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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

NOTÍCIAS DUVIDOSAS

Como Sísifo, o jornalista tem que, diariamente, empurrar com as próprias mãos uma enorme pedra montanha acima, até o topo, vê-la rolar montanha abaixo e ter que começar tudo de novo.
Na mitologia, Sísifo, que teria sido um dos primeiros gregos a dominar a escrita, desafiou os deuses e foi condenado a essa tarefa sem sentido por toda a eternidade.
Mestre da malícia e dos truques, Sísifo foi um dos maiores ofensores dos deuses mitológicos. Camus considerava Sísifo o herói do absurdo.
É dura a vida de jornalista, ter que encher páginas e mais páginas em branco com palavras e fotos todo santo dia. Quando faltam palavras, aumenta-se o tamanho das fotos e incluem-se notícias inúteis, absurdas e duvidosas.
Leiam esta notícia absolutamente inútil: “O universo pode ter três vezes mais estrelas do que foi antes calculado pelos cientistas, diz estudo publicado no site da revista "Nature" nesta quarta-feira. Segundo as novas estimativas, elas seriam pelo menos 300 sextilhões, ou o número três seguido de 23 zeros.”
Que importância tem para nós mortais a quantidade de estrelas no universo? Agora, uma notícia absolutamente absurda: “O Ministério Público de São Paulo apresentou, nesta sexta-feira, recurso contra a sentença da juíza Kenarik Boujikian Felippe, da 16ª Vara Criminal, que condenou o médico Roger Abdelmassih a 278 anos de reclusão pelos crimes de estupro e atentado violento ao pudor contra 37 pacientes da clínica de fertilização que ele mantinha em São Paulo. Para os promotores, a pena de 278 anos de reclusão é baixa, uma vez que foi aplicado o mínimo legal para cada tipo de crime praticado.”
Os caras não têm o que fazer? Ou apenas querem aparecer? Não sabem que a condenação máxima é de trinta anos?
Mas, o que eu queria mesmo falar é sobre as notícias duvidosas. São quase todas as publicadas, porém, esta vem recebendo cada vez mais espaço na pauta diária. É sobre as denúncias de abusos feitas por moradores contra os policiais que investigam o tráfico no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro.
“Das dezenas de relatos de desrespeito aos direitos humanos feitos no boca-a-boca, desde a entrada da polícia, apenas 32 foram registrados e, destes, quatro se transformaram em procedimentos oficiais de investigação. Considerando os 300 mil moradores de toda a área ocupada, é uma denúncia para cada 9.375 pessoas.”
Ou seja, queixou-se apenas 0,01% dos moradores. Os bandidos devem ter deixado no local um percentual muito maior de parentes, amigos e assessores que, talvez, tenham o objetivo único de desmoralizar a polícia.
“Entre as queixas apuradas, estão os casos do pastor Ronai de Almeida Lima Braga Júnior, que diz ter tido R$ 31 mil furtados por PMs; da diarista Cleonice Madalena de Freitas, que reclama de móveis quebrados e um cacho de bananas roubado; e do Padre Barnabé, que apontou a quebra de objetos na capela São José.”
O caso do “pastor” é sintomático. Então, ele recebe 31 mil reais, deixa em casa e vai passear, porra! Para com isso. E ainda diz que o dinheiro foi resultado de um acordo trabalhista cujo documento também foi levado pela polícia. Pra cima de mim?
Houve também o caso de uma velhinha que disse ter sido furtada em dois mil reais cuja origem não declarou. O que fazia uma velhinha carente com dois mil em casa?
“Bagunçaram a sala e a cozinha toda, Secretário, roubaram até a minha banana — disse Cleonice a José Mariano Beltrame durante a caminhada do secretário de Segurança pelo Alemão.”
Fico imaginando os policiais arrumando a casa e as gavetas após a imprescindível revista: vão levar anos para revistar todas as casas. E imaginem o policial saindo da casa com um cacho de bananas nas costas.
“Deveria haver mandados judiciais específicos para entrar na casa dessas pessoas. Essa parte da operação é inconstitucional” — avaliou o sociólogo Ignácio Cano, pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Assim, não vai levar anos, mas décadas para fazer o serviço completo.
Enfim, isso é justificável porque os jornalistas precisam preencher páginas e mais páginas em branco e, todo dia, levar sua enorme pedra até o alto da montanha.
Bom era no tempo dos matutinos que não circulavam às segundas e dos vespertinos que não circulavam aos domingos. Havia um dia de descanso na semana para os jornalistas e, principalmente, para os leitores.
Melhor ainda é ser blogueiro que escreve quando quer e pode, às vezes, ser acometido de uma preguiça judiciária que ninguém liga.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom, rs