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sábado, 7 de setembro de 2019

APOSENTADORIA


Quase todos nós sonhamos com a aposentadoria.
Mesmo aqueles que nunca pegaram no pesado, nem contribuíram com qualquer merreca para a previdência social, sonham com o dia em que farão jus a um salário mensal sem ter que fazer nada em troca.
Entre esses, muitos tentam aplicar um golpe no INSS para realizar o seu sonho. Alguns até conseguem.
Em compensação, meu pai contribuiu a vida inteira, faleceu antes de se aposentar e não pôde nem deixar pensão para ninguém. Assim como milhões de mulheres que contribuíram durante mais de dez anos e sonhavam apenas com o casamento. Casaram, largaram o emprego e a previdência ficou com a grana. Grana que milhares roubaram e, agora, dizem que não têm como pagar aqueles que contribuíram.
Há, porém, alguns que não sonham com a aposentadoria. Pensam que se pararem de trabalhar vão perecer na inutilidade.
Não sabem como é bom ser inútil. Não saber que horas são nem que dia é hoje. Ler, computar, escrever, comer, beber, dormir, sem ter que dar satisfação a ninguém.
É o autêntico livre-arbítrio, afinal. Fazer o que quiser, é como estar no mundo a passeio. E todo mês aquele troco na conta-corrente. E ainda ter direito ao décimo-terceiro.
Eu contribuí, durante muito tempo, sobre 20 salários. Depois, a lei baixou a contribuição máxima e passei a pagar sobre dez. Quando via aquele desconto no meu salário, todos os meses, durante 30 anos, sonhava com o dia em que receberia tudo de volta.
Hoje, 33 anos depois de aposentado, ao contrário de meu pai, vejo que já recebi triplicado tudo que me descontaram. E, dentro da lei, sou mais prejudicial ao INSS do que a grande maioria dos fraudadores.
O meu sonho de aposentadoria se realizou. Sou um inútil e orgulhoso vagabundo. Sou pago para não fazer nada. A não ser trocar lâmpadas, ir ao mercado, cuidar da minha mulher, pegar coisas onde ela não alcança e outras coisinhas sem importância. Quando ela me pede algo mais complicado, deixo para fazer somente nos feriados.
Sábados e domingos, eu tiro para descansar. E continuo vivo.
Como castigo, porém, tenho outros sonhos de aposentadoria. São, na verdade, pesadelos terríveis.
Quase todas as noites, sonho que estou trabalhando. Dou um duro danado a madrugada inteira e nada dá certo no que faço. Às vezes, carrego um carrinho de mão cheio de pedras pra lugar nenhum e nunca chego lá.
Acordo revoltado, cansado e nada nem ninguém consegue me desviar da mais completa inutilidade.

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