“Se não quiseres ser alvo da censura alheia, não faça, não diga, não seja, absolutamente nada.” (Voltaire)
Na passagem de ano, aturei calado os disparatados argumentos contra a Lei Seca proferidos por um indivíduo que não sabe o que diz mas se considera um cidadão consciente dos seus direitos e deveres. Minha vontade era cair de pés juntos sobre o estômago da indigesta criatura, mas estávamos na residência de uma amiga a quem muito prezo e, por baixo da mesa, minha mulher me continha aos ponta-pés.
O babaca dizia que a Lei não deveria atingi-lo porque dirige conscientemente mesmo após beber consideravelmente. Que a Lei Seca não resolveria jamais o problema das mortes no trânsito que continua existindo. Que a solução dependerá de campanhas educativas sobre direção preventiva. E que nunca mais votaria nesses deputados ladrões que aprovaram a Lei Seca.
E eu tive que ficar calado. Como calado eu tenho que ficar quando vejo na NET tanta estupidez contra o Bolsa Família. Dizem que o governo está mantendo uma imensa comunidade de vadios. Que a solução é educação e emprego para todos, como se isso fosse fácil. E enquanto isso não acontece: as crianças devem morrer à mingua sem qualquer ajuda oficial? Ou será que não temos uma dívida social com os mais carentes?
Contra a Quota Racial para entrar nas universidades públicas, então, o número de trogloditas contrários é muito maior. Afirmam que é paliativo, que a solução está no ensino básico de alto nível. Não sabem que a Quota Racial foi importada do primeiro mundo, dos Estados Unidos onde, dizem, o ensino básico é de altíssimo nível. Que ela significa o pagamento de outra dívida social que temos com os negros.
Tenho um amigo que combate em seu blog as Unidades de Polícia Pacificadora que estão sendo implantadas nas comunidades onde o tráfico foi expulso. Que isso não é solução porque continuam vendendo drogas nas imediações dessas comunidades.
Ele finge não conhecer a pesquisa do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS) com 600 moradores de 44 favelas do Rio ainda não contempladas pelo projeto mostrando que 70% dos entrevistados afirmaram ser muito favoráveis ou favoráveis à implantação de UPPs em suas comunidades. Em outra pesquisa, também do IBPS, foram ouvidos mais 600 moradores de favelas onde as unidades já estão funcionando: para 93%, o lugar onde vivem hoje é muito seguro ou seguro, contra apenas 5% que o consideram inseguro ou muito inseguro. Por outro lado, os imóveis usados valorizaram até 126% em janeiro na comparação com o mesmo mês do ano passado. O destaque foi para Ipanema, Copacabana, Botafogo e Tijuca. Os três primeiros são bairros já beneficiados pela ação das UPPs e a Tijuca é o próximo a ter esse mesmo tipo de ação, programada para acontecer na comunidade do Borel.
“Não é porque não posso ter um mundo ideal que vou desistir de apoiar um mundo razoável” – disse um comentarista deste humilde blog.
E disse mais. E eu repito que não se pode pensar desse jeito: “Ah! Eu não acredito (nessas ações) porque somente isso não basta.”
Ele comentava sobre o Choque de Ordem que vem sendo implantado em Muriqui e que alguns são contra pelas razões mais subjetivas.
Sei que o Choque de Ordem não é uma solução definitiva, mas, com o nosso apoio, prevalecerá como instrumento de educação para a civilidade. E é ótimo que existam autoridades que procuram agir pelo bem de todos independentemente do fato de outras se omitirem.
O interessante é que quem combate hoje – ou contesta – o Choque de Ordem em Muriqui já disse em meu blog que “A atuação da polícia foi eficiente e necessária. Ninguém aguentava mais a poluição sonora e a falta de limites daqueles que sequer questionavam como estariam os ouvidos dos moradores e frequentadores da orla.”
Não sei porque a mudança, pois a mesma comentarista já escreveu dizendo que “Também é hipocrisia de nossa parte, criticarmos ações corretas por vivermos tantas outras incorretas.”
Enfim, como eu sempre digo, repetindo Carlos Lacerda: “a coerência é uma virtude própria dos imbecis.”
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