Porém, ando muito preguiçoso e como concordo plenamente com o que escreveu Miguel do Rosário, em seu blog Gonzum, decidi reproduzir seu texto. É um pouco longo, mas vale a pena ler.
"O Brasil vencerá o complexo de vira-lata?
Francamente, o que mais me espantou nessa visita de Obama ao Brasil foi assistir ao show de complexados xingando o Brasil, os brasileiros, o governo, os ministros. A postura paranóica do esquema de segurança do presidente americano é um problema deles, dos americanos. Somos um país amigo, com obrigação de tratá-los da melhor maneira possível. Ministros foram revistados? Foram. É um absurdo? É. Mas até onde eu sei foi um engano do segurança americano, de um sujeito ou da equipe toda. Não foi para ofender o Brasil. Não foi um atentado à soberania nacional. Os americanos estão preocupados em proteger seu presidente. É medo. Os americanos têm medo. Já perderam vários presidentes. Abraham Lincoln foi assasssinado num teatro em 1865, num momento em que o país comemorava o fim da guerra civil. John Kennedy foi assassinado em 1963, num momento em que o país alimentava grandes sonhos de libertar-se do racismo e do conservadorismo, sonhos que voltaram com mais força ainda durante a campanha de Bob Kennedy, irmão de John, para presidência, igualmente assassinado, em 1968. Martir Luther King, que não era presidente, mas um líder amado em todo país pelas pessoas de bem, foi assassinado também em 1968.
Eu até compreenderia a reação se ela se limitasse a ser uma irritação contra os americanos. Mas não. Preferiu-se dirigir a raiva contra o Brasil, contra os brasileiros, contra o governo. Escreveram-se e reproduziram-se ad infinitum artigos esculachando o povo, o governo, a própria cultura nacional.
Todos esses que chamaram o governo, o povo e os brasileiros de serem subservientes, são uns complexados, ou então oportunistas.
O Brasil é um país soberano, independente, rico e promissor. Não se curva diante de ninguém. Seguranças americanos em frente ao hotel revistam um carro da Polícia Federal? Ora, paranóia dos agentes americanos que evidentemente suspeitavam que pudesse ser um terrorista disfarçado de polícia federal. Não é ataque à soberania. É paranóia dos americanos. Os policiais, mesmo contrariados, aceitaram a revista porque seria ridículo criar um incidente diplomático por uma besteira dessas. Os EUA são amigos, os agentes americanos que estão aqui são amigos, e Obama era no momento o hóspede mais ilustre do país.
Somos um povo hospitaleiro, cordial e pacífico, e isso implica em tolerar inclusive o medo e a paranóia dos americanos.
Mais grave ainda: internautas, achando-se muito politizados, procuraram ridicularizar populares que esperavam Obama e fizeram festa para o presidente americano, num ato de simplicidade, alegria e cordialidade, sentimentos bons que devemos estimular. Mas não. Houve uma campanha do ódio. Para certas pessoas a única postura correta era demonstrar ódio, aos Estados Unidos, a Obama, ao governo, a tudo. E essas mesmas pessoas ainda se acham defensoras da paz! Eu gostaria de saber que raios de defensores da paz são esses que defendem o ódio!
O povo simples, com sua inocência, demonstrou mais sabedoria (como sempre) que a classe média metida a politizada que passou dois dias vomitando ódio na rede.
Os Estados Unidos tem milhões de defeitos. Mas quem somos nós para jogar pedras? Por acaso o Brasil é uma perfeição? Tudo bem, não patrocimamos golpes de Estado em outros países, nem invadimos outra nação, mas e a violência terrível que inflingimos há séculos a nosso próprio povo? Não quero, porém, falar mal do Brasil. Ao contrário, quero afirmar aqui minha fé no povo brasileiro e em seu futuro. Quero fazer um contraponto à campanha masoquista e vira-lata que tomou conta das redes sociais.
Obama veio ao Brasil e só fez elogios à cultura brasileira. Elogiou a luta contra a ditadura, mais de uma vez. Elogiou nossas ações contra a pobreza e o fato de termos levado milhões para a classe média. Disse que apoiava a entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Enfim, Obama veio com flores para o Brasil e nós o tratamos com pedradas?
Em relação à Líbia, repito o que disse em post anterior. Foi uma ação da ONU. Se a ONU é submissa aos EUA, é um problema sexual da ONU, não dos EUA, porque temos ali potências econômicas independentes e maduras, que seguem os EUA de livre e espontânea vontade. Ninguém foi contra. O Brasil se absteve, assim como China, Rússia ou Índia. Ou seja, em vez de odiar Obama, pensem nisso, que ninguém foi contra a guerra.
Sou contra guerra, contra qualquer guerra, por princípio. Morrem inocentes. É uma coisa horrível. Confesso que eu e todos os analistas políticos do planeta estamos confusos com esse conflito. A situação na Líbia funde a cuca de qualquer um. Não sei mais em quem acreditar. Disseram-me que as denúncias do Lybia Alive costumam ser sérias, e foi lá que li a descoberta de buracos onde o regime de Kadafi enterrava centenas de pessoas vivas. Há um relato de 1.500 pessoas enterradas vivas. Sei que antes da guerra no Iraque também rolou satanização de Saddam Hussein para justificar a guerra, mas mesmo com Saddam não havia nada tão diabólico e com tantos depoimentos, e através de tantas fontes diferentes. Além disso, no Iraque não houve nunca nenhum protesto popular contra o ditador.
Nossa última esperança (frágil) é que não haja invasão por terra.
Outros disseram que foi um desrespeito de Obama dar ordem de ataque à Líbia no momento em que se encontrava com Dilma Rousseff. Por acaso ele escolheu isso? Claro que não! Decisões militares são tomadas pelo Pentágono. O presidente recebe a informação em cima da hora e só tem tempo de dizer sim ou não.
Obama frustrou as expectativas do mundo inteiro, mas é besteira demonizá-lo. Ele é um homem, não um monstro. A culpa é do sistema, e de cada um de nós, que fazemos parte desse imenso organismo vivo chamando humanidade. É muito fácil vomitar verdades em 140 caracteres no Twitter. Difícil, como dizia Maiakóvski, é a vida e seu ofício. Quantas revoluções já não viveu a humanidade e que logo se transformaram em pesadelo? Alguém tem a fórmula da justiça no mundo? Quantas mortes e guerras já não foram feitas em nome dos melhores ideais? Por acaso Obama é culpado por tudo?
Morre mais gente assassinada no Brasil do que em qualquer guerra no mundo hoje, a maioria pela própria polícia, ou seja, pelo Estado, e Obama é que é o monstro?
A opinião pública do mundo inteiro pediu a intervenção na Líbia. Se aqui no Brasil vimos um Clovis Rossi vociferando furiosamente para que a ONU interviesse militarmente na Líbia, imagine a pressão dentro dos EUA? Obama não é um faraó sagrado que pode fazer o que lhe der na telha. Ele tem atuação limitada ao que lhe permite o jogo de poder nos Estados Unidos.
Outra coisa que tem me deixado estupefato é esta crise de insegurança infantil que assolou uma parte das redes sociais, com pessoas gritando pela volta de Lula e Celso Amorim, como se o governo brasileiro dependesse de uma ou duas pessoas. Ou como se Lula não acompanhasse e assessorasse Dilma. Ora, Marco Aurélio Garcia, assessor de Lula, não continua lá, assessorando Dilma?
Rolou muita especulação sobre a não-ida de Lula ao almoço com Obama, mas amigos e o próprio já deixaram bem claro a razão: é o momento de Dilma. Não precisava nem ler a reportagem da BBC onde consta uma declaração do próprio presidente neste sentido, bastava usar o bom senso: o objetivo do encontro era mostrar imagens de Obama e Dilma juntos, e Lula, uma celebridade mundial, iria dispersar as atenções. Não porque falte luz própria a Dilma, mas Lula acabou de ficar oito anos na presidência. Muita gente no mundo ainda acha que o Lula é o presidente.
E tem mais, Lula declarou no último final de semana que ainda tem esperança em Obama, mas não se conforma com a apatia do presidente americano em relação à Cuba.
Em post anterior, eu lembrei que Lula recebeu Bush em 2003. Rolou o mesmo aparato de segurança, e se não soubemos que agentes não revistaram carros da PF ou ministros, isso não quer dizer que tal fato não tenha acontecido. Ou que não tenha acontecido apenas por sorte de haver um agente um pouco mais competente ou menos paranóico na hora e no lugar certo.
Há uma crise de insegurança e há também muitos carinhas da direita (ou da ultra-esquerda, o que é quase a mesma coisa) usando as redes sociais para botar pilha, tentando criar uma caveira do governo brasileiro e desestabilizar o país. O exército de Serra continua ativo e tem gente entrando inocentemente na onda. Eu já vi manifestações nitidamente falsas, forçadas, com objetivo notório de produzir discórdia e desânimo.
Cada bobagem que eu li! O antiamericanismo que explodiu na rede foi absolutamente idiota. E muitos blogueiros entraram na onda, sem o cuidado de fazer nenhum contra-ponto, nenhuma análise. A maioria dos americanos são pessoas legais, comuns, simples, como qualquer ser humano. É um país de cultura riquíssima, uma democracia pujante que venceu o racismo para eleger um negro presidente da República. Não vi uma pessoa olhando para esse ponto. A presença de Obama no Brasil tem uma importância enorme para a formação de uma consciência não-racista em nossas crianças e adolescentes. Um negro, presidente do país mais rico do mundo. E num país de brancos, ainda por cima. É um exemplo para nós, onde negros são maioria, e onde o número de dirigentes políticos negros é ínfimo. Qual o impacto na consciência das crianças negras do Brasil, que viram Obama, acompanhado de sua esposa negra e suas filhas negras? Obama tem defeitos? E daí? Qual o presidente dos Estados Unidos que não teve defeitos?
Se o Brasil fosse tão rico e desenvolvido como os EUA talvez tivéssemos os mesmos defeitos e a mesma arrogância. Quem garante que não? Somos todos seres humanos inchados por ambição, vaidade, inveja e medo. Todos iguais, americanos e brasileiros. Não quero tirar onda de sábio, essa é uma máxima que as pessoas mais simples conhecem.
Só se sente humilhado quem tem baixa autoestima. Quem sabe o seu valor, quem tem amor próprio e altivez, entende que a postura dos americanos provém apenas do medo. É um problema deles, não nosso. E nossa obrigação, como anfitriões, é proporcionar-lhes sensação de segurança. Não por subserviência, mas por uma questão de hospitalidade e tolerância! Não se deve ser tolerante apenas com o humilde, mas também com o arrogante. Ambos são defeitos humanos que nós mesmos possuímos. Se fôssemos tão ricos e visados quanto eles, e se tivéssemos tido tantos presidentes assassinados e sofrido tantos ataques terroristas, seguramente nos comportaríamos da mesma forma!
Por essas e outras é que eu, mesmo sendo ateu, admiro tanto a palavra de Cristo e os ensinamentos do Velho e do Novo Testamentos, que ensinam, em resumo, que o orgulho é uma merda.
O que não podia acontecer seria assinarmos contratos econômicos ou políticos que prejudicassem o povo brasileiro. Fizemos isso? Não. O governo brasileiro por acaso assinou algum acordo nocivo aos interesses nacionais? Não. Essa é a única subserviência com a qual devemos nos importar. Essa é a subserviência que tivemos no passado e que, com auxílio da sabedoria eleitoral do povo, esperamos nunca mais voltar a acontecer no futuro.
Ao contrário, a visita resultou em aproximação política entre os dois governos, facilitando futuros acordos vantajosos para nós. Os americanos conheceram um pouco mais do Brasil, e nós conhecemos um pouco mais os dirigentes americanos. Não fomos nós que babamos o ovo de Obama, foi Obama quem veio babar o nosso ovo! Com interesse, claro, mas sempre se baba ovo por interesse.
Somos um país com grande potencial e um futuro brilhante. Nossas contas externas são firmes e não dependemos mais dos EUA ou de nenhum país rico para quase nada (eles dependem mais de nós do que nós deles). Não há razão para tanto complexo. Espero que um dia nos libertemos dessa maldita baixa autoestima e olhemos a nós mesmos com mais generosidade, compreensão e autoconfiança."
Nenhum comentário:
Postar um comentário