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domingo, 25 de maio de 2008

FOME OU OBESIDADE?


Com um mês de nascido - talvez, dois - eu berrava de fome. À noite, era um desespero, não deixava ninguém dormir. O leite materno não me alimentava.
Perto de casa, porém, morava uma família muito carente, bem pobre, onde havia também um bebê da minha idade. Meu pai ajudava aquela família de muitos filhos – todos saudáveis, bem nutridos - e a mãe, uma negra gorda, opulenta, abundante, se ofereceu para me amamentar. Sobrava-lhe aquele líquido branco, quase cremoso, substancial.
Em minha primeira mamada, imerso naqueles seios monumentais, pude finalmente saciar-me. Enquanto mamava, sugando furiosamente aqueles mamilos retintos, agarrei um dedo da santa senhora com tanta força que foi difícil me tirarem do colo dela. Entorpecido pela fartura alimentícia, dormi doze horas seguidas.
Vinte e quatro anos depois, ocorreu fato idêntico com meu primeiro filho, logo nas primeiras semanas de vida. Era uma outra negra, espaçosa, idêntica àquela que me livrou da fome. Das duas, nunca mais tive notícia. Contudo, sei que jamais houve fome não saciada naquelas famílias.
Através dos tempos, porém, tenho visto reportagens na televisão sobre a fome em nosso país.
E, nessas reportagens, sempre identifico entre os esfomeados entrevistados aquelas duas volumosas senhoras. A verdade é que nunca vi um brasileiro faminto e magro. Qual Diógenes, procurei, de lanterna na mão, e jamais o encontrei. São todos bem nutridos, obesos, com raríssimas exceções.
Creio que essas raríssimas exceções, geralmente mulheres, são as anoréxicas, aquelas que sofrem de bulimia. Que pesam menos de quarenta quilos e se acham gordas. E, por isso, não comem. E, quando comem, fazem todo o esforço para vomitar. Ou, então, são aqueles que não engordam de ruindade.
Quem vê chegar à praia de Muriqui, nos finais de semana, vans e kombis repletas de famílias oriundas das localidades mais carentes de nosso estado, chega à conclusão de que a fome não existe. Ou melhor, a fome existe – e sempre existirá – mas é devidamente saciada como eu fui em meus primeiros meses de vida. O grande problema brasileiro é de fato a obesidade.
Eu já tinha chegado a essa conclusão antes da pesquisa do IBGE recentemente divulgada:
o brasileiro está acima do peso e - diz a pesquisa - é grande o número daqueles que tem obesidade mórbida.Em consequência, digo eu, há também uma fome mórbida. Essa morbidade é que seria o grande problema da fome em nosso país.

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