Vou ao Banco Itaú mensalmente, apenas uma vez e somente para depositar o que recebo em cheques. Faço todo o resto pelo Itaú Bankline.
Este mês, havia gente pra cacete. As filas se confundiam. Identifiquei um senhor, cabelos brancos como os meus, que parecia ser o último de uma fila e perguntei: “Esta é a fila dos anciãos?”
O coroa não gostou e respondeu sério: “Aqui é a fila da melhor idade”.
Fiquei na minha, mas, de imediato, senti o que o politicamente correto faz com a mentalidade dessa gente. Não aceitam mais uma piada tão inocente e caseira.
O politicamente correto faz com que levem a sério a sua própria seriedade e passem a crer naquilo que é contrário à realidade mas que é difundido impunemente.
Eu posso falar porque já passei dos oitenta. Minha melhor idade foi aí entre os 30 e 50 anos de idade.
Não existe melhor idade que essa. A não ser para os atletas.
É quando a gente já sabe pra que veio ao mundo. Já superou todos os obstáculos, sabe o que quer e tem absoluta confiança em si próprio. Não faz mais tanta besteira. Não precisa mais tentar parecer o que não é de fato. Pode mostrar-se por inteiro, despido de vaidades e não se incomoda mais com as críticas.
Aos 50, porém, você percebe que é o começo do fim. Seu prazo de validade está se esgotando. Mas, quando passa dos 80 é maravilhoso: a gente tudo pode na idade que nos fortalece.
Considero, porém, que a propaganda enganosa da melhor idade até que favorece o famoso “pé-na-cova” oferecendo-lhe motivos para sorrir à beira da própria sepultura.
Algum mérito, portanto, possui esse tipo de politicamente correto. Mas, nem tudo que é politicamente correto tem méritos. Principalmente para mim que considero os apelidos algo genial e sou politicamente quase incorreto.
É dureza ter que falar do anão como um deficiente vertical, ele sempre será o pintor de rodapé; chamar o negão de afrodescente em vez de picolé de asfalto; o branco azedo de cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente; não se pode dizer que a mulher feia nasceu pelo avesso, mas, sim, que ela tem um padrão de beleza divergente dos preceitos estéticos contemporâneos; o gordo – o famoso rolha de poço – e o magro – conhecido como pau de virar tripa – são cidadãos fora do peso ideal; o careca – ou pouca telha – passa a ser o indivíduo desprovido de pelos na cabeça.
Felizmente, a guerra contra o terror está mandando o politicamente correto para o brejo. Permitiu que voltássemos a pronunciar e escrever favela. Uma das palavras mais bonitas do idioma, além de ser fabulosamente poética.
A mídia e as autoridades parece que estão esquecendo do termo comunidade que é o politicamente correto.
OBS.: o antepenúltimo parágrafo foi lambido do http://www.dzai.com.br/blogdadad/blog/blogdaddad a minha professora de português.