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terça-feira, 22 de outubro de 2013

MEMÓRIAS FALSAS E ESQUECIMENTOS

Até aí pelos cinquenta anos, eu tinha a certeza de ter visto o Zeppelin passar em direção à Santa Cruz aonde ele aterrissaria no hangar especialmente construído na Base Aérea.
Beirava eu os nove anos - tinha acabado a guerra - quando vi aquele monstruoso balão deitado voando baixo. O jogo de bola parou na rua até que o Zeppelin desaparecesse no horizonte.
Ainda tenho o evento na memória com todos os detalhes, mas, agora, sei que é uma falsa e gostosa lembrança. Foi o Google quem  tentou destruí-la informando-me que a última vez em que o Zeppelin esteve no Rio de Janeiro foi antes de 1937, ano em que nasci e em que a aeronave explodiu matando a todos os passageiros. Fiquei decepcionado  e, revoltado, jamais a apaguei da memória.
Gosto de lembrar como faço agora. Quando quero, vejo aquela imensa nave prateada vagando pelo céu de Bangu na velocidade pouco maior de uma bicicleta e a criançada assombrada de admiração.
Devo ter outras lembranças fantasiosas que não sei identificar. Todos têm, inclusive a testemunha ocular que identifica incorretamente o autor de um crime.
Agora, leio que cientistas estudam como os humanos produzem memórias de eventos que nunca aconteceram implantando memórias falsas no cérebro de camundongos.
A memória humana não é confiável e pode nos enganar, levando-nos a acreditar naquilo que ela inventa. Por que o cérebro produz memórias falsas ninguém sabe ainda.
Quanto ao esquecimento há, porém, uma teoria.  Às vezes, me pego reproduzindo expressões ou orações inteiras como se fossem novas, mas que eu já tinha escrito.
Este tipo de esquecimento certamente atinge a todos, especialmente aqueles que escrevem. Dizem que a criatividade talvez exija tais esquecimentos para que nossas memórias e ideias possam renascer e serem vistas em novos contextos e perspectivas.
Revisando meus textos neste humilde e sarcástico blog, vejo que venho cometendo um “auto-plágio”, repetindo certas passagens de textos já escritos.
Todos nós guardamos na memória idéias e opiniões lidas e ouvidas. E quando escrevemos, podemos reformulá-las imaginando que são originais nossos.
Sei que tenho sido apenas um grande plagiador de mim mesmo e, ocasionalmente, posso ser acometido de uma certa cleptomania literária inconsciente. Algo perdoável, pois, não é uma apropriação indébita e amigável como fazia Shakespeare.

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