Não escrevo desde o Natal. Faltam-me palavras e, agora, aos 80, tenho medo de cometer erros gramaticais. Mas, hoje, 17 de maio, não posso
evitar. Faz 55 anos que conheci a minha mulher.
Era o início da ditadura, da tortura, da linha dura. E eu no
auge da contracultura em 1964.
Era o auge também do
cinema francês com Brigitte Bardot após o filme “E Deus criou a mulher” de
1956, de seu marido cineasta Roger Vadim.
Eu era apaixonado pela mulher dele quando encontrei na rua o
clone dela. Uma lourinha linda de 17 anos, uma beleza avassaladora. Foi amor à
primeira vista? Ou não? Creio que queria uma Brigitte pra mim e a encontrei.
O melhor de tudo é que, depois, ela me disse que há muitos
anos passava por mim quando ia pra escola, me admirava e eu nem ligava pra ela.
Hoje, tanto tempo após, continuo apaixonado e ela, aos 72 anos, continua linda, ao contrário da
Bardot que envelheceu feia.
Para comemorar, comemos um ótimo bacalhau à espanhola, prato
que ela escolheu.
E ela mesmo pagou.