Amanhã, estarei partindo (perdoem-me o gerúndio) para
completar os meus oitenta anos.
Não é mole, não! Oitentinha e ainda inteiro, sem
quaisquer mazelas que a grande maioria adquire com o passar do tempo. Sem nada
que me aflija. Sem ter que gastar na farmácia (somente com metformina, nada mais). Sempre com algum no bolso e no banco, sedentário e saudável, uma
ótima mulher, muito amado e bem feliz como meu pai desejou em seus versos
quando nasci.
Foi no século passado, a última vez que fui ao médico. Ele me diagnosticou diabetes. Condenou-me a viver sem comer açúcar. Claro que não cumpri a recomendação. Como viver sem comer doces e beber caldo de cana?
Foi no século passado, a última vez que fui ao médico. Ele me diagnosticou diabetes. Condenou-me a viver sem comer açúcar. Claro que não cumpri a recomendação. Como viver sem comer doces e beber caldo de cana?
O médico, bem mais novo que eu, já se foi e eu estou
aqui.
Dois filhos formados: um coronel-dentista já reformado
aos 55 anos pela Aeronáutica; outro formado em Odontologia e Direito, 43 anos,
muito bem empregado no Banco Central. Quatro netos: o mais velho, formado em Direito,
já está no Ministério Público; a do meio, formada em Psicologia, vive pela
Europa com o marido e há de me dar um bisneto ano que vem; a outra ainda cursa
Direito; o mais novinho, apenas quatro anos, ainda não disse a que veio.
Minha maior frustração na vida é jamais ter conseguido
permanecer milionário. Sempre que fiquei, o governo cortou três zeros da moeda.
Nunca pensei em tanto viver. E viver tão bem.
Acho que vivo pelas minhas duas irmãs que nasceram
antes de mim e viveram apenas três meses. Ou será que vivo pela minha mãe que
se foi aos 46 anos? Ou pelo meu pai que não passou dos 62 anos?
Será que Deus está descontando em mim?
Ou será que não me quer junto dele?
Não! O Todo Poderoso se amarra em mim e me deixa por
aqui enquanto eu quiser.
De agora em diante, só morro quando tiver vontade. E,
depois, ainda terei uma eternidade para viver.
Até lá, me orgulharei sempre de ser um elemento nocivo
às finanças da previdência social.
E como bom filho de Iansã, jamais temerei o amanhã.
Sempre com a proteção de Xangô.
4 comentários:
Inicialmente, parabéns, Lacerda, por mais um aniversário e pelos seus 80 anos.
Acho que o seu segredo da longevidade encontra-se no bom humor que mantém, o que é muito importante.
Forte abraço e aproveite esse dia!
Obrigado, Rodrigo.
Porém, oitenta somente no ano que vem.
Obrigado, Rodrigo.
Porém, oitenta somente no ano que vem.
Pena que não esteja mais em Muriqui.
Abraço.
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