A Proclamação da República foi o primeiro golpe militar promovido no Brasil
que, à época, era a única monarquia latino-americana. Nosso país foi o
último a adotar o regime republicano nas três américas, em 15 de novembro de 1989. E um dos últimos a
abolir a escravidão em todo o mundo.
Pedro II não tinha filho homem e a herdeira do trono
seria sua filha mais velha, a princesa Isabel, casada com um francês, o
Conde D´Eu. Este fato gerava o receio de que o país caísse no poder de um
estrangeiro.
A defesa de
um regime republicano era, então, manifestada em diferentes revoltas. A
Revolução Farroupilha – que durou dez anos entre 1835 e 1845 - foi apenas a
última a levantar-se contra a monarquia.
Após tantas lutas, a
abolição da escravatura, em 1888, foi a pá de cal na monarquia brasileira
porque afetou financeiramente o latifúndio e a sociedade escravista. Esta
elite que subsiste atualmente e justificava a presença de um imperador enérgico e autoritário retirou
o seu apoio ao monarca.
A corrupção do governo
monárquico era questionada pelos militares. A monarquia era também contestada
pela Igreja Católica que sofria a interferência imperial em seus assuntos.
A crise econômica devido à guerra do Paraguai também
influenciou na Proclamação da República, regime já adotado por muitos países
importantes que possibilitava maior participação política dos cidadãos.
O marechal Deodoro da
Fonseca, que assumiu o poder republicano, deixou de ser monarquista às vésperas
do golpe porque se sentiu corneado. Um dia, eu conto a história.
Doente, com dispnéia, Dodoro foi forçado a sair de casa pelos
conspiradores. Morava ali ao lado do Campo de Santana, hoje também conhecida
como Praça da República.
Após proclamar a
república ali mesmo, juntinho de sua casa, o marechal voltou para a cama.
Os militares, então, seguiram para o palácio do governo imperial, na Praça XV. Ali, convenceram o general Floriano Peixoto – outro monarquista, comandante do destacamento local e responsável pela segurança do Paço Imperial – a aderir ao movimento. Floriano foi o vice de Deodoro e, a seguir, presidente da república.
Depois, Floriano virou praça e Deodoro estação de trem, como diz o samba do
crioulo doido.
Assim, em linhas gerais,
foi proclamada a república de Rui Barbosa, um monarquista traíra que participou do
primeiro governo republicano-militar.
Apenas 25 anos após
a proclamação, em 1914, Rui Barbosa – que para alguns é considerado o maior brasileiro de todos os tempos (esquecem de Lula, Pelé, Jorge
Amado e Niemeyer) – proferiu um discurso no Senado cujo trecho a
seguir, em preto, é sempre reproduzido nas redes sociais; entretanto, esquecem
de reproduzir a parte que segue em vermelho:
“...De tanto ver triunfar
as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a
desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.
Essa foi a obra da República
nos últimos anos. No outro regime (na Monarquia), o homem que tinha certa nódoa
em sua vida era um homem perdido para todo o sempre, as carreiras políticas lhe
estavam fechadas. Havia uma sentinela vigilante, de cuja severidade todos temiam
e que, acesa no alto (o Imperador, graças principalmente a deter o Poder
Moderador), guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito
da honra, da justiça.”
N.L.: Um discurso similar ao dos
intervencionistas que, atualmente, querem acabar com a democracia e sonham
com a volta da ditadura militar, com a tortura, com o dedurismo, com o fim da
liberdade de expressão. Rui Barbosa sonhava com a volta do
absolutismo imperial muito mais corrupto. Como disse Nelson
Rodrigues: "Em nosso século, o grande homem pode ser, ao mesmo tempo, uma
besta".
Um comentário:
Boa tarde, Lacerda.
A meu ver, houve um sério equívoco no nosso processo político que levou ao fim a forma monárquica de governo.
Há que se notar que o povo não participou da queda do trono brasileiro. O que houve foi um movimento de intelectuais e e militares, apoiados por uma elite agrária retrógrada e pouco produtiva que tanto desejava ser indenizada pela abolição de seus ex-escravos. Principalmente os latifundiários decadentes do Vale do Paraíba que, diferentemente da elite paulista, viviam acostumados a depender dos benefícios do governo.
Assim, vejo que o golpe de 1889 abriu uma ferida em nosso processo histórico pois o melhor que poderia ter sido feito era reformar a monarquia pondo fim ao poder moderador. Ou seja, o Brasil passaria a ser desde então uma monarquia parlamentar em que o rei reina mas não governa.
Infelizmente, a mentalidade golpista e sobretudo as quarteladas passaram a fazer parte da história republicana até o fim do regime militar em 1985. Mesmo Getúlio Vargas, que deixou um legado importante para a nação na área social e trabalhista, só chegou ao poder pelas armas em 1930 e praticou um golpe quando implantou o Estado novo.
Atualmente, apesar de alguns intolerantes e fascistas gritarem nas ruas que querem uma intervenção militar, isso é passado. Nossas Forças Armadas acreditam nas instituições democráticas e não pretendem compactuar com qualquer movimento contrário à legalidade.
Sendo hoje a monarquia algo também pertencente ao passado, seria uma lamentável perda de tempo alguém defender a sua volta como querem uns poucos saudosistas. Hoje devemos desenvolver a nossa República tornando-a mais democrática, íntegra, acessível e participativa. Ou seja, um país para todos e não só de alguns que se beneficiam do Estado visando o interesse próprio.
Bom final de feriado!
Postar um comentário