sábado, 29 de novembro de 2008
F.I.R.I.
Todos nós temos uma fonte inesgotável de recordações inúteis (FIRI). Eu, por exemplo, lembro dos números dos bondes cariocas. Não sabe o que é bonde? Pensa que é coisa de traficantes? Nada disso. Veja a foto acima.
O bonde era um meio de transporte sobre trilhos, movido a energia elétrica, que ligava os bairros do Rio, desde a Zona Sul até Madureira. Era um serviço explorado por uma subsidiária da Light. Pagava-se a passagem ao condutor com moedas. Como não havia controle, quem era um pouco mais esperto viajava no estribo e não pagava. Quando o condutor viesse cobrar, saltava-se do bonde em movimento.
Como ia dizendo, eu lembro do número dos bondes cariocas. O 13 era o Ipanema que ligava a Zona Sul ao Largo da Carioca. O 66 era o Tijuca, 76 o Engenho de Dentro, 77 Piedade, 78 Cascadura e muitos outros que ligavam diversos bairros ao Largo de São Francisco, à Praça XV ou à Praça Tiradentes.
Havia os bondes que circulavam apenas no centro da cidade, como o 27 que dava uma volta imensa, passando pela Praça Onze e pela Lapa, para ligar a estação Dom Pedro II à Praça Tiradentes. Havia, também, o 28 (Estrada de Ferro-Barcas) ligando Dom Pedro II à Praça XV.
Naquele tempo, nas revoltas estudantis contra o governo, contra a ditadura ou contra o aumento das mensalidades escolares, quebrávamos os bondes. Santa estupidez!
Eu lembro, também, da fórmula do Super Flit – DDT, piretro e rotenona – um inseticida líquido, pulverizado com uma bomba manual, muito usado nas residências.
Eu lembro os nomes dos três reis magos: Baltazar, Melchior e Gaspar, que levaram presentes para o Menino Jesus. O primeiro levou incenso, o segundo ouro – devia ser o mais rico – e o terceiro levou mirra. Não sabe o que é mirra? Pô! Assim não dá... é uma árvore africana cuja resina era - e, talvez, ainda seja - usada para fazer perfume.
Eu lembro o nome dos sete anões: Dunga, Zangado, Atchim, Soneca, Mestre, Dengoso e Feliz.
Eu lembro da fórmula para transformar graus centígrados em Fahrenheit: ºF = 32+(1,8 x ºC).
Eu lembro que o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos. Já ouviu falar no teorema de Pitágoras ou não?
Eu lembro o valor de pi (3,1416) e a fórmula para calcular a área da circunferência: pi vezes o raio ao quadrado.
Eu lembro da capital da Bulgária (Sofia), da Hungria (Budapeste), da Romênia (Bucareste).
Eu lembro a data da Batalha do Riachuelo (11/6/1865), do Tuiuti (24/5/1866) e sei exatamente o que fiz na manhã de 8 de maio de 1945 – ainda tinha sete anos – quando foi anunciado o fim da 3ª guerra mundial.
Eu ainda sei toda a letra do Hino à Bandeira. Aquele que começa com “Salve lindo pendão da esperança...” Eu sei o nome completo dos autores do hino nacional: Joaquim Osório Duque Estrada e Francisco Manuel da Silva.
Eu lembro a escalação do time do Botafogo campeão de 1948: Osvaldo, Gerson e Santos, Rubinho, Ávila e Juvenal, Paraguaio, Geninho, Pirilo, Otávio e Braguinha. Lembro que ele só perdeu para o São Cristóvão por 4 a 0 no primeiro jogo do campeonato.
É muita coisa inútil que não sai da minha cabeça e novas inutilidades vão entrando sem qualquer cerimônia, sem que eu possa evitar.
Nosso cérebro deveria ser como o trato digestivo. A gente põe o que quiser lá dentro e ele vai absorvendo o que é útil e expelindo o inútil, o que não presta.
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