Minha nora fez parte de uma
parada louca no calçadão de Campo Grande, junto com colegas do Caps Simão Bacamarte. Um evento
da Luta Antimanicomial, por uma sociedade sem manicômio.
Fez-me lembrar dos malucos beleza
do meu tempo de garoto.
Malucos beleza sumiram das
ruas como sumiram os anões. Não existem mais ou devem estar trancafiados em
manicômios.
O primeiro maluco beleza que
me lembro é o Zé da Maculata com seu isqueiro que jamais falhava. Ele sempre o
mostrava orgulhoso para todos.
Tinha também a Maria Maluca
que, às vezes, surgia inteiramente nua pelas ruas.
Quando disputávamos uma
pelada na rua de areia, lá vinha aquele baixinho de terno e gravata pedindo
para jogar. Sempre deixávamos. Ele tirava os sapatos, as meias e arregaçava as
calças. Jogava de paletó e gravata até escurecer. O danado do maluco beleza era
bom de bola.
Sempre parávamos o jogo para
Hermínio Maluco passar. Ele ia encher uma lata d’água na bica do Marco 6. Voltava
equilibrando a lata cheia d’água na cabeça dando aqueles saltinhos próprios de
quem tem uma perna mais curta.
Quando ele se distanciava um
pouco, um coro perverso gritava: “Hermínio
Maluco!”. Ele dava um salto maior, se virava pra xingar e quase toda a água
era derramada. Tinha que encher a lata novamente.
Éramos malvados como toda
criança sempre foi. Longe dos pais, naturalmente. Perto deles, éramos anjos.
Anjos que também não existem
mais. Como disse Nelson Rodrigues: “Qualquer
menino parece, hoje, um experimentado e perverso anão de 47 anos”.
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