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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

80 ANOS

Acordei hoje pensando que tudo posso na idade que me fortalece. Levantei sem nada sentir. Nada que seja obrigatório um octogenário sentir. 
Chegar ao 80 anos é uma extravagância. Não considero excessivo, mas extravagante sim. Ainda mais assim saudável como eu.
Há muito que ultrapassei o prazo de validade de um brasileiro comum, mas continuo sedentário, fumando, comendo e bebendo de tudo.
Sou agora um mandrião convicto, vagabundo como sempre quis ser quando crescesse, e preguiçoso como um Macunaíma branco, mas com algum caráter.
Sou um elemento nocivo para as finanças do INSS. Tornei-me, também, um gozador irreverente, sarcástico e, muitas vezes, mal compreendido. Há até quem diga que sou um ser humano quase desagradável.
Eu diria quase humano também.
Vim do nada e cheguei a lugar nenhum, mas sempre saudável. E, aos 80 anos, repito, eu tudo posso na idade que me fortalece. 
Sou feliz e, talvez por isso, jamais fiz o discurso radical e negativista neste humilde blog. Aqui podem-se encontrar apenas críticas duras, implacáveis, eventualmente até injustas, talvez, mas sempre com fundamentos racionais. Nada que seja escrito com má fé. Apenas a minha opinião.
Sigo de bem com a vida, como sempre. Filhos bem formados, netos no bom caminho, mulher bonita e sempre com algum no banco e no bolso.
Bem resolvido e sempre com a amizade do Cara Todo-Poderoso Que Se amarra em mim.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

PRESENTE PARA O PAI

Meu filho perguntou à mãe que presente daria ao pai neste domingo e no anivesário dele na quarta-feira.
Nenhum, disse eu. Que presente poderia querer um pai que tem tudo e que fará 80 anos?
Depois, lembrei do presente recebido no Dia dos Pais de 2010. Acho que foi o melhor presente já recebido e foi bem aqui no blog.
Foi a sua resposta a um anônimo cretino que me acusou de falso e preconceituoso em um comentário. Como ninguém me conhece melhor que meu filho, resultado da convivência constante durante mais de 38 anos, ele se ofendeu e respondeu.

“Anônimo, meu caro, tens razão. Meu pai dá vazão a todos os seus defeitos aqui neste blog. Como diria uma amiga minha, entregar-se a um blog é como ficar pelado em plena Av. Rio Branco, se não, não vale a pena tê-lo. 
E ele se expõe. Mostra quem é, o que pensa, onde mora, além de respeitar, publicar e dialogar com as mais diferentes opiniões.
Isso na terra livre da internet, onde as pessoas se escondem no anonimato até pra fazer um simples comentário discordante. Mal sabe você que ele gosta mais das opiniões divergentes. 
Ele realmente não é humilde mas não é soberbo. Parece, mas não é. E preconceituoso muito menos. Suas idéias só podem ser confundidas com preconceito por um idiota, pense nisso.
E, apesar dessa falta de humildade, perturbadora mesmo pra mim, ele é um cara muito simples que conversa por horas a fio com qualquer um, qualquer um mesmo. Ele seria capaz de defender, por exemplo, a democracia com um ditador, ouvindo e rebatendo seus argumentos. Eu não faria isso nunca.
Lá em casa, ele às vezes chegava do exterior, após ter dado uma palestra, e reunia amigos da favela para rodas de samba que duravam todo o fim de semana.
O fato é que todo ser humano tem defeitos às vezes inconfessáveis, e os esconde atrás de um moralismo falso que nem jornal, e sai apontando o dedo pros outros. Difícil é encontrar quem encare de frente e assuma seus próprios defeitos. 
É difícil, para muitos, ter e expressar opiniões sem levar para o lado pessoal. Aqui, ele demonstra exatamente como se faz isso. E quem vê não compreende como isso é possível.
Para lutar por uma posição, para tentar convencer alguém de que isto ou aquilo é certo ou errado, não é preciso brigar com esta pessoa.
Pai, eu sou seu filho e já vi você estender a mão e ajudar com vontade quem me parecia ser seu inimigo. Aos poucos fui compreendendo a diferença.
Também já vi você brigar feio com um amigo da família, vi vocês resolverem as diferenças e logo depois manterem-se amigos até hoje.
Anônimo, concordo com meu pai no fato de que ele dá a cara a bater quando fala publicamente suas opiniões.
Nesta época de Big Brother (o da Globo, não o de Sir Arhtur Blair), é moda taxar os outros de falso ou sincero. Mas para compreender a real diferença é preciso cultura. E talvez isto lhe falte.
Se alguém chamar Lacerda de chato, implicante, até grosso, além de vários outros defeitos, posso vir a concordar, mas falsidade não é um deles. Pelo contrário, um pouco de falsidade lhe faria até bem e pouparia a mim e a minha mãe de algumas chateações.
Assim, lhe agradeço pelas palavras que demonstram exatamente essa grande qualidade que ele tem de conseguir expressar com coragem suas fortes opiniões sem se envolver emocionalmente, sem sentir raiva quando alguém lhe faz algo que desgoste ou lhe faça mal. É uma qualidade que falta a muitos homens e que poderia nos tornar mais pacíficos. 
Em última análise, trata-se de política de verdade. Política de transformar pelo debate franco e não pela guerra.”

Que todos os pais tenham filhos que se orgulhem deles é o que desejo neste próximo Dia dos Pais. E, quem sabe, poderia receber um outro presente como este se é que ele ainda se orgulha do pai que tem.
Valeria, também pelo aniversário de 80 anos.