PSDB prova do próprio veneno
Por Ricardo Melo na Folha de São Paulo
Auditor que acusa o tucano Beto Richa é chamado de bandido; já Youssef
é gente honesta
"Pegaram um criminoso, réu confesso, preso por
abuso de menores, para me acusar sem nenhuma prova. Coisa de bandido."
Não, a afirmação não é de nenhum suspeito na operação
da moda, a Lava Jato. O desabafo é do governador Beto Richa, tucano de
carteirinha, num vídeo publicado no Facebook. Richa, como se sabe, ganhou
notoriedade nacional --e internacional-- como o carrasco de professores do Paraná.
Nada como um dia depois do outro. Eis que um auditor
da Receita paranaense, Luiz Antônio de Souza, fez o que o doleiro Alberto
Youssef pratica período sim, período não. Entrega uma delação premiada em troca
de redução de penas. O conteúdo fica ao gosto de um certo público qualificado.
Para quem não sabe, Souza é acusado de participar de
um esquema em que empresários pagavam propina em troca da redução ou até da
anulação de calotes tributários. Puxando o novelo, surgiu a denúncia de que o
grupo de auditores criminosos deveria molhar a mão da campanha de Beto Richa
com R$ 2 milhões surrupiados na propinagem.
O conteúdo da delação tem tanto valor quanto as
infindáveis "revelações" de Youssef. Ou seja, é tudo verdade? É tudo
mentira? Que parte é verdade e que parte é mentira? Silêncio ensurdecedor no
PSDB.
Assim como Souza, Youssef é um criminoso contumaz. O
primeiro chega a abusar de menores; o segundo prefere negociar com adultos.
"Incorrigível", como declarou o Ministério Público depois que o
doleiro voltou a delinquir após atuar como delator no caso Banestado.
Mesmo assim, Youssef recebeu uma nova chance. Virou
testemunha-chave na Lava Jato. Mais. Ganhou direito a delações editadas.
Algumas de suas denúncias estampam manchetes; outras,
que envolvem gente de fora do governo atual, têm que ser procuradas com lupa
nas redes sociais.
A história fica mais grave ao sermos informados de que
a Operação Zelotes, criada para investigar roubalheira grossa na Receita
Federal, corre o risco de absolver 90% dos suspeitos. O caso envolve processos
que somam mais de R$ 19 bilhões em impostos sonegados, deixando a Lava Jato no
chinelo.
Com a palavra Frederico Paiva, procurador responsável
pelo processo: "Como as medidas investigatórias não estão sendo deferidas,
as pessoas também não estão preocupadas. Está todo mundo em casa".
O procurador refere-se a pedidos de busca e apreensão,
escutas telefônicas etc. sistematicamente negados pela 10º Vara Federal. Nada
como fazer parte da sobrenomecracia. Já o juiz Sérgio Moro só falta anunciar
prisões pelo Twitter.
No Brasil, a Justiça é cega apenas para alguns. Para
outros, depende de colírios financeiros.
ESQUEÇAM O QUE ESCREVI
Com o vazio de lideranças dignas desse nome, a
oposição escalou o veterano Fernando Henrique Cardoso para comandar a tropa de
choque contra o governo. Rejuvenescido por amores tardios e celebrado pela
banca em Nova York, faz o diabo para mostrar que está em forma.
Subiu no caixote e gostou do ambiente; aguarda-se um
dueto com Marta Suplicy em rede nacional. FHC chama Lula para o embate, flerta
com o impeachment de Dilma, opina sobre tudo. Menos, por exemplo, sobre o
dinheiro torrado para comprar a própria reeleição.
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