É, também, uma homenagem à Nina de Mangaratiba. Ela diz que respeita o que escrevo mas discordou da minha postagem anterior. Por que será que ela não expõe a sua crítica diretamente em meu blog?
Assim opinou, hoje, Wanderley Guilherme dos Santos que completa 78 anos em outubro.
“Não se cura tuberculose por decreto ao fim de passeatas.
Mas as gangues de ladrões e depredadores que desde terça-feira, dia 18 de junho, receberam de presente a mais legítima carona da sociedade – desfiles pacíficos em nome da democracia – estão pouco se lixando. Os articuladores anônimos dos grupos violentos de direita, neo-nazistas inclusive, e dos radicalóides sociopatas, conhecem muito bem o tempo das políticas, mas não é o que os interessa.
Para os atraídos de boa fé para a trapaça reivindicatória, enfim, o discurso da presidente Dilma não trouxe novidade.
Investimento em saúde e educação, ensino técnico como nunca visto, transparência na administração, através da lei de acesso à informação, apuração de desvios administrativos, com inédita demissão de ministros, são políticas já em vigor e rotineiras, isto é, não há mais discussão sobre se devem ou não devem ser executadas.
São políticas de Estado, compromisso do país. Isso para não enumerar sucessivas inovações na política social que, estupidez que o amanhã julgará, passou a ser impudico mencionar em meios de classe de renda mais elevada.
A mensagem da presidente arrisca ser ineficaz, do mesmo modo como são absolutamente vazias as reivindicações marchadeiras: saúde, educação, transparência, ética na política – sem que se indiquem os acusados de objetá-las.
Por isso, as provocações tendem a perdurar enquanto os de boa fé não se derem conta de que são equivocadas as manifestações com tanta virulência contra o que de fato já está em execução, obtendo variados graus de sucesso.
O cerne da contestação não está nas demandas fragmentadas. Está no ataque à democracia como sistema capaz de prover e operar uma sociedade justa. Em outras palavras: segundo os mentores e comentaristas convertidos os grandes feitos dos últimos governos não seriam tão significativos, antes revelando ser a democracia, pelo menos em sua forma atual, um desastre governativo. Recusa enfática a esse niilismo não constou, mas devia ser crucial, do discurso presidencial.
A mensagem subliminar dos arquitetos da desordem (com exceção do Movimento pelo Passe Livre fora) e dos aproveitadores de todas as idades tem consistido em insinuar que as instituições democráticas – governo representativo, parlamentos, movimentos sociais organizados, partidos políticos – são os obstáculos à construção de uma sociedade mais justa e livre.
Golpistas crônicos, anarquistas senis em busca de holofote, muitos jovens anencéfalos e assustados da classe média em geral, formam a retaguarda deste exército do obscurantismo e da violência. A essência desse arremedo intolerante de participação é uma reação à democracia e suas realizações. Faltou ao discurso de Dilma Roussef uma declaração de que reconhecia as manhas dos que se aproveitam das boas intenções para conduzi-las ao inferno. E de que não se submeterá a elas.
Enquanto a empulhação televisa continua a descrever as manifestações “cívicas até aqui pacíficas”, no meio das passeatas, como se as apresentadoras não soubessem o que viria ao fim da encenação, registro que, em minha opinião, se trata do maior cerco reacionário, nacional e internacional, que este país já sofreu nos últimos vinte anos.”
Se o Wanderley tivesse lido minha postagem anterior, naturalmente concordaria com o que escrevi. Ao contrário da Nina.
10 comentários:
Lacerda,concordo plenamente.Viva os governos Lula e Dilma!Viva a democracia!Abaixo os neo-fascistas
do Brasil que tentam,de todas as maneiras abomináveis,voltar ao poder!
(desculpe-me o anonimato).
Perdoai-os anônimo. Eles não sabem o que fazem.
rsrsrsrs! Lacerda sempre magnânimo!!
Perdoe a Nina, perdoe a todos nós que neste momento não precisa de velhas fórmulas da política...só precisam desafogar o grito reprimido, a insatisfação recolhida e a cidadania mal vivida.
Dê a eles, a chance de errar como tantas gerações já o fizeram. A sua, a minha, talvez a da Nina.. agora é a vez dos jovens seguirem seu caminho, seja ele qual for... se estivesse bom e todas as gerações anteriores tivessem acertado, nem vc, nem eu, nem a Nina estaríamos aqui argumentando contra ou a favor...
Leila,
Não deixe de ler o editorial - “Ultrapassou os limites” - de O Globo. O jornal que influenciou os “feissibuquianos” a partirem para a ignorância e que apoiou inicialmente a baderna e a desordem. Siga o link: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2013/06/22/ultrapassou-os-limites-editorial-500843.asp
Bom dia, Lacerda.
Primeiro, eu gostaria de esclarecer que citei, no Blog Peixe com Banana, o seu nome, em resposta a um comentário de um trecho retirado da sua postagem. Fui ler sua postagem, intitulada PROTESTOS DE RUA, onde você diz que o povo trabalhador não queria saber das atuais manifestações, que eram só os brancos azedos do facebook, e com relação a isso discordei. O povo trabalhador foi para as ruas sim, naquele 17, 18... claro que nem todos, mas muitos apoiando de suas janelas e escritórios, jogando papéis das janelas e demonstrando que apoiavam a manifestação.
Não me senti à vontade para comentar em seu blog, fiquei achando que seria intrujona. Mas, agora que você me deu a liberdade ao “me homenagear” em sua postagem, citando logo um renomado cientista politico do Brasil, eu, em minha humilde sabedoria ou ignorância, irei colocar meu ponto de vista.
Em um livro escrito pelo Wanderley, intitulado Horizonte do desejo: instabilidade, fracasso coletivo e inércia social, ele busca entender como funciona o aparente conformismo nacional, analisando-o por um prisma inovador “por que em um país de tantas desigualdades como o Brasil nunca houve sequer um movimento popular capaz de promover, pelo menos, uma extensa reforma na vida nacional? Que mecanismos seriam capazes de esclarecer a manutenção desses desequilíbrios - não apenas sociais - ao longo de evidente processo de expansão econômica?”
E aí? Será que no fundo essas manifestações não são esse primeiro passo para mudanças? Pelo menos da inércia o Brasil saiu, o que vimos nesses dias foi um Brasil sacudido, sacudido em manifestações, em depredações (não concordo, deixo claro), em questionamentos explícitos, em reflexões sobre o caminho a seguir, em autorreflexões de partidos e de pessoas...
Lacerda, não sou contra partidos, não sou contra a Presidenta, mas sou contra as injustiças que estavam sendo feitas neste país em nome da suposta legalidade. Concordo que o movimento tem que tomar um rumo e se posicionar com relação a que veio, mas enquanto isso, como disse a Leila, nos perdoe por cometermos nossos erros, quem sabe daí não surgirão os acertos.
Continuo admirando o que escreve, mas em algumas horas poderá haver discordâncias.
Seja sempre bem-vinda por aqui. Uma comentarista como você - seja contra ou a favor - me orgulha e enaltece o meu blog.
Quanto ao livro do Wanderley, ele o escreveu em outra época, diante de outra conjuntura.
O que vale agora é o que ele diz hoje.
Obrigado por admirar o que escrevo, mas gosto mais daqueles que discordam de mim. É com eles que eu aprendo mais.
Lacerda, obrigada pelo acolhimento. Fiquei feliz em discordar, já o Wanderley concordaria, se tivesse lido, então... rsrs brincadeirinha. Entendi o recado.
O livro é de 2006, uma época não muito distante, por isso fiz a referência.
Nina,
O Lacerda vai te instigar sempre....
Não caia no papo dele.
E não deixe ele te irritar como faz comigo.
Liga não, Nina. É ciúme. Ela me ama. É apaixonada por mim e duvido que me desminta.
Nem vou me meter, rsrs, pelo jeito isso é amor antigo de escritores.
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