Escrito por Mário Magalhães, o cansativo livro “O guerrilheiro que incendiou o mundo” recebeu o Prêmio Jabuti 2013 como a biografia do ano.
Não é bem uma biografia: falta emoção, falta heroísmo, falta a aventura de uma vida de lutas, e sobram detalhes repetitivos e absolutamente dispensáveis. Sobram personagens secundários e até seus prováveis pensamentos. Somente o índice onomástico e a bibliografia têm 140 páginas. É, na verdade, um documentário sobre a tortura com relatos minuciosos sobre os métodos utilizados para arrancar confissões.
O autor merece o meu respeito por ter tentado escrever uma biografia sobre o maior revolucionário brasileiro que, durante quarenta anos, desde a juventude, defendeu suas idéias como sindicalista, deputado constituinte e guerrilheiro fundador do maior grupo armado que combateu a ditadura militar.
Escreveu, porém, uma meia biografia, dedicando mais páginas ao horror da ditadura do que à vida do biografado.
Foi a quinta biografia que li este ano. As outras quatro – Carmem Miranda, Jango Goulart, Garrincha e Barão de Itararé – eu saboreei com prazer.
Quanto à polêmica, sou contra a biografia de seres vivos. A polêmica gira em torno da liberdade de expressão e da censura pelo possível biografado.
Tudo começou devido à “biografia” que Roberto Carlos conseguiu retirar das livrarias e proibir a vendagem.
Domingo, no Fantástico, Roberto Carlos deu a sua palavra final sobre o assunto: ele não é contra nem a favor das biografias não autorizadas, muito pelo contrário.
Ontem, no Roda Viva, seu “biógrafo” – Paulo César de Araújo - foi entrevistado e teve o apoio de todos os entrevistadores.
Quem é a favor, geralmente, argumenta com o artigo quinto da Constituição: diz que a necessidade de autorização prévia é censura, além de um atentado à liberdade de expressão.
Mas, o cara está vivo, a vida é dele, está sendo vivida e ele tem o direito de não permitir que publiquem a sua biografia, assim como tem o direito de se recusar a dar uma entrevista. Dalton Trevisan e Rubem Fonseca – grandes escritores – jamais dão entrevistas. Não é uma questão de censura nem de atentado à liberdade de expressão.
Mesmo que seja autorizada sou contra a biografia de seres vivos e não a lerei pois será sempre uma meia biografia. Quem se propõe a escrever a biografia de alguém vivo fará sempre a meia biografia, pois, a vida continua.
Ninguém está proibido de escrever sobre quem quer que seja. Vemos diariamente reportagens em jornais e revistas sobre pessoas públicas ou não. A livrarias vivem lotadas de publicações sobre a obra e até sobre a vida de alguém.
Portanto, não há censura nem atentado à liberdade de expressão. Entretanto, não se pode chamar de biografia um livro publicado com o objetivo de se aproveitar do interesse público por alguém vivo que está no auge da fama.
Quando o cara morrer, tudo bem. A vida não mais lhe pertence e não deveria pertencer a mais ninguém. Ninguém precisaria autorizar a publicação de sua biografia.
Somente num caso, como foi o das filhas de Garrincha que viviam na pobreza, os herdeiros teriam o direito de receber parte dos direitos da publicação.
Um comentário:
Também acho despropositada a biografia de pessoas vivas, bem como filmes focados nelas e ainda as homenagens com nomes de ruas, praças e cidades. Mas a respeito de pessoas falecidas, é preciso que haja alguma relevância pública ou artística que justifique. Há indivíduos que não se importam em aparecer, mas outros não gostam e nem dão motivos para isso. Vejo, p. ex., minha esposa que tem preferência hoje por não se expor ao passo que eu quero mais é divulgar minhas ideias e propostas pelo mundo. Mas em se tratando de um político, acho complicado limitarmos a biografia dessas personalidades. Até mesmo nos limites da privacidade quando esta se relacione com o ministério deles.
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