Total de visualizações de página

sexta-feira, 24 de março de 2017

MEU CONTO DE FADA

Tomei um banho de loja, me embrulhei pra presente. 
Bordei um sorriso no rosto e me declarei a ela.
(Quando me apego, sou cego, me entrego, não nego.)
Convidei a lua cheia, derramei-a em sua janela
Com um luar da cor de prata...
Fiz comício, passeata, serenata só pra ela.
Dei-lhe anel, assinei papel, jurei amor eterno, 
Ela prometeu-me o céu e me levou pro inferno.
No início, uma fogueira, sempre acesa a noite inteira,
Pernas entrelaçadas, ternas...
(Tinha as mais belas pernas do pedaço)
Nossos corpos, num abraço, contestavam a ciência, 
Ocupando o mesmo lugar no espaço.
(Quanto mais amor pra nós era ainda pouco)
De dia, as flores na janela me espiando,
Odores na panela transpirando,
Sabores como os dela só provando...
De repente, pinta um racha entre nós:
Um drama atroz de filme barato, final de novela...
(Ela jogou tudo fora, a cadela) 
O sonho foi só meu, nunca foi dela
Aproveitou-se da minha mais-valia, abusou da regalia.
Hoje vivo duro, no bagaço,
O Ibope dela comigo só tem traço.
Mas, já ando sofrendo normalmente
E vou me dando bem com a tristeza,
Abri de vez com a solidão, fiquei de bem comigo.
Pra não perder a razão, perdi o seu juízo
O meu conto de fada deu em nada foi em vão.
(Se eu tinha que te perder tão cedo, por que você chegou tão tarde?)


segunda-feira, 20 de março de 2017

A TRANSPOSIÇÃO

Pequenino ele nasce
No alto da serra
E depressa ele foge,
Saltando entre as rochas...
Vestido de branco,
Ele pula do alto,
Um menino correndo
À procura do mar.
Escorrega no chão,
Brincando com as pedras...
Sozinho, ele traça
Seu próprio caminho,
Caminho sem volta
Cruzando o sertão
E trazendo pra vida
Uma vida melhor.
De repente, ele para
Cumprindo a visão
Do profeta que um dia
Pregou no sertão.
Chiquinho menino
Virou Velho Chico.
Lula abriu novo caminho
Algum tempo depois...
Não está mais sozinho,
Com a transposição,
Chico já tem um irmão 
E, agora, são dois
Inundando o sertão.

N.L.: veja AQUI a história da transposição.

segunda-feira, 13 de março de 2017

QUANDO EU TE PERDI

Quando eu te perdi, tentei chorar,
Me atormentar com a dor que não senti.
Tentei enlouquecer na solidão,
Quis morrer de emoção, não consegui.
A razão disse que não,
Eu me esqueci de sofrer.
Quando eu te perdi, nem sei porque
Me acostumei à vida sem você...
Quem me vê sorrir até duvida:
Fez tão bem a despedida.
Quando eu te perdi,
Eu me encontrei, enfim...
Senti o coração dizer que sim à razão.


segunda-feira, 6 de março de 2017

FARSA DA SEPARAÇÃO

Já vivemos tão longe um do outro, 
Separados...
Mas, a vida foi capaz de nos unir,
Confundir nossos caminhos...
Um deslize, um quase nada 
Impediria o nosso caso.
O que teria sido de nós assim, 
Sozinhos,
Sem a ventura do acaso?
Ainda vivendo à procura de nós dois?
Então, por que querer entrar no meu passado?
Viver a sua vida sem depois, 
Sem nada mais a falar, a sentir, a sofrer...
Não seja louco, espera um pouco,
Não vai ainda, é noite alta, se comporte.
Olha, há lágrimas na vidraça,
Está chovendo, a chuva é forte,
Ela não passa.
Amanhã, sem farsa, pode ir...
Agora - porra! - vem dormir.