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sexta-feira, 26 de maio de 2017

CORDEL

Revirando meus guardados, descobri uma das minhas incursões, há cerca de uns quarenta anos, pela literatura de cordel, manifestação cultural que eu admiro.
Nesse tempo, eu trabalhava na SmithKline, laboratório que fabricava o produto, e criei o pretenso cordel para incluí-lo num trabalho de grupo na faculdade de comunicação do qual participaram os colegas Kátia do Carmo Elias, Luis de Almeida, Maria Arminda R. Carvalho, Nanci Marinho, Roseli de Jesus Fernandes, Sérgio Gabriel Domingos e Sueli de Souza Barbosa.
Por onde andarão eles? E principalmente elas?

A estória de Severino Capivara e como ele salvou Lampião da morte, enricou o patrão e amigou com a filha do boticário.
Vou contar pro mundaréu,
Brasil, Filadélfia e México,
À maneira do cordel,
Com todo o sabor poético
Do povo do meu sertão,
A estória de Severino -  
Apelido capivara -
Malandro desde menino,
Que um dia deu de cara
Com o bando de Lampião.
                   Dizem, mas eu duvido,
                   Que, dia do nascimento,
                   Logo depois de parido,
                   A mãe jogou seu rebento
                   No rio Jocutuguara.
                   Que depois foi encontrado,
                   Tomando um outro destino,
                   Amamentado e criado
                   Com o nome Severino
                   Por uma gentil capivara.
Era feio como a peste,
A cara bexiga só,
Terrorizava o nordeste
Pras bandas de Mossoró.
Concorrendo com o capeta,
Assustando criancinha,
Atacando muié prenha,
Deixando-as só de calcinha...
Nos machos, baixando a lenha,
Dando uma coça porreta.
                   Um dia, assim num repente,
                   O cabra tomou tenência
                   Quando ele deu pela frente
                   Com moça sem saliência:
                   A filha do boticário.
                   Pra móde ver a menina
                   Foi trabalhar na botica...
                   Deixou sua antiga sina,
                   Mostrava agora as canjicas
                   Parecia mesmo otário.
Estava um dia aperreado,
Vendendo droga a freguês,
Quando se viu rodeado
E atacado por três
Dos cabras de Lampião.
Disse o mais encapetado:
“O chefe tá com espinhela
Caída e com mau olhado,
Tá mais fraco que donzela
De primeira comunhão.
                   Quero um remédio porreta
                   Pra levantá o patrão,
                   Pra livrá ele da morte
                   E daquela abafação
                   Que já num guento seus ai”.
                   Severino foi dizendo:
                   Eu tenho um que é dos bons
                   Que arriba quem está morrendo,
                   Dá pro home dois vidrões
                   De Neuro Fosfato Eskay.
E leva três outros mais:
Quebra um na encruzilhada,
Um outro joga pra trás
Quando por o pé na estrada,
Mas, não se vire pra vê-lo.
Com o terceiro vidrão
Que é bem maior de tamanho
Diga pro seu patrão
Toda vez que tomar banho
Passar sempre no cabelo.
                   Quase um mês se passara
                   E aparece procurando
                   Severino Capivara
                   Lampião com todo o bando
                   De cabras mal encarados.
                   Lampião tava sadio,
                   Forte como um cavalo,
                   Parecia até no cio,
                   Bonito que nem te falo.
                   Cabelos bem penteados.
Foi direto à drogaria...
Lampião lá entrou só,
O bando ficou de espia
Na rua que nem mocó,
Tocaiando a macacada.
“Foi ocê cabra da pesta,
Ocê que quase me mata
Com droga  ruim da molesta
Que fede e tem gosto de lata,
Lata velha enferrujada?”
                   Severino tremeu de medo
                   Quando ouviu ele falar.
                   Perdeu a voz logo cedo
                   Sentiu a calça encharcar
                   E os pés presos no chão.
                   Lampião disse em seguida:
                   “Fique sabendo seu moço,
                   Ocê salvou minha vida.
                   Eu tava só pelo e osso,
                   Morrendo lá no sertão.
“Agora, eu tô bom de vez,
Fiquei inté bem mais forte,
Agüento lutar com seis,
Voltei a zombar da morte
E nunca mais dei um ai.
Vim aqui lhe agradecê
Dizê que lhe quero bem
E pedir pra me vendê
Todo estoque que tem
Daquele fosfato eskay.”
                   Se deu bem o boticário,
                   Vendeu remédio adoidado,
                   Já ficou milionário
                   E inda vem de todo lado
                   Gente pra comprar fosfato.
                   Severino amigou como queria,
                   Nunca mais saiu do trilho,
                   E ainda noutro dia
                   Os dois tiveram um filho

                   Que a mãe jogou no mato.

domingo, 7 de maio de 2017

OS FLATOS

Para mostrar que nosso blog não vive somente de críticas – mas, também é cultura – vamos falar sobre a flatulência.
Vamos informar tudo o que você queria saber sobre a flatulência e não tinha coragem de, nem a quem, perguntar. O peido... bem, vamos chamá-lo de flato (do latim flatus, sopro), embora não sejam a mesma coisa. Há diferenças, mas deixa pra lá porque peido não é palavra que fica muito bem num blog tão requintado.
O flato é uma ventosidade anal que pode ser ruidosa ou não e geralmente tem um cheiro fétido. Não é possível eliminar o fedor. Nem adianta comer alimentos perfumados, mas saiba que quanto mais forte o fedor, mais saudável é a criatura que o expeliu. É verdade, pode pesquisar, está relacionado com a atividade mitocondrial que regula a vida das células. Já até andou circulando na NET, assim como tantas outras teorias absurdas compartilhada por oligofrênicos, que o fedor previne a incidência de câncer.

Tem origem nos gases que são ingeridos juntamente com a comida e, também, dos gases acumulados durante o processo de digestão e na decomposição dos resíduos orgânicos no intestino. Um desses processos é a fermentação de carboidratos por bactérias.
O mau cheiro dos flatos vem do sulfeto de hidrogênio e do enxofre livre na mistura. Quanto mais rica em enxofre for a dieta, mais flatos serão produzidos pelas bactérias no intestino e vão feder mais. Repolho, couve-flor, ovos cozidos, batata doce, são notórios por produzirem flatos fedidos e, muitas vezes, asfixiantes.
Embora sejam geralmente motivo de risos, os flatos são meras reações de processos internos de nosso organismo.
O interessante do mau cheiro flatulento é que não suportamos o alheio e até gostamos do nosso. A ciência ainda não sabe a causa dessa predileção.
O som dos flatos são causados pela vibração da abertura anal. Depende da velocidade na expulsão do gás e do diâmetro da abertura anal. Pelo volume do som, podemos medi-los como traques ou puns. Há também o do tipo metralhadora que é composto de vários flatos diminutos expelidos ininterruptamente. Contudo, a fetidez independe do som produzido.
Em média, uma pessoa pode produzir até 20 flatos diários, nem todos com uma sonoridade audível. Mesmo dormindo, todo ser vivo produz flatos.
Alguns soam como um despertador no meio da madrugada. Outros são capazes de produzir flatos até mesmo horas após a morte. Imagine um defunto peidando...
Mulheres produzem tantos ou mais flatos que os homens. As mulheres se envergonham disso, mas há homens que se orgulham e fazem questão de acionar uma espécie de amplificador anal para que todos ouçam os seus flatos. 
Uma mulher bonita, corpo bem feito, bem vestida, pode soltar à vontade seus flatos, em qualquer situação, pois ninguém nunca desconfia de pessoas com essas características. Desconfiam sempre dos gordos, dos velhos e de pessoas feias. 
O flato não tem nada a ver com o arroto. O arroto vem do estômago e pode vir acompanhado de resíduos estomacais; o flato é oriundo dos intestinos, tem uma diferente composição química e somente pode vir acompanhado de fezes líquidas.
É o chamado flato úmido que é desesperador quando estamos em público. Quem já passou por isso sabe como é triste ter as nádegas umedecidas por dejetos anais. O arroto geralmente tem um cheiro azedo e o flato tem um fedor nauseante característico que varia de pessoa para pessoa.
O cheiro do flato do rico é diferente do fedor do flato do pobre devido à alimentação. Notem que eu estabeleço uma distinção: cheiro do flato do rico e fedor do flato do pobre. Rico vive de dieta e não come – como nós simples mortais - repolho, ovo cozido, caranguejo, sopa de entulho nem prato feito de boteco. E só bebem “perfumarias”, não bebem cachaça.
Os gases que expelimos pelo ânus podem pegar fogo, produzindo chamas azuis e amarelas como as do fogão porque os flatos contêm metano e hidrogênio, facilmente inflamáveis. Mas, não tente fazer isso em casa. É muito perigoso, o fogo pode se introduzir em seu canal retal e causar estragos.
Esses gases que expelimos também são reconhecidamente capazes de destruir a camada de ozônio que protege o planeta e contribuem 20 vezes mais que o dióxido de carbono para o efeito estufa. Mas, você não pode evitá-los. Portanto, não se preocupe com isso, você já tem outros compromissos muito mais importantes com a ecologia.
Você pode, sim, tranquilamente adiar um flato. Você sabe que ele vem vindo, fecha o esfincter anal e ele volta para o intestino, aguardando uma ordem posterior. Você poderá soltá-lo depois em recinto e ocasião apropriados. Evite sempre soltá-los no elevador ou dentro do carro quando acompanhado de namorada nova. Também, pode evitar a sua ressonância controlando o esfincter anal para soltá-lo de mansinho, discretamente. Mas, cuidado, é preciso ter uma técnica profissional para fazê-lo. Já quebrei a cara, certa vez em uma reunião de trabalho, quando pensei que estava no total controle do som e, de repente, foi aquele PUM.
Aí está, portanto, tudo o que eu sei e que você gostaria de saber sobre o peido – ih! falei o nome dele – e não tinha coragem de perguntar. Ia me esquecendo, o Aurélio diz que flatulência também significa vaidade pretensiosa; bazófia, jactância. É, portanto, uma palavra bem adequada para qualificar quem se orgulha de seus peidos estrepitosos.