminino que enlouquece os homens. Já estava com quase quinze aninhos.
Em casa, encontrou o pai novamente embriagado e lembrou de Ló completamente bêbado.
O pai olhou a menina com admiração e viu aquele ciúme doentio que antes sentia transformar-se em paixão. Abraçou-a com sofreguidão e ela retribuiu prazerosamente.
O pai sentiu um calafrio e, depois, aquele calor percorrer seu corpo, o sangue pulsar em suas artérias e seu membro viril aumentar de volume. Tentou se afastar; porém, a inocente de Belford Roxo aconchegou-se mais e mais.
A mãe, que assistia à cena e jamais tinha lido a Bíblia, percebeu logo o que acontecia entre os dois.
“Não mereço um abraço, também?” – disse ela.
A filha, então, se desfez daquele ardente abraço com o pai e, com frieza, abraçou a mãe.
Naquela noite, houve séria discussão entre o casal. O pai agrediu novamente a mulher e não conseguia dormir. A filha, que a tudo ouvia de seu quarto, sorriu.
Ele esperou a mulher pegar no sono, levantou de mansinho e, atormentado, dirigiu-se à cozinha. Bebeu meia garrafa de cachaça.
Novamente embriagado, pegou o facão mais afiado e mutilou-se. Verteu sangue até a morte.
Atualmente, a inocente de Belford Roxo vive feliz em São Paulo como garota de programa onde assumiu a identidade de Jaqueline Kelly. Pretende ganhar muito dinheiro e implantar um grande templo neopentecostal para ministrar os ensinamentos do Velho Testamento.
Não sei que fim levou a mãe.

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