Eu me viciei em escolas de samba desde que elas desfilavam na Av. Rio Branco, com cordão de isolamento e arquibancadas apenas para jurados e convidados. Assistia de pé às poucas escolas. Isso foi lá nos anos 50. Depois, passaram a desfilar na Av. Presidente Vargas, na Av. Antônio Carlos – onde desfilei pela primeira vez na Mocidade – e na Sapucaí. Arquibancadas de madeira eram montadas para a ocasião e, eu, sempre “afundando” para vê-las sem pagar ingresso. Isso depois de entrar na passarela com o Bafo da Onça e de lá somente sair debaixo de porrada da polícia.
Em 1984, Brizola construiu o Sambódromo, o palco definitivo. O Bafo da Onça não mais podia penetrar; mas, aí, eu já participava como diretor de escola e desfilava em todas, sempre de branco. Na Vila ou na Manga, na Serrinha ou no Sal, na Mocidade ou na Portela, eu sou o tal - dizia um samba que fiz com meu parceiro China. Tocou muito na Rádio Ipanema.
Nessa década fui, até, carnavalesco e autor de samba-enredo de escola do segundo grupo, a Unidos de Bangu. Vi e ouvi o samba se descaracterizar para agradar turistas e foliões de salão acostumados com o andamento acelerado das bandas que animavam os bailes.
Agora, em 2010, quando me falavam que o melhor samba era o do Salgueiro, eu dizia: isso não é samba, isso é marcha. No máximo, é um samba de embalo marcheado. Algo que empolga a escola e a aquibancada, mas que somente mexe com os pés e faz o componente marchar.
Samba é sincopado, mescla tons maiores e menores na melodia que se alterna, buscando caminhos inesperados e mexendo com o corpo inteiro de quem ouve, em andamento de samba.
O melhor samba é o da Imperatriz “Brasil de Todos os Deuses”, eu dizia. E não me importa se os jurados darão nota dez a todos os sambas das grandes escolas. Dos cinquenta jurados, metade julga de fato, enquanto a outra metade dá notas de acordo com o poder, o prestígio, o carisma da escola e de seu patrono. O julgamento que vale para mim é o do Estandarte de Ouro de O Globo que tem o Fernando Pamplona no comando.
Pamplona que foi proibido de comentar os desfiles pela TV por ser extremamente crítico e falar o que sente. Muito diferente dos atuais comentaristas que ganham somente para elogiar.
Minha única nota dez em Samba-Enredo é para a Imperatriz. Assim como a única nota dez em Comissão de Frente é para a Unidos da Tijuca. O que eles fizeram foi absolutamente sensacional. Como conseguiram? É segredo, o nome do enredo. Não é possível, em sã consciência, dar nota dez para nenhuma outra comissão de frente.
A minha Mocidade conseguiu se redimir este ano com o mais empolgante refrão do desfile. Empolgou a Sapucaí, a bateria e todos os seus componentes que devem tirar nota máxima em evolução, coisa que não acontecia há muitos anos.
E a minha querida Portela? Que decepção, cada ano sai pior e faz de tudo para cair para o Grupo de Acesso. Talvez, consiga este ano junto com a Viradouro.
Quem vai ganhar? Será um disputa difícil. Imperatriz? Tijuca? Grande Rio? Sei lá...
P.S.: O samba da Imperatriz ganhou o Estandarte de Ouro
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2 comentários:
Aí acertou tudo. A Portela não desceu mas quase chegou lá. Estandarte de ouro para o samba da Imperatriz, de melhor escola e comissão de frente para a Unidos da Tijuca e o rebaixamento da Viradouro.
Mas já tô acostumado com suas previsões. Também, com a quilometragem de Sapucaí que vc tem, é covardia!
Filho,
Ano passado, acertei quem ganhava e quem caía: Salgueiro e Império.
Esse ano, foi mais difícil. Por isso, citei três escolas. Acertei na campeã e na vice-campeã.
Quanto a outra - a Imperatriz, que apresentou o melhor samba - foi o imponderável que me fez errar. O enredo religioso - Brasil de todos os deuses - desagradou muito o fundamentalismo dos jurados. A escola não recebeu nenhuma nota máxima em enredo e até perdeu pontos no samba.
Jurado bom foi o Paulo César Morato que deu nota máxima em Comissão de Frente somente para a Tijuca.
Quanto à Portela, não caiu porque ficou pendurada pelo seu prestígio e carisma, satisfeitíssima com o seu nono lugar.
E o refrão da Mocidade rendeu à escola três notas máximas em evolução.
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