Meu filho perguntou à mãe que
presente daria ao pai neste domingo e no anivesário dele na quarta-feira.
Nenhum, disse eu. Que presente
poderia querer um pai que tem tudo e que fará 80 anos?
Depois, lembrei do presente recebido
no Dia dos Pais de 2010. Acho que foi o melhor presente já recebido e foi bem
aqui no blog.
Foi a sua resposta a um anônimo
cretino que me acusou de falso e preconceituoso em um comentário. Como ninguém
me conhece melhor que meu filho, resultado da convivência constante durante
mais de 38 anos, ele se ofendeu e respondeu.
“Anônimo, meu
caro, tens razão. Meu pai dá vazão a todos os seus defeitos aqui neste blog.
Como diria uma amiga minha, entregar-se a um blog é como ficar pelado em plena
Av. Rio Branco, se não, não vale a pena tê-lo.
E ele se expõe. Mostra quem
é, o que pensa, onde mora, além de respeitar, publicar e dialogar com as mais
diferentes opiniões.
Isso na terra
livre da internet, onde as pessoas se escondem no anonimato até pra fazer um
simples comentário discordante. Mal sabe você que ele gosta mais das opiniões
divergentes.
Ele realmente não é humilde
mas não é soberbo. Parece, mas não é. E preconceituoso muito menos. Suas idéias
só podem ser confundidas com preconceito por um idiota, pense nisso.
E, apesar dessa
falta de humildade, perturbadora mesmo pra mim, ele é um cara muito simples que
conversa por horas a fio com qualquer um, qualquer um mesmo. Ele seria capaz de
defender, por exemplo, a democracia com um ditador, ouvindo e rebatendo
seus argumentos. Eu não faria isso nunca.
Lá em casa, ele
às vezes chegava do exterior, após ter dado uma palestra, e reunia amigos da
favela para rodas de samba que duravam todo o fim de semana.
O fato é que todo ser
humano tem defeitos às vezes inconfessáveis, e os esconde atrás de um moralismo
falso que nem jornal, e sai apontando o dedo pros outros. Difícil é encontrar
quem encare de frente e assuma seus próprios defeitos.
É difícil, para
muitos, ter e expressar opiniões sem levar para o lado pessoal. Aqui,
ele demonstra exatamente como se faz isso. E quem vê não compreende como
isso é possível.
Para lutar por uma posição,
para tentar convencer alguém de que isto ou aquilo é certo ou errado, não é
preciso brigar com esta pessoa.
Pai, eu sou seu filho e já
vi você estender a mão e ajudar com vontade quem me parecia ser seu inimigo.
Aos poucos fui compreendendo a diferença.
Também já vi você brigar
feio com um amigo da família, vi vocês resolverem as diferenças e logo depois
manterem-se amigos até hoje.
Anônimo, concordo com meu
pai no fato de que ele dá a cara a bater quando fala publicamente suas
opiniões.
Nesta época de Big Brother
(o da Globo, não o de Sir Arhtur Blair), é moda taxar os outros de falso ou
sincero. Mas para compreender a real diferença é preciso cultura. E talvez isto
lhe falte.
Se alguém chamar Lacerda de
chato, implicante, até grosso, além de vários outros defeitos, posso vir a
concordar, mas falsidade não é um deles. Pelo contrário, um pouco de falsidade
lhe faria até bem e pouparia a mim e a minha mãe de algumas chateações.
Assim, lhe agradeço pelas
palavras que demonstram exatamente essa grande qualidade que ele tem de
conseguir expressar com coragem suas fortes opiniões sem se envolver
emocionalmente, sem sentir raiva quando alguém lhe faz algo que desgoste ou lhe
faça mal. É uma qualidade que falta a muitos homens e que poderia nos tornar
mais pacíficos.
Em última análise, trata-se
de política de verdade. Política de transformar pelo debate franco e não pela
guerra.”
Que todos os pais tenham filhos que
se orgulhem deles é o que desejo neste próximo Dia dos Pais. E, quem sabe,
poderia receber um outro presente como este se é que ele ainda se orgulha do pai que tem.
Valeria, também pelo aniversário de 80
anos.